Autora: Liv Strömquist
Editora: Quadrinhos na Cia.
Gênero: HQ/Não Ficção
Ano: 2018
Páginas: 144
Nota:★★★★★
Sinopse: Por que as sociedades alimentaram uma relação tão esquizofrênica com a vagina ao longo dos séculos? Por que a menstruação é um tema apagado de nossa cultura quando costumava ser algo sagrado para os povos ancestrais? A origem do mundo escancara interditos e desafia mitos e tabus. Um livro genial, catártico e absolutamente necessário.
Se “o pessoal é político”, como dizia o slogan da segunda onda feminista, iniciada nos anos 1960, Liv Strömquist criou um livro radical. Com humor afiado, a artista sueca expõe as mais diversas tentativas de domar, castrar e padronizar o sexo feminino ao longo da história. Dos gregos antigos a Stieg Larsson, das mulheres da Idade da Pedra a Sigmund Freud, de Jean-Paul Sartre a John Harvey Kellogg (o inventor dos sucrilhos), da fábula da bela adormecida a deusas hindus, de livros de biologia ao rapper Dogge Doggelito, A origem do mundo esquadrinha nossa cultura e vai até o epicentro da construção social do sexo. Para Liv, culpabilizar o prazer é um dos mais efetivos instrumentos de dominação — graças à culpa, a maçã é venenosa e o paraíso mantém seus portões fechados. Uma crítica hilária, libertadora e instrutiva sobre o sexo feminino.
Resenha: A Origem do Mundo, da artista sueca Liv Strömquist, traz informações super relevantes acerca do universo feminino que até hoje sofre o impacto causado pelo machismo na sociedade. O interesse fora do comum do homem pelo corpo da mulher e sua forma absurda de estudá-lo, assim como as ideias completamente descabidas que eles tiveram para tentar dominar, impor padrões e justificar comportamentos ou características femininas, são expostos - e criticados - com um humor ácido e até de forma bastante radical. Embora a personagem criada para apresentar as questões levantadas seja irônica e até bem revoltada com tantos absurdos e atrocidades cometidas por "homens ilustríssimos" que eram considerados importantes em suas épocas, é impossível não se indignar junto com ela, pois justamente devido a esses verdadeiros embustes que meteram o bedelho onde não foram chamados, hoje o mundo gira em torno do pinto, que sempre é visto como um troféu, enquanto a vulva, que antigamente era visto como algo sagrado, passou a ser algo considerado sujo e digno de vergonha.
"A menstruação é nojenta e imunda, e por isso deve ser escondida" (absorvente sempre deve dar segurança e "frescor"). "A mulher que tem TPM é histérica, e por isso não pode conviver socialmente". "O sangue da menstruação drena a inteligência da mulher, e isso impede que elas se concentrem nos estudos". "Mulheres não deveriam trabalhar se tiverem que ser remuneradas, pois a menstruação causa oscilações no humor que interferem em seus rendimentos" (mas incrivelmente não interferem em nada pra cuidarem dos filhos e da casa em tempo integral, enquanto se atura um marido imbecil). "A cólica menstrual está diretamente ligada ao nariz, logo uma rinoplastia deveria resolver o problema com a dor". "Mulheres que só atingem orgasmo via clitóris, são frígidas". "Vaginas com protuberâncias 'estranhas' eram bruxas, e por isso deveriam ser queimadas na fogueira". "A clitoridectomia (a remoção cirúrgica do clitóris) é a cura para a depressão, dor de cabeça, histeria e 'desobediência', e medida importante e necessária a se tomar em caso de divórcio ou masturbação"! "É pecado a mulher sentir prazer". "A vagina não passa de um buraco oco a ser preenchido por um pênis". Essas são somente algumas das "sábias" afirmações despejadas na sociedade por, claro, homens, e que foram levadas a sério o bastante para impactar no comportamento humano dos dias atuais.
Nem no esgoto tais barbaridades deveriam ser despejadas... É pra matar qualquer mulher de desgosto...
O livro tem várias curiosidades e imagens históricas de várias épocas, e levanta questões que envolvem ciência e religião, mas sempre sob a perspectiva distorcida de homens, com intuito de construírem a base da sociedade às suas conveniências, ao mesmo tempo que inferiorizavam as mulheres, só por serem mulheres.
Assim, diante desta leitura rápida, cheia de ironias certeiras e bastante esclarecedora, podemos entender que o comportamento da sociedade atual não veio do nada. Esse comportamento teve uma origem criada por homens e para homens, e isso acabou fazendo parte da cultura por séculos a fio, e faz até hoje. São fatores que elevam o machismo e o patriarcado, e nunca favorecem as mulheres.
Posso dizer que só tenho que agradecer pelo feminismo estar cada vez ganhando mais forças e fazendo com que as mulheres se empoderem, se orientem mais buscando por informações de todo tipo, se aceitem como são (incluindo seus corpos), e o mais importante de tudo: lutando por igualdade de forma a impedir que homens continuem ditando todas as regras com sua "infinita sabedoria". Os tempos mudam, as pessoas evoluem, e graças a isso muita coisa mudou, mas muitos homens parecem estar presos no século IV até hoje. A Origem do Mundo é um livro, no mínimo, necessário.