A Rainha das Trevas - Anne Bishop

30 de janeiro de 2019

Título: A Rainha das Trevas - As Joias Negras #3
Autora: Anne Bishop
Editora: Arqueiro
Gênero: Dark Fantasy
Ano: 2017
Páginas: 512
Nota:★★★★★
Sinopse: Incapazes de atingir Jaenelle, a jovem Rainha, os membros corruptos dos Sangue fazem um jogo perverso de diplomacia e mentira, procurando destruir aqueles que sempre deram tudo por ela, e revertem as culpas para o seu tutor, Saetan, que passa a ser visto como a maior das ameaças ao poder instituído. Com Jaenelle como Rainha, a chacina do povo e a profanação das terras irá terminar. Porém, onde se fechou uma porta poderá abrir-se uma janela, e mesmo que Jaenelle possa contar com os seus aliados, talvez não seja suficiente: só um terrível sacrifício poderá salvar o coração de Kaeleer.

Resenha: Vários anos se passaram desde o final do segundo livro, Jeanelle agora é a jovem Rainha de Ebon Askavi e protege as terras de Kaeleer contra as sacerdotisas de Terreille, Hekatah e Dorothea, que espalham crueldade e caos por onde passam. Jeanelle se encontra numa situação um tanto delicada, pois a guerra é iminente e o rastro de destruição e morte é praticamente inevitável.

Não dá pra falar muito da história sem soltar spoilers, então, pra não estragar a surpresa, preferi falar das minhas impressões gerais. O livro é dividido em duas partes e a narrativa parte dos pontos de vistas dos personagens secundários, onde a visão deles mostra detalhes sobre a protagonista. Isso limita o leitor a saber detalhes sobre Jaenelle que os outros sabem, mas achei esse formato bem interessante. Assim como os volumes anteriores, a história traz um enredo complexo acerca de uma sociedade comandada por uma corte de mulheres que têm escravos sexuais, o que rende algumas cenas bem bizarras, mas, ainda assim, dentro do contexto daquela sociedade, o que torna a prática compreensível.

A primeira parte fica destinada ao desenvolvimento dos personagens ao estarem reunidos a fim de combater o mal, e isso acaba sendo bastante interessante, principalmente porque Daemon retorna do Reino Distorcido e finalmente poderá reencontrar Saetan, seu pai, Lucivar, seu irmão, e claro, Jaenelle, sua amada. Ele também não vai medir esforços para se vingar de Dorothea.
Um ponto bacana pra ser comentado é sobre o romance entre Jaenelle e Daemon. Ele foi destinado a ser o amante dela desde o princípio, mas Jaenelle não se importa com nada relacionado a sexo depois do trauma que ela sofreu há vários anos e que a marcou ainda no primeiro livro. Mas como ele a ama, ele não vai desistir de lutar por ela, para que ela se interesse de verdade por algo que está reservado aos dois, e a forma como esse relacionamento foi construído e desenvolvido acaba sendo um ponto bem interessante de se acompanhar.

A segunda parte já vai abordar os detalhes da dita guerra, e como Jaenelle precisará tomar decisões que irão interferir diretamente nesse problema, e independente do caminho que ela seguir, nenhum deles ficará livre da necessidade de um grande sacrifício.

Os detalhes são feitos de uma forma bem minuciosa, e em alguns pontos penso que a autora pecou pelo excesso, mas o enredo acaba sendo tão envolvente e cheio de sensualidade, que é possível relevar, principalmente se levarmos em consideração que há um guia onde podemos consultar informações sobre as Joias e a hierarquia das personagens. Mesmo com tantas informações de fácil acesso, a leitura deste livro, e dos anteriores da trilogia, requer uma atenção a mais devido a complexidade e aos inúmeros detalhes, mas depois que a gente se acostuma com o estilo de narrativa da autora, é impossível não continuar preso a esse universo incrível.

A edição do livro é super caprichada, e a capa vazada dispensa comentários, de tão linda.
Pra quem procura por uma trilogia fantástica e bastante original, que fala sobre vingança, traições, lealdade, amor e muitas emoções, é leitura mais do que indicada.


Wishlist #63 - Funko Pop - Despicable Me

28 de janeiro de 2019

Embora não seja da Disney, Meu Malvado Favorito é uma animação muito bacana que trouxe personagens super cativantes e inesquecíveis. O vilão Gru acabou conquistando o coração da galera quando mostrou que pode ser bonzinho com o devido empurrãozinho, e nem preciso falar da caçulinha Agnes, que com seus ataques de fofura fez com que todo mundo quisesse apertá-la ou ter um unicórnio tão fofinho.
A Funko lançou alguns dos personagens das continuações da primeira animação, mas como o foco recaiu sobre os Minions, a wishlist dessa saga ficou bem reduzida, já que não sou muito fãs dos amarelinhos e achei os popinhos deles bem judiados. Só lamento por não ter saído os pops das irmãs da Agnes pra compor o trio da confusão, e lamento também que o preço deles já não ser tão camarada quanto gostaria...


Na Telinha - As Memórias de Marnie

27 de janeiro de 2019

Título: A Viagem de Chihiro (Omoide no Marnie)
Produção: Studio Ghibli
Elenco: Kasumi Arimura, Nanako Matsushima, Susumu Terajima
Gênero: Animação/Drama
Ano: 2015
Duração: 1h 44min
Classificação: Livre
Nota:★★
Sinopse: Anna é uma menina de 12 anos, filha de pais adotivos, sempre muito solitária e não exatamente feliz. Um belo dia, em um castelo numa ilha isolada, ela conhece Marnie. A menina loira de vestido branco se torna a grande e única amiga de Anna, mas ela descobrirá que Marnie não é exatamente quem parece ser.

Anna é uma garotinha de doze anos que foi criada por pais adotivos depois que perdeu os pais e a avó. Ela sofre de asma e tem muitos problemas de comunicação a ponto de se isolar, evitando se socializar com outras crianças.


Depois de sofrer um ataque asmático muito forte e ter a saúde abalada, ela é enviada para a casa dos tios no interior para ter um contato maior com a natureza e respirar os novos ares do campo. Até que Anna se depara com uma mansão dos sonhos, e lá ela conhece Marnie, uma garotinha que parece ser tão solitária quanto ela. Logo elas criam um laço muito forte de amizade e cumplicidade, mas há um mistério que paira em volta de Marnie e da mansão, e, aos poucos, Anna vai encontrar respostas.


Como eu adorei a Viagem de Chihiro, resolvi pesquisar sobre as demais animações do Studio Ghibli, e As Memórias de Marnie foi o que mais me chamou a atenção. Assim como o primeiro, este, embora não tenha elementos fantasiosos, vai mostrar a jornada de uma garotinha que está em busca de algo que vá preencher um enorme vazio dentro de si mesma.


A solidão, assim como o sentimento de exclusão, que Anna sente é algo bem triste, e através de seu comportamento percebemos o quanto a menina precisa de ajuda para não definhar. Ela passa os dias desenhando e observando outras crianças, mas se fechou numa bolha individual impedindo que outras pessoas se aproximem, porém ela ainda não se deu conta de que a falta de aproximação dos outros é pelo fato de ela mesma não dar nenhuma brecha para que isso aconteça. Mesmo que seus pais tenham morrido, ela os culpa pelo abandono e que por isso ela é tão diferente. Quando ela descobre que, por ser adotada, sua mãe recebe auxílio do governo para ajudar com seu sustento, aí é que ela se sente pior, como se ela fosse um enorme fardo que, além de dar despesas, só tivesse sido adotada para que a mãe recebesse esse benefício, coisa que não é verdade.


Porém, ao ir para o interior conviver com os tios, com a natureza, e principalmente ao conhecer Marnie, aos poucos, ela começa a se libertar de todas as amarras que estavam a sufocando. Sua saúde começa a melhorar e a amizade sincera com a garotinha começa a preencher todas as suas lacunas. Anna percebe que Marnie também é uma criança muito sozinha, seus pais estão sempre muito ocupados e nunca lhe dão atenção, mas embora ela também seja sozinha, Marnie tenta encarar tudo com otimismo, um grande sorriso no rosto e um brilho no olhar, e esse comportamento acaba contagiando Anna, fazendo com que ela se solte cada vez mais desencadeando inclusive um sentimento de apego, como se ela precisasse de Marnie para seguir em frente e ser ela mesma. Mas dúvidas sobre a existência de Marnie começam a surgir... Ela realmente existe, ou se trata de uma amiga imaginária que Anna criou para superar os próprios problemas e fugir da solidão?


O roteiro em si é bastante simples e a trama se desenvolve de forma muito lenta, o que pode tornar a animação um pouco cansativa de se acompanhar em alguns pontos, mas ainda assim encanta pelo cenário deslumbrante e pela delicadeza com que trata os dramas das meninas com a devida realidade. O final, pra mim, parecia ser previsível, mas seguiu por um caminho que além de explicar as origens de Anna, conseguiu surpreender de forma bastante satisfatória e emocionante.

As Memórias de Marnie é um filme cheio de sensibilidade que aborda temas delicados como abandono, culpa, solidão e outros traumas, mas mostra que a autodescoberta e a superação através do amor, mesmo que pareça ser clichê, além de passar uma mensagem muito bonita, consegue tocar nossos corações e fazer com que torçamos para que tudo fique bem.

Stalker - Tarryn Fisher

25 de janeiro de 2019

Título: Stalker
Autora: Tarryn Fisher
Editora: Faro Editorial
Gênero: Suspense/Mistério
Ano: 2018
Páginas: 256
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Deprimida após sofrer um aborto espontâneo, Fig Coxbury passa seu tempo em praças observando as crianças que poderiam ser a sua filha. Até que uma menininha brincando com a mãe desperta uma obsessão. Logo, Fig se vê mudando de casa e de bairro não por necessidade, mas porque a casa vizinha oferece tudo o que ela mais deseja: a filha, o marido e a vida que pertence a outra pessoa.

Resenha: Depois de sofrer um aborto, Fig se tornou uma mulher extremamente perturbada que passou a acreditar que sua filha reencarnaria em alguma criança próxima. Assim, ela passa seu tempo em parques e praças observando crianças com intuito de encontrar sua filha em uma delas. Mercy, filha de Jolene, chama a atenção de Fig, que começa observando e tirando algumas fotos da menina, mas logo ela se muda para a casa ao lado da de Jolene para ficar mais próxima de sua família. A aproximação gera uma amizade, e não demora para que Fig copie tudo que Jolene faz na intenção de fazer melhor, pois segundo ela, Jolene é uma Mãe Desnaturada que não merece a vida e a família que tem. Jolene não enxerga o problema e acredita que o comportamento de Fig foi desencadeado pela perda da filha e pela solidão, e que ela só precisa ser compreendida. Até que Darius, psicólogo e marido apaixonado de Jolene, percebe que existe algo de errado: Fig está obcecada não só por sua esposa, mas pela vida que ela construiu.

O livro é dividido em três partes destinadas ao ponto de vista de cada personagem, Fig, Jolene e Darius. Num primeiro momento conhecemos Fig e como ela se tornou tão obsessiva, porém as descrições e seu desenvolvimento se estendem mais do que o necessário, tornando esta parte longa, arrastada e muito repetitiva em alguns pontos.
Jolene é uma mulher que, embora se esforce, é um tanto ingênua por preferir enxergar o lado que ela acredita ser bom nas pessoas. Por mais que ela seja alertada sobre o comportamento questionável e perigoso de Fig, ela sempre encontra justificativas, se nega a enxergar o problema e continua dando a mão para a nova "amiga" sempre que necessário.
Já o ponto de vista de Darius é o mais interessante e esclarecedor, talvez por ele ser psicólogo e ter conseguido identificar melhor as características doentias de Fig. Ela inclusive acredita que ele seja o homem e marido perfeito que Jolene não valoriza, mas pelos olhos de Darius percebemos que ele é um homem que também tem, seus defeitos.

A história foi baseada em acontecimentos reais da vida da própria autora, o que torna tudo ainda mais assustador. A trama em si é interessante e, mesmo que com vários problemas de construção e desenvolvimento, mostra um lado bastante perturbador do que é ser uma sociopata, assim como ser perseguida por uma stalker, porém existem muitos pontos confusos e sem as devidas explicações que só fazem milhões de pontos de interrogação pairar sobre nossas cabeças. Um deles é sobre o marido de Fig, que embora exista, é totalmente esquecido, aparecendo num pequeno momento por questão de conveniência.
A sensação que tive com essa leitura foi a de acompanhar fragmentos de uma situação problemática por três pontos de vista diferentes, como se a história estivesse sendo contada faltando pedaços e a obrigação do leitor é montar esse quebra-cabeças maluco. O final também é totalmente WTF, surreal, e a impressão é de estar ali só pra deixar aquela sensação de amargo na boca.

Enfim, este foi um livro ok, com mais falhas do que méritos, mas ainda assim vale a leitura pelo tema delicado. Stalker é uma história interessante, porém mal executada, sobre o desejo de se ter o que não deveria estar ao alcance, e que consegue mostrar um pouco da fraqueza humana, da sociopatia, da psicopatia, e que a mesma história pode ter a mesma versão, só depende do ponto de vista de quem vê.


A Livraria dos Finais Felizes - Katarina Bivald

10 de janeiro de 2019

Título: A Livraria dos Finais Felizes
Autora: Katarina Bivald
Editora: Suma de Letras
Gênero: Romance
Ano: 2016
Páginas: 336
Nota:★★★★☆
Sinopse: Sara tem 28 anos e nunca saiu da Suécia — a não ser através dos (vários) livros que lê. Quando sua amiga Amy, uma senhora com quem troca livros pelo correio há anos, a convida para visitá-la na cidade de Broken Wheel, Iowa, Sara decide se aventurar. Mas ao chegar lá, descobre que Amy faleceu. Sara se vê desacompanhada na casa da amiga, em uma cidade muito pequena, e começa a pensar que talvez esse não seja o tipo de férias que havia planejado. Com o tempo, Sara descobre que não está sozinha. Nessa cidade isolada e antiga, estão todas as pessoas que ela conheceu através das cartas da amiga: o pobre George, a destemida Grace, a certinha Caroline e Tom, o amado sobrinho de Amy. Logo Sara percebe que Broken Wheel precisa desesperadamente de alguma aventura, um pouquinho de autoajuda e talvez uma pitada de romance. Resumindo: a cidade precisa de uma livraria.

Resenha: Embora nunca tenham se encontrado, Sara e Amy são grandes amigas. Elas foram unidas pelo amor à leitura, e além de cartas, também trocam livros pelo correio. Sara tem vinte e oito anos e nunca sequer se imaginou fora da Suécia, e suas aventuras se concentravam nas viagens feitas através das histórias que tanto gosta de ler. Amy é uma senhora que mora na cidadezinha de Broken Wheel, Iowa, nos EUA.
Sara decide viajar para os EUA para conhecer a amiga, mas ao chegar lá, se depara com a trágica notícia do falecimento de Amy. Sara, então, decide ficar na casa de Amy e abrir uma pequena livraria naquela cidadezinha isolada de uma rua só, e acaba descobrindo que é possível encontrar histórias emocionantes fora das páginas...

Assim, vamos acompanhando não só o impacto que a nova - e única - livraria vai causar em Broken Wheel, mas também o envolvimento de Sara com a cidade e seus moradores, que ela inclusive já conhecia através das cartas de Amy.
Não posso negar que a escrita da autora é um tanto arrastada e cansativa, mas a história em si é totalmente mágica, e é impossível ler sem um sorriso no canto da boca, principalmente com tantas referências literárias. Aos poucos Sara vai se enturmando com o pessoal da cidade, e ela mesma se surpreende consigo mesma, já que na Suécia ela nunca se sentia parte de alguma coisa. Os livros acabam lhe dando um novo sentido para viver, como se ela tivesse recebido uma nova chance para recomeçar.

Um ponto que achei super legal nessa história foi a própria Amy, que mesmo tendo morrido continua viva através das cartas que enviou para Sara, e através da enorme quantidades de livros que deixou pra trás, e não posso negar que ela foi uma senhora adorável e incrível. A lembrança dela jamais seria apagada.
Os demais personagens também são bacanas, eu só senti falta de um pouco mais de aprofundamento em alguns deles pois suas histórias são bem interessantes e fiquei com aquele gostinho de quero mais.

A Livraria dos Finais Felizes é um livro encantador que fala sobre o amor aos livros, desde os clássicos aos contemporâneos, e como a leitura não só proporciona diversão e momentos inesquecíveis, mas também engrandece a alma de quem lê e muda suas vidas para sempre.

Sempre Vivemos no Castelo - Shirley Jackson

8 de janeiro de 2019

Título: Sempre Vivemos no Castelo
Autora: Shirley Jackson
Editora: Suma de Letras
Gênero: Mistério
Ano: 2017
Páginas: 200
Nota:★★★★☆
Sinopse: Merricat Blackwood vive com a irmã Constance e o tio Julian. Há algum tempo existiam sete membros na família Blackwood, até que uma dose fatal de arsênico colocada no pote de açúcar matou quase todos. Acusada e posteriormente inocentada pelas mortes, Constance volta para a casa da família, onde Merricat a protege da hostilidade dos habitantes da cidade. Os três vivem isolados e felizes, até que o primo Charles resolve fazer uma visita que quebra o frágil equilíbrio encontrado pelas irmãs Blakcwood. Merricat é a única que pressente o iminente perigo desse distúrbio, e fará o que for necessário para proteger Constance. Sempre vivemos no castelo leva o leitor a um labirinto sombrio de medo e suspense, um livro perturbador e perverso, onde o isolamento e a neurose são trabalhados com maestria por Shirley Jackson.

Resenha: Os Blackwood são uma família endinheirada e bem esquisita, e nunca foram bem vistos no vilarejo onde moram. Cochichos e fofocas sempre rodearam esta família peculiar, mas as coisas pioraram quando a filha mais velha, Constance, foi acusada de matar quase toda a família envenenada. Constance foi inocentada mais tarde, mas deixou de sair de casa, passou a sofrer de agorafobia, e quem ficou responsável por ir até a cidade para fazer compras da casa foi Merricat, a irmã de dezoito anos, já que Tio Julian não sai de casa por ser paraplégico e esclerosado. E toda semana, quando Merricat vai até a cidade para fazer compras ou visitar a biblioteca, ela ouve várias ofensas de todo tipo de gente maldosa que vive na cidade, e seu ódio é tanto que o mínimo que ela deseja para todos eles é a morte. Ela só quer viver feliz com seu gato, sua irmã e seu tio sem que nada nem ninguém atrapalhe.
Até que um dia, o primo Charles aparece na residência, quebrando aquele frágil equilíbrio que resistiu a tanta hostilidade, e ele logo começa a ditar ordens. Merricat, pressentindo o perigo e convencida de que ele está acabando com a alegria de todos, vai fazer qualquer coisa para defender a irmã.

A narrativa é feita em primeira pessoa pelo ponto de vista fantasioso, imaturo e nem um pouco confiável de Merricat. Embora ela tenha dezoito anos, a impressão que fica é que se trata de uma criança de cinco anos de idade contando o que está acontecendo sem que tenha um pingo de credibilidade.
Merricat é cheia de manias absurdas e irritantes, vive sonhando acordada, e seu único intuito é o de manter a harmonia na casa a qualquer custo.
Parte da narrativa é feita por tio Julian, que vai contar o que aconteceu com a família, mas as lembranças dele são tão confiáveis quanto as da protagonista. Assim vamos acompanhando a rotina da família que precisa ser mantida a qualquer custo, o quanto Merricat odeia e amaldiçoa cada morador do vilarejo, o quanto se preocupa com a irmã, suas desconfianças com a presença do primo Charles, suas simpatias e rituais de proteção para cuidar da casa e da família e afastar as outras pessoas de suas vidas, e a dúvida que todos tem: Quem matou os Blackwood?

Há alguns pontos questionáveis, como por exemplo, a reação das pessoas diante de algo feito por Merricat quando anteriormente ela só estava pensando em fazer algo, ou a ideia dela passar um tempo na biblioteca mas nunca estar lendo nada, ou até elementos sobrenaturais que parecem estar alí sem um sentido maior. Já o mistério que cerca a história, e os dramas que as meninas vivem por causa da tragédia e também por serem consideradas diferentes é, sim, interessante. Por esse ponto vemos um pouco do lado de quem se sente rejeitado e excluído da sociedade, por mais maluca que essa pessoa seja.

Como o livro é fininho, não é possível contar muito mais sem que spoilers sejam dados, mas posso dizer que a autora soube, sim, inserir boas doses de terror na história com intenção de causar incômodo e perturbação, mas a ideia do amor entre irmãs estar alí, fazendo com que elas tirem forças sabe-se lá de onde para cuidarem uma da outra já que não podem contar com mais ninguém, é simplesmente adorável. Até onde alguém vai para proteger e manter próximo quem se ama?
O fato dos personagens terem comportamentos estranhos, dificilmente vão conquistar a simpatia dos leitores, mas talvez a boa ideia de Shirley Jackson tenha sido exatamente essa, fugir de estereótipos de mocinhos e vilões para trazer personagens irritantemente interessantes.

Pra quem gosta de narrativas poéticas e diferentes, com toques de terror, mistério e humor negro, é leitura mais do que indicada.