A Livraria dos Finais Felizes - Katarina Bivald

10 de janeiro de 2019

Título: A Livraria dos Finais Felizes
Autora: Katarina Bivald
Editora: Suma de Letras
Gênero: Romance
Ano: 2016
Páginas: 336
Nota:★★★★☆
Sinopse: Sara tem 28 anos e nunca saiu da Suécia — a não ser através dos (vários) livros que lê. Quando sua amiga Amy, uma senhora com quem troca livros pelo correio há anos, a convida para visitá-la na cidade de Broken Wheel, Iowa, Sara decide se aventurar. Mas ao chegar lá, descobre que Amy faleceu. Sara se vê desacompanhada na casa da amiga, em uma cidade muito pequena, e começa a pensar que talvez esse não seja o tipo de férias que havia planejado. Com o tempo, Sara descobre que não está sozinha. Nessa cidade isolada e antiga, estão todas as pessoas que ela conheceu através das cartas da amiga: o pobre George, a destemida Grace, a certinha Caroline e Tom, o amado sobrinho de Amy. Logo Sara percebe que Broken Wheel precisa desesperadamente de alguma aventura, um pouquinho de autoajuda e talvez uma pitada de romance. Resumindo: a cidade precisa de uma livraria.

Resenha: Embora nunca tenham se encontrado, Sara e Amy são grandes amigas. Elas foram unidas pelo amor à leitura, e além de cartas, também trocam livros pelo correio. Sara tem vinte e oito anos e nunca sequer se imaginou fora da Suécia, e suas aventuras se concentravam nas viagens feitas através das histórias que tanto gosta de ler. Amy é uma senhora que mora na cidadezinha de Broken Wheel, Iowa, nos EUA.
Sara decide viajar para os EUA para conhecer a amiga, mas ao chegar lá, se depara com a trágica notícia do falecimento de Amy. Sara, então, decide ficar na casa de Amy e abrir uma pequena livraria naquela cidadezinha isolada de uma rua só, e acaba descobrindo que é possível encontrar histórias emocionantes fora das páginas...

Assim, vamos acompanhando não só o impacto que a nova - e única - livraria vai causar em Broken Wheel, mas também o envolvimento de Sara com a cidade e seus moradores, que ela inclusive já conhecia através das cartas de Amy.
Não posso negar que a escrita da autora é um tanto arrastada e cansativa, mas a história em si é totalmente mágica, e é impossível ler sem um sorriso no canto da boca, principalmente com tantas referências literárias. Aos poucos Sara vai se enturmando com o pessoal da cidade, e ela mesma se surpreende consigo mesma, já que na Suécia ela nunca se sentia parte de alguma coisa. Os livros acabam lhe dando um novo sentido para viver, como se ela tivesse recebido uma nova chance para recomeçar.

Um ponto que achei super legal nessa história foi a própria Amy, que mesmo tendo morrido continua viva através das cartas que enviou para Sara, e através da enorme quantidades de livros que deixou pra trás, e não posso negar que ela foi uma senhora adorável e incrível. A lembrança dela jamais seria apagada.
Os demais personagens também são bacanas, eu só senti falta de um pouco mais de aprofundamento em alguns deles pois suas histórias são bem interessantes e fiquei com aquele gostinho de quero mais.

A Livraria dos Finais Felizes é um livro encantador que fala sobre o amor aos livros, desde os clássicos aos contemporâneos, e como a leitura não só proporciona diversão e momentos inesquecíveis, mas também engrandece a alma de quem lê e muda suas vidas para sempre.

Sempre Vivemos no Castelo - Shirley Jackson

8 de janeiro de 2019

Título: Sempre Vivemos no Castelo
Autora: Shirley Jackson
Editora: Suma de Letras
Gênero: Mistério
Ano: 2017
Páginas: 200
Nota:★★★★☆
Sinopse: Merricat Blackwood vive com a irmã Constance e o tio Julian. Há algum tempo existiam sete membros na família Blackwood, até que uma dose fatal de arsênico colocada no pote de açúcar matou quase todos. Acusada e posteriormente inocentada pelas mortes, Constance volta para a casa da família, onde Merricat a protege da hostilidade dos habitantes da cidade. Os três vivem isolados e felizes, até que o primo Charles resolve fazer uma visita que quebra o frágil equilíbrio encontrado pelas irmãs Blakcwood. Merricat é a única que pressente o iminente perigo desse distúrbio, e fará o que for necessário para proteger Constance. Sempre vivemos no castelo leva o leitor a um labirinto sombrio de medo e suspense, um livro perturbador e perverso, onde o isolamento e a neurose são trabalhados com maestria por Shirley Jackson.

Resenha: Os Blackwood são uma família endinheirada e bem esquisita, e nunca foram bem vistos no vilarejo onde moram. Cochichos e fofocas sempre rodearam esta família peculiar, mas as coisas pioraram quando a filha mais velha, Constance, foi acusada de matar quase toda a família envenenada. Constance foi inocentada mais tarde, mas deixou de sair de casa, passou a sofrer de agorafobia, e quem ficou responsável por ir até a cidade para fazer compras da casa foi Merricat, a irmã de dezoito anos, já que Tio Julian não sai de casa por ser paraplégico e esclerosado. E toda semana, quando Merricat vai até a cidade para fazer compras ou visitar a biblioteca, ela ouve várias ofensas de todo tipo de gente maldosa que vive na cidade, e seu ódio é tanto que o mínimo que ela deseja para todos eles é a morte. Ela só quer viver feliz com seu gato, sua irmã e seu tio sem que nada nem ninguém atrapalhe.
Até que um dia, o primo Charles aparece na residência, quebrando aquele frágil equilíbrio que resistiu a tanta hostilidade, e ele logo começa a ditar ordens. Merricat, pressentindo o perigo e convencida de que ele está acabando com a alegria de todos, vai fazer qualquer coisa para defender a irmã.

A narrativa é feita em primeira pessoa pelo ponto de vista fantasioso, imaturo e nem um pouco confiável de Merricat. Embora ela tenha dezoito anos, a impressão que fica é que se trata de uma criança de cinco anos de idade contando o que está acontecendo sem que tenha um pingo de credibilidade.
Merricat é cheia de manias absurdas e irritantes, vive sonhando acordada, e seu único intuito é o de manter a harmonia na casa a qualquer custo.
Parte da narrativa é feita por tio Julian, que vai contar o que aconteceu com a família, mas as lembranças dele são tão confiáveis quanto as da protagonista. Assim vamos acompanhando a rotina da família que precisa ser mantida a qualquer custo, o quanto Merricat odeia e amaldiçoa cada morador do vilarejo, o quanto se preocupa com a irmã, suas desconfianças com a presença do primo Charles, suas simpatias e rituais de proteção para cuidar da casa e da família e afastar as outras pessoas de suas vidas, e a dúvida que todos tem: Quem matou os Blackwood?

Há alguns pontos questionáveis, como por exemplo, a reação das pessoas diante de algo feito por Merricat quando anteriormente ela só estava pensando em fazer algo, ou a ideia dela passar um tempo na biblioteca mas nunca estar lendo nada, ou até elementos sobrenaturais que parecem estar alí sem um sentido maior. Já o mistério que cerca a história, e os dramas que as meninas vivem por causa da tragédia e também por serem consideradas diferentes é, sim, interessante. Por esse ponto vemos um pouco do lado de quem se sente rejeitado e excluído da sociedade, por mais maluca que essa pessoa seja.

Como o livro é fininho, não é possível contar muito mais sem que spoilers sejam dados, mas posso dizer que a autora soube, sim, inserir boas doses de terror na história com intenção de causar incômodo e perturbação, mas a ideia do amor entre irmãs estar alí, fazendo com que elas tirem forças sabe-se lá de onde para cuidarem uma da outra já que não podem contar com mais ninguém, é simplesmente adorável. Até onde alguém vai para proteger e manter próximo quem se ama?
O fato dos personagens terem comportamentos estranhos, dificilmente vão conquistar a simpatia dos leitores, mas talvez a boa ideia de Shirley Jackson tenha sido exatamente essa, fugir de estereótipos de mocinhos e vilões para trazer personagens irritantemente interessantes.

Pra quem gosta de narrativas poéticas e diferentes, com toques de terror, mistério e humor negro, é leitura mais do que indicada.

Na Telinha - Tully

7 de janeiro de 2019

Título: Tully (Tully)
Distribuidora: Diamond Films
Elenco: Charlize Theron, Mackenzie Davis, Ron Livingston
Gênero: Drama
Ano: 2018
Duração: 1h 36min
Classificação: +14
Nota:★★
Sinopse: Marlo (Charlize Theron), mãe de três filhos, sendo um deles um recém-nascido, vive uma vida muito atarefada, e, certo dia, ganha de presente de seu irmão: uma babá para cuidar das crianças durante a noite. Antes um pouco hesitante, Marlo acaba se surpreendendo com Tully (Mackenzie Davis).

Marlo é uma mulher de quarenta anos, mãe de dois filhos e a espera do terceiro, não planejado. Esgotada pelo peso da maternidade e das tarefas domésticas, a exaustão está estampada em seu rosto como uma tatuagem. Marlo tem que lidar com os problemas escolares e o comportamento diferente do filho, lidar com os julgamentos alheios sobre suas escolhas, e ainda precisa contornar todas as situações de casa com muita paciência e jogo de cintura enquanto seu marido trabalha.
Depois do nascimento da bebê, a rotina difícil só piora e as noites passadas sem dormir deixam Marlo a beira do colapso. Ela não tem qualquer perspectiva de vida que não seja esta e se sente numa prisão. Até que seu irmão dá a ideia de presenteá-la com uma babá noturna, assim ela poderia ter um tempinho para si e dormir, enquanto a babá tomava conta de Mia durante a noite.


Inicialmente Marlo não gosta muito da ideia pois não poderia confiar a filha de poucos dias aos cuidados de uma estranha, mas, seu desespero chega num nível tão crítico, que ela acaba cedendo.
Quando Tully, a babá, chega, Marlo fica frente a frente com uma jovem feliz, divertida, sorridente, descolada e cheia de vida, que cuida da bebê - e da mãe também -, lhe tirando muito do peso que ela carregava nas costas sozinha. A partir daí, sua vida começa a mudar, pois Marlo acaba percebendo que elas tem muitas coisas em comum, mas também muitas diferenças, e vai redescobrindo um lado que ela tinha mas que havia esquecido, enquanto pensa em todas as escolhas que fez na vida para ter chegado onde chegou.


Não dá pra falar muito sobre o enredo e sobre a relação sincera que Marlo e Tully desenvolvem sem dar spoilers, mas posso dizer que Tully é aquele tipo de filme que mostra um lado tão real e cru da maternidade, com alguns toques de bom humor e ironia pra não deixá-lo tão pesado, que é impossível não se identificar, sentir empatia pela protagonista ou, como foi meu caso, chorar litros por ter me identificado com a situação dela. Logo nos primeiros minutos do filme eu já me enxerguei na pele de Marlo e soltei um "socorro, essa mulher sou eu!": exausta, deprimida, estressada, com uma olheira que bate no pescoço, desleixada, impaciente, acima do peso e sem vontade nenhuma de viver. Ela só está ali por que não tem outra escolha já que os filhos não só dependem dela, como a consomem totalmente, mas ninguém enxerga ou valoriza nada do que ela faz e do que abriu mão para ser mãe (a ponto de ter se transformado em outra pessoa), e nem se preocupa em estender a mão pra ajudar. Ela nem sabe o que é ter ajuda, já se acostumou a ficar com a carga pesada nas costas, por isso fica relutante com a ideia do irmão de aceitar a babá. Logo após o nascimento da terceira filha, ela já está num nível tão crítico de cansaço que ela não consegue sequer sentir felicidade pela chegada do novo bebê.
- Bom, você me parece uma ótima mãe.
- Ótimas mães organizam festas e noites de cassino. Fazem cupcakes que parecem Minions. Coisas que eu estou cansada demais para fazer. Sinceramente, até me vestir parece cansativo. Eu abro o armário e penso "Eu não acabei de fazer isso?"
O marido, Drew, no fundo, não é uma má pessoa, ele até acredita que está ajudando sendo "pai", mas em casa ele é desatento, sua única preocupação é jogar vídeo game e dormir tranquilo, não liga pra vida sexual inexistente que tem com a mulher, acha que ela não está fazendo nada além do que cumprir com seu papel de mãe e dona de casa, e ainda acha que ela,"aparentemente", está ótima. Ele olha pra ela todos os dias, mas não a vê realmente. Drew claramente representa a grande maioria dos maridos e pais por esse mundo: insensíveis, despreocupados, folgados e sem o menor senso.


Uma curiosidade que descobri sobre o filme é que a atriz Charlize Theron engordou 23kg para interpretar a personagem, e posso dizer que foi um dos melhores papeis que ela já fez, tanto que está concorrendo ao Oscar. Ela mostra com fidelidade o quanto é desgastante lidar com tantas cobranças e com a rotina de ser mãe quando não se tem ajuda, assim como deixa evidente a sensação de estar sozinha mesmo cercada de gente.
Os diálogos são sensíveis e afiados, muitos dele sugerem bem o que o desfecho da história reserva, e muito do que é dito pode ser levado pra vida.
- ...Garotas não se recuperam.
- Se recuperam, sim.
- Não, não nos recuperamos. Podemos parecer que estamos melhores, mas se olhar de perto, estamos cobertas de corretivo.
- Porra.
Se você é mãe, assista. Se você é pai, assista. Se você acha que a vida de uma mãe é fácil, assista. O realismo acerca da pressão e os sacrifícios, tanto físicos quanto mentais, sofridos pela mãe é tanto, que é impossível não sentir empatia, não se comover, e não ficar com os olhos cheios de lágrimas.


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Fogo & Sangue - George R.R. Martin

6 de janeiro de 2019

Título: Fogo & Sangue - Fogo & Sangue #1
Autor: George R.R. Martin
Editora: Suma de Letras
Gênero: Alta Fantasia
Ano: 2018
Páginas: 598
Nota:★★★★☆
Sinopse: Séculos antes dos eventos de A guerra dos tronos, a Casa Targaryen – única família de senhores dos dragões a sobreviver à Destruição de Valíria – tomou residência em Pedra do Dragão. A história de Fogo e sangue começa com o lendário Aegon, o Conquistador, criador do Trono de Ferro, e segue narrando as gerações de Targaryen que lutaram para manter o assento, até a guerra civil que quase destruiu sua dinastia.
O que realmente aconteceu durante a Dança dos Dragões? Por que era tão perigoso visitar Valíria depois da Destruição? Qual é a origem dos três ovos de dragão que chegaram a Daenerys? Essas são algumas das questões respondidas neste livro essencial, relatadas por um sábio meistre da Cidadela.
Ricamente ilustrado com mais de oitenta imagens em preto e branco assinadas pelo artista Dough Wheatley, Fogo e sangue dará aos leitores uma nova e completa visão da fascinante história de Westeros – um livro imperdível para os fãs do autor.

Resenha: Pra quem acompanha, a história dos livros (e da série de televisão), são eventos que se passam trezentos anos depois dos acontecimentos de Fogo & Sangue, primeiro livro de uma duologia (?) que funciona como prequel de A Guerra dos Tronos, contando fatos históricos e relatos narrados por meistres, septões e outras testemunhas acerca dos governos dos reis dragões antigos, cada um com seu ponto de vista, se iniciando por Aegon, até Aegon III, seu sexto sucessor, que sentou-se no Trono de Ferro cento e trinta anos após Aegon e suas irmãs terem chegado em Westeros. Aegon, o Conquistador, foi o responsável por unir os Sete Reinos, mudando a história de Westeros para sempre.

Assim, por quase trezentos anos, a Casa Targaryen, tão amada quanto temida pelo povo, dominou os Sete Reinos e ocupou o tão famoso e cobiçado Trono de Ferro, e vamos acompanhar a história das guerras que foram travadas para que o primeiro rei dragão tomasse o trono. São histórias voltadas à Casa Targaryen e seus governantes, desde os mais cruéis até os mais loucos.

Narrado em terceira pessoa, a leitura me lembrou muito O Silmarillion, de Tolkien, pois é um livro com intuito de fornecer dados históricos ricamente detalhados para uma maior compreensão das origens dos personagens e da situação a que chegou Westeros em as Crônicas de Gelo e Fogo. Vários capítulos trazem informações contidas em outras obras desse universo, como O Mundo de Gelo e Fogo, Mulheres Perigosas, o Príncipe de Westeros e afins, então não é uma leitura inteiramente nova. Quem consome todas as obras desse universo, principalmente aqueles que bolam teorias mirabolantes, provavelmente vai ler já sabendo de muita coisa do que foi narrado aqui, e por outro lado, quem lê ocasionalmente, vai encontrar informações úteis, mas não com a mesma narrativa fluída da série principal. Vários pontos são um pouco cansativos, por mais interessante que a construção de mundo e os feitos bons ou ruins dos grandes personagens sejam, pois não há um enredo propriamente dito, mas sim a cronologia completa dos fatos e nomes estranhos de personagens, que costumam ser iguais preservando esses nomes através das gerações.




O projeto gráfico do livro é super caprichado. Embora as letras sejam pequenas e a margem um pouco espremida dando aquela impressão de blocos maciços de texto, o que já é algo comum em qualquer obra do autor devido ao tamanho, o livro é cheio de ilustrações lindas e super realistas, e isso torna a obra ainda mais rica.

Não posso negar que foi muito gratificante acompanhar a jornada do Rei Jaehaerys I. Ele subiu ao trono em seus quatorze anos e governou os Sete Reinos por cinquenta anos juntamente com Alysanne, sua amada esposa - e irmã. Sim, é costume que os Targaryen praticassem incesto para manter a linhagem pura, o que explica suas características físicas (Daenerys quem o diga). Não digo que não seja algo repugnante, mas deixando a leitura fluir e tendo noção de que as coisas eram assim naquela época por um determinado motivo, a gente acaba se acostumando. A história de amor deles também é muito bonita, principalmente quando eles chegam na Pedra do Dragão junto com seus dragões, e fica bem evidente que embora Aegon tenha conquistado as terras, foi o casal Jaehaerys e Alysanne que moldaram e tornaram os Sete Reinos mais civilizado.

Enfim, recomendo o livro para os fãs mais aficionados e que realmente gostem de acompanhar todos os detalhes que envolvem esse universo fantástico - e com dragões maravilhosos - criado pelo autor. É uma leitura pra todos aqueles que tem interesse em aprofundar seus conhecimentos acerca do mundo e da história, com ação, magia, intriga e vários relatos bem emocionantes.

Ah, e não posso deixar de falar que ler qualquer coisa escrita por George R.R. Martin é preciso desapego total de qualquer personagem que seja, não importa quem é, de onde veio, o que faz, pra onde vai, como vive... Preparem os corações.


Na Telinha - WiFi Ralph

5 de janeiro de 2019

Título: WiFi Ralph: Quebrando a Internet (Ralph Breaks the Internet)
Produção: Disney
Elenco: Sarah Silverman, John C. Reilly, Gal Gadot, Taraji P. Henson, Jack McBrayer, Jane Lynch
Gênero: Animação/Fantasia/Aventura
Ano: 2018
Duração: 1h 56min
Classificação: Livre
Nota:
Sinopse: Ralph, o mais famoso vilão dos videogames, e Vanellope, sua companheira atrapalhada, iniciam mais uma arriscada aventura. Após a gloriosa vitória no Fliperama Litwak, a dupla viaja para a world wide web, no universo expansivo e desconhecido da internet. Dessa vez, a missão é achar uma peça reserva para salvar o videogame Corrida Doce, de Vanellope. Para isso, eles contam com a ajuda dos "cidadãos da Internet" e de Yess, a alma por trás do "Buzzztube", um famoso website que dita tendências.

Seis anos depois do lançamento de Detona Ralph, a dupla imbatível, Ralph e Vanellope, está junta de novo para mais uma aventura que promete. Só não sei se cumpriu de forma muito satisfatória...


Cansada da mesmice e da falta de novos desafios no Corrida Doce, Vanellope von Schweetz não está muito feliz em seu jogo e seu descontentamento fica bem evidente para Ralph. E ele, como bom e - literalmente - grande amigo, não hesita em fazer qualquer coisa para deixa-la feliz.
Quando Ralph tem a ideia de construir uma nova pista de corrida para a amiga explorar, Vanellope, empolgada com o caminho desconhecido, segue por ela com seu carrinho de corrida, mas vai contra os comandos da jogadora do game. Quando a garota tenta forçar e retomar o controle do jogo, Vanellope não cede, insiste no caminho alternativo, e o volante da máquina é quebrado por acidente, o que impossibilita sua jogabilidade. Como a peça da máquina é antiga e rara, ela só pode ser encontrada na internet, mais especificamente no eBay, mas seu preço nada atrativo faz com que o Sr. Litwak, o dono do fliperama, considere a ideia de aposentar a máquina. Agora, o Corrida Doce corre o risco de ser desligado e seus jogadores "despejados", e para salva-lo, Ralph e Vanellope vão embarcar numa aventura dentro da rede para conseguirem a peça. E, como nada é de graça, eles vão passar por poucas e boas para conseguirem arranjar uma pequena fortuna para pagarem por ela, depois de darem um lance absurdo no eBay.




As referência à internet, assim como o que ela oferece de legal e o que tem de nocivo são abordadas com superficialidade, e a impressão é que as inúmeras referências e os famosos easter eggs estão ali com intuito de camuflar o roteiro fraco, pois, quando aparecem, conseguem arrancar mais satisfação do que as demais cenas, o que pra mim foi uma pena, pois Detona Ralph, seu antecessor, foi uma animação maravilhosa que entrou na minha lista de desenhos favoritos, e não só me divertiu horrores, mas, também, me deu aquela sensação imensa de nostalgia por causa dos games antigos e clássicos que fizeram parte da minha infância e adolescência.

O universo online é um mundo a parte, repleto de luzes, tecnologia e prédios que representam os aplicativos, as redes sociais e vários sites famosos como o Google, o Twitter, o FacebookYoutubeeBayAmazonSnapchat e muito mais. Há também a ideia de que boa parte da internet é movida somente a vídeos de gatíneos fofos, tutoriais de maquiagem ou outra bobagem qualquer. As referências aos spams são bem boladas e tem um papel importante para o desenrolar da trama.




Boa parte da história acontece no BuzzzTube, uma plataforma de videos comandada pela personagem Yesss, que funciona como o Youtube. Lá as pessoas ganham dinheiro e fama se um vídeo postado se tornar viral, e é isso que a dupla vai usar para tentar levantar a grana que precisam para comprar a bendita peça para consertar a máquina, depois da tentativa de ganhar dinheiro fácil na internet falhar.

Achei que esse elemento seria mais bem trabalhado, principalmente com relação ao desespero por likes e seguidores que as pessoas tem, ou como são afetadas pelos comentários maldosos dos haters, mas foi outro ponto super vazio, até mesmo por que Ralph já está acostumado com a rejeição há anos e anos. Um ponto bem bacana é sobre os anúncios irritantes na plataforma, pois em busca de mais visitas e likes/coraçõezinhos para os videos malucos de Ralph, Vanellope acaba indo parar no Oh My Disney, onde vemos as famosas cenas divulgadas em que ela encontra todas as princesas clássicas da Disney.


Ainda podemos contar com uma piadinha sobre a princesa Merida, que embora faça parte do time das princesas da Disney, não fala o mesmo idioma das demais e ninguém entende o que ela fala. A justificativa? Valente é uma animação da Pixar, e as animações das demais princesas, não. Mas ela marca presença lindamente com sua cabeleira ruiva, desgrenhada e maravilhosa. Merida = ♥. A participação delas é pequena, mas valeu a pena acompanhar.

O longa começa de uma forma e sugere um determinado caminho, mas da metade pra lá as coisas mudam totalmente de cenário, e é como se um desenho novo estivesse sendo oferecido ao espectador. A viagem para se conseguir a peça acaba ficando de lado e a aventura se transforma numa jornada de autoconhecimento, em que a vontade de Vanellope, de seguir o sonho de poder ter a chance de enfrentar desafios novos e reais, é constantemente boicotada por Ralph, que não quer perder a amiga de jeito nenhum e acha que mantê-la sempre por perto é o certo a se fazer. Ele tem um bom coração mas é um completo troglodita, e por isso não tem a menor consciência do mal que está fazendo à amiga quando tenta prendê-la. Isso acaba mostrando um pouco do que é uma amizade tóxica, mas foi abordado de uma forma tão rasa que passa longe de ser o auge da animação.

Os personagens carismáticos que apareceram no primeiro filme, como Felix Jr. e a Sargento Calhoun tem participações tão curtas que a presença deles não faz a menor diferença, e os novos personagens que foram inseridos, com exceção de Shank (dublada por Gal Gadot), são totalmente esquecíveis. Shank é um excelente modelo de personagem feminina e que consegue trazer novas camadas a franquia, tendo seu devido espaço se impondo como personalidade forte e única, e sem roubar a cena dos protagonistas. Ela também vem de um game de corrida, porém bem mais perigoso do que o Corrida Doce, e logo fica evidente sua afinidade com Vanellope.



No mais, WiFi Ralph não é uma total perda de tempo. O visual é super colorido e de encher os olhos e tem, sim, várias cenas divertidas e mensagens bacanas a serem passadas sobre seguir os sonhos, deixar quem se ama livre e tudo mais (e também tem cena pós créditos). As crianças com certeza vão amar as aventuras vividas pela dupla e o quanto são carismáticos e divertidos, mas pra mim foi a animação mais fraquinha que a Disney já lançou até hoje, e a sensação de decepção por ter esperado seis anos para algo que não superou as minhas expectativas é inegável.

O Menino no Alto da Montanha - John Boyne

3 de janeiro de 2019

Título: O Menino no Alto da Montanha
Autor: John Boyne
Editora: Seguinte
Gênero: Drama/Juvenil
Ano: 2016
Páginas: 230
Nota:★★★★★
Sinopse: Quando Pierrot fica órfão, precisa ir embora de sua casa em Paris para começar uma nova vida com sua tia Beatrix, governanta de um casarão no topo das montanhas alemãs. Mas essa não é uma época qualquer: estamos em 1935, e a Segunda Guerra Mundial se aproxima. E esse não é um casarão qualquer, mas a casa de Adolf Hitler. Logo Pierrot se torna um dos protegidos do Führer e se junta à Juventude Hitlerista. O novo mundo que se abre ao garoto é cada vez mais perigoso, repleto de medo, segredos e traição. E pode ser que Pierrot nunca consiga escapar.

Resenha: Pierrot é um garotinho de sete anos que mora com os pais e seu cãozinho D'Artagnan na França. Seu melhor amigo é um garoto judeu, surdo e mudo, chamado Anshel. Quando os pais de Pierrot morrem, o garoto é enviado à um orfanato, mas não demora até que ele vá para a Alemanha para ficar sob os cuidados de sua tia Beatrix. Ela é governanta numa casa que fica no alto de uma montanh, que pertence a um homem muito poderoso que todos chamam de Füher. Logo que chega na casa, Pierrot passa a ser chamado de Pieter.

Assim, em pleno início da Segunda Guerra Mundial, vamos acompanhando a história de Pieter, e como o convívio com o líder dos nazistas foi responsável pela perda da inocência e mudança do garoto, que agora almeja se tornar um homem tão poderoso e respeitável quanto seu líder e os oficiais que transitam por aquela casa.

Meu primeiro contato com o autor foi através do livro O Menino do Pijama Listrado quando precisei ler a obra para um trabalho na escola. O impacto foi grande o bastante para tormar a leitura inesquecível, e posso dizer que com O Menino no Alto da Montanha as coisas não foram muito diferentes: uma história que se passa durante a Segunda Guerra enquanto acompanhamos as consequências dela sobre uma criança que não sabia bem o que estava acontecendo e foi, inevitavelmente, envolvida e doutrinada numa ideologia cruel e assassina.

Pierrot era um garotinho adorável, mas sua inocência o deixava vulnerável a qualquer tipo de influência. E naquela casa, a figura de autoridade a quem ele tinha como exemplo era ninguém menos do que Hitler. O garoto vai crescendo, iludido pelo discurso nazista, e deixa suas origens e sua bondade para trás quando acredita que a busca pelo poder é o que fará dele um grande homem.

O livro é bem curtinho, mas mostra com muita realidade uma boa parte do que foi a Juventude Hitlerista e como esses jovens foram influenciados e levados a acreditar nesse partido genocida como algo bom. Mesmo que não sejam posturas aceitáveis, é possível compreender como foram manipulados, e por que a doutrinação é algo tão perigoso, principalmente quando é feita por alguém que sabe usar as palavras certas nos momentos mais oportunos para atingir os pontos fracos das pessoas e convencê-las de seus ideais sombrios.

O Menino no Alto da Montanha é uma leitura amarga, mas traz lições sobre como o medo e a solidão podem ser sentimentos que deixam um vazio propício a ser preenchido com promessas perigosas, mas também o quanto reconhecer os próprios erros e os perdão são coisas que libertam a alma.