A Espada do Destino - Andrzej Sapkowski

10 de fevereiro de 2020

Título: A Espada do Destino - The Witcher/A Saga do Bruxo Geralt de Rívia #2
Autor: Andrzej Sapkowski
Editora: Martins Fontes
Gênero: Fantasia
Ano: 2012
Páginas: 380
Nota:★★★★★
Sinopse: Geralt de Rívia é um bruxo. Um feiticeiro cheio de astúcia. Um matador impiedoso. Um assassino de sangue-frio, treinado desde a infância para caçar e eliminar monstros. Seu único objetivo: destruir as criaturas do mal que assolam o mundo. Um mundo fantástico criado por Sapkowski com claras influências da mitologia eslava. Um mundo em que nem todos os que parecem monstros são maus e nem todos os que parecem anjos são bons.

Resenha: A Espada do Destino, segundo livro da Saga do Bruxo Geralt de Rívia, continua apresentando alguns contos de algumas das aventuras tão hilárias quanto perigosas de Geralt em companhia de Jaskier, da feiticeira Yennefer, e alguns outros que ele encontra pelo caminho.
Assim como no primeiro volume, continuamos a acompanhar Geralt em seu trabalho de caçar e matar monstros para se sustentar através de seis contos não que possuem uma ligação direta entre si e nem ocorrem numa sequência cronológica exata, mas ao perceber as sutis referências que os próprios personagens fazem ao observarem algo ou comentarem alguma coisa, é possível começar a se situar na linha do tempo desordenada criada pelo autor de forma proposital.

Os contos vão desde a caça pelo lendário dragão dourado, a aproximação com sereias e dríades e a confusão que isso desencadeia, até o conto que traça o destino do bruxão quando ele, enfim, encontra a princesa Cirilla. E em meio a tudo isso, acompanhamos os dilemas morais de Geralt com relação ao seu trabalho e aos seus sentimentos por Yen, que ele ainda não sabe lidar muito bem (principalmente quando ele se depara com um outro personagem que também gosta dela e quer disputar seu amor num duelo contra Geralt), sabemos um pouco mais da personalidade de Yennefer e como ela é um mulherão que não tem paciência com idiotices e como ela é o total oposto de Geralt (o que talvez explique bem a química e a atração quase explosiva entre eles), assim como as patifarias e as inconveniências hilárias de Jaskier, que é o maior alívio cômico dessa história.
É muito interessante ver que Geralt, embora seja conhecido por ser um bruxo cuja característica principal é ser desprovido de sentimentos, se porta como humano de bom coração, mesmo que às vezes ele faça escolhas um tanto questionáveis devido a situação em que ele se encontra (que nem sempre é favorável a ele), e se pega em conflitos internos sobre o que sente e porquê.

Alguns personagens aparecem de forma aleatória, mas depois percebemos que eles não apareceram por acaso e que lá na frente têm (ou terão) grande importância nessa saga. E como sempre, são bem construídos e conseguem ser cativantes ou odiosos na medida certa dentro do contexto.

O autor manteve o mesmo estilo de narrativa, com várias descrições detalhadas, alguns floreios exagerados, algumas referências a contos de fadas clássicos (apresentados de uma forma bem mais sombria), mas sempre deixando tudo em sintonia, dando seu toque de muito bom humor, tornando a leitura fluída, instigante e impossível de largar.

Os dois primeiros livros da série terem sido escritos em forma de contos fizeram com que o autor pudesse mostrar, de forma criativa, algumas das aventuras pontuais de Geralt a fim de contextualizar a trama e ampliar o universo maravilhoso e intrigante que ele criou. A partir do próximo volume a história segue de forma linear e mal posso esperar.

Enfim, Capivaras - Luisa Geisler

8 de fevereiro de 2020

Título: Enfim, Capivaras
Autora: Luisa Geisler
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Literatura nacional
Ano: 2019
Páginas: 176
Nota:★★★★☆
Sinopse: A cidade no interior de Minas Gerais para onde Vanessa se mudou é o tipo de lugar onde anunciam os horários do cinema e os obituários com o mesmo carro de som. Nada de muito interessante acontece por lá, a não ser para Binho, que, segundo ele mesmo, tem várias namoradas e conhece um monte de cantores sertanejos famosos.
A verdade é que Binho é um mentiroso contumaz e agora passou dos limites: inventou que tem uma capivara de estimação. Cansados das histórias cada vez mais mirabolantes do garoto, Vanessa se junta aos amigos – Léo, Nick e Zé Luís – para desmascará-lo. E eles estão decididos a ir até as últimas consequências.
Narrado durante as doze horas de uma noite regada a álcool, salgadinhos, segredos e romances mal resolvidos, Enfim, capivaras explora, através de diferentes pontos de vista, os relacionamentos entre um grupo de adolescentes em busca de uma capivara – ou muito mais do que isso.

Resenha: Depois do divórcio dos pais, Vanessa se mudou com a mãe de Porto Alegre para a Chapada do Pytuna, uma cidadezinha ensolarada no cerrado mineiro com 30 mil habitantes, dessas que todo mundo conhece e sabe da vida de todo mundo. Na escola, Vanessa fez amizade com Léo, Nick, Zé Luis e Dênis, vulgo Binho, mas não era uma relação de melhores amigos ever. Como a cidade é pequena, não tem nada de muito novo pra se ver ou se fazer, mas isso muda quando a turma se une contra Binho, que nunca perdeu a oportunidade de contar várias mentiras pra se aparecer e fingir ser melhor que os outros. A nova do menino foi ter dito que tem uma capivara de estimação, mas quando os outros colegas foram até a casa dele pra ver a tal capivara com os próprios olhos, Binho disse que ela fugiu, foi roubada! Mas eles não iriam desistir tão fácil, pois estavam determinados a desmascarar o farsante nem que tivessem que ir até o fim do mundo, e partem numa viagem de carro, sem carteira de habilitação nem nada, munidos de salgadinhos, balas de goma, energético e álcool, em busca da bendita capivara mato adentro.

Narrado em primeira pessoa e com capítulos que se alternam entre os pontos de vista dos personagens (com exceção de Binho), a autora conduziu a história de uma forma bem leve e divertida nesse período de doze horas de busca, criando uma ambientação interiorana cheia de detalhes, além de captar a essência da adolescência com vários dos seus dilemas de um jeito muito bacana, o que fez eu me identificar com cada personagem, por mais que eles sejam diferentes entre si, levantando questões importantes de serem abordadas sobre família, amizade, segredos, sexualidade, status social, confiança, lealdade, repressão, romances mal resolvidos, autoaceitação, mentira, trabalho, oportunismo e afins.

A forma da narrativa, e até da diagramação do livro em si, é legal, pois cada capítulo se inicia com uma lista de coisas que vão ser abordadas por algum dos personagens, e funciona como uma contagem regressiva das 12 horas até o final. O primeiro capítulo Vanessa lista 12 coisas que levaram a turma à casa de Dênis, o segundo capítulo lista 11 coisas que fizeram Zé Luis a entrar nessa confusão, e por aí vai...

Confesso que algumas coisinhas me incomodaram um pouco, como a falta de um desfecho para alguns personagens, ou um trecho específico - e infeliz - num dos capítulos de Nick onde a autora usa o autismo como forma de ofensa gratuita, o que foi bem desnecessário, já que o contexto não justifica tal "adjetivo" como abuso verbal dos pais: "uns comentários da mãe sobre 'ficar socada no quarto que nem uma autista imbecil'" - pág. 35. Enfim, achei pesado...

Vanessa está passou por maus bocados em sua vida depois da separação dos pais e da mudança de cidade, que nunca é uma coisa fácil, mas se esforçou para se adaptar e se enturmar com o pessoal para não ser a estranha da turma. Não acho que eu deva contar mais detalhes sobre ela pra evitar spoilers.
Léo se aproveita do status de sua família endinheirada na cidade para fazer o que quer usando o nome do pai pra tudo, até pra escapar de enrascadas. Um exemplo é que com dezesseis anos ele dirige por aí como se fosse "intocável". Embora seja o garoto riquinho da turma, no fundo ele tem seus problemas que, de certa forma, justificam parte do seu comportamento e mostram que as aparências podem enganar muito.
Nick é uma garota que, apesar de ter nascido na cidade, não sente que pertence aquele lugar. Ela é diferente das garotas (e de qualquer um) da sua idade, é agressiva como forma de defesa, gosta de escrever fanfics, gosta de animes, mas também enfrenta alguns problemas dessa fase.
Zé Luis vem de uma família mais humilde e aprendeu desde cedo a ser justo com todos. Sua mãe é uma das empregadas na casa da família de Léo. Ele é um garoto bondoso e gentil, mas que também enfrenta alguns dilemas, inclusive sobre sua amizade com Léo já que o amigo é o "patrão".
Binho é um caso perdido, e sua mania de inventar tudo quanto há e o comportamento que ele tem quando parece estar encurralado é irritante de um tanto que não dá nem pra medir, mas também rende alguns momentos engraçados. São situações impossíveis que fazem com que a gente torça pra que tudo fique bem, pra que o mentiroso pare de ser ridículo e fale a verdade pra acabar com essa história logo.

Dessa forma, a história não se trata só da busca louca e engraçada por uma suposta capivara, mas sim de uma busca pelo autoconhecimento onde cada um pode encontrar a si mesmo, e que vai mexer com nossas emoções.

Na Telinha - Anne with an "E" (1ª Temporada)

7 de fevereiro de 2020

Título: Anne with an "E"
Temporada: 1 | Episódios: 7
Elenco: Amybeth McNulty, R.H. Thomson, Geraldine James, Dalila Bela, Lucas Jade Zumann, Aymeric Jett Montaz
Gênero: Drama/Romance
Ano: 2017
Duração: 50min
Classificação: +12
Nota:★★★★★
Sinopse: Depois de treze anos sofrendo no sistema de assistência social, a orfã Anne é mandada para morar com uma solteirona e seu irmão. Munida de sua imaginação e de seu intelecto, a pequena Anne vai transformar a vida de sua família adotiva e da cidade que lhe abrigou, lutando pela sua aceitação e pelo seu lugar no mundo.

Baseada no romance Anne of Green Gables, de Lucy Maud Montgomery, a série se passa na vila fictícia de Avonlea, situada na Ilha de Príncipe Eduardo, uma província no Canadá, no final do século XIX, e acompanha a vida da orfã Anne Shirley, uma garotinha sonhadora, muito falante, e dona de um vocabulário invejável pra idade que tem.


No século XIX, era comum as crianças trabalharem desde bem pequenas, e muitas delas, principalmente as de famílias mais pobres, eram vistas pelos pais como um verdadeiro fardo do qual tinham que se livrar o quanto antes, e para quem era órfão, a situação era ainda pior. Numa sociedade onde homens e mulheres têm papéis definidos desde o nascimento, qualquer tentativa de fugir desses padrões é vista com preconceito e desdém.

Nesse cenário, várias famílias já adotaram a pobre Anne, mas em vez dela ser recebida com amor e tratada com carinho, tinha que trabalhar duro para "agradecer" o favor de ter sido adotada, e por ser órfã, o desprezo com que sempre foi tratada acabou lhe causando alguns traumas, e fazendo com que ela aprendesse e tivesse contato com algumas coisas que uma criança jamais deveria saber. Diante disso, Anne escolheu usar a imaginação como válvula de escape para lidar com essa dura realidade, então ela sempre se imagina sendo uma mulher forte e corajosa que, embora passe por vários obstáculos, consegue vencer as adversidades para se tornar uma grande heroína. Ela inclusive adora ler, e seu livro favorito de onde tira várias citações memoráveis é Jane Eyre, de Charlotte Brontë.


Tudo começa quando os irmãos Marilla e Matthew Cuthbert, já idosos, decidem adotar um menino para ajudar com os afazeres da fazenda, mas quando Matthew vai buscar a criança, se depara com Anne na estação de trem e a leva para Green Gable. Porém, por estar esperando um menino, Marilla, decepcionada, não tem outra reação a não ser querer resolver esse equívoco devolvendo a menina para o orfanato. Tendo sido rejeitada outra vez, Anne desaba e perde as esperanças de ter um família acolhedora onde ela pudesse ser feliz, mas Marilla não tem intenção de deixá-la na mesma situação de antes e acaba lhe dando uma chance, mas ela teria que provar ser merecedora de ficar.
Embora Matthew já tivesse a aceitado e ficado encantado com seu jeito peculiar de ser, não seria uma tarefa fácil pra Anne conquistar Marilla, que sempre demonstra ser uma fortaleza de gelo. Anne não é perfeita. Ela é irritante, não para de falar um minuto, suas falas e atitudes são exageradas e floreadas a ponto de serem cafonas, e ela parece ser incapaz de cativar as pessoas, mas tudo é proposital e compreensível.


Os episódios trazem algumas cenas com flashbacks do passado de Anne, mostrando o quanto sua vida foi difícil ao trabalhar para algumas famílias, ou o que acontecia em sua estadia no orfanato, contextualizando, assim, algumas de suas reações frente a atitudes preconceituosas, humilhantes, lamentáveis e revoltantes com que adultos e crianças a tratam com frequência. Apesar de tristes e impactantes, esses flashbacks não destoam da série e nem tiram sua leveza, só colaboram ainda mais pra nos deixar emocionados.


Quando Anne começa a ir pra escola, ela percebe que seu comportamento não é aceito pelos colegas e pelo professor, um homem odioso que parece existir somente pra descontar suas frustrações nas crianças. Ela sofre bullying por ser órfã, por ser ruiva e ter sardas, e constantemente ela fala que se sente feia e seu maior sonho é ser bonita. Mesmo que ela consiga fazer amizade com Diana, que mora na fazenda vizinha e vive tentando amenizar as ofensas das outras meninas contra Anne, ela se sente excluída, deslocada, e não sabe o que fazer pra se aproximar das outras crianças que vivem rindo ou debochando dela. Quando ela conhece Gilbert, um garoto da escola que a defende de várias humilhações, ela começa a se afastar dele porque uma das meninas da escola sonha em se casar com ele um dia (???). Anne passa a evitar o garoto para não ter problemas com as outras meninas, mas por aí a gente já sabe que eles vão se aproximar mais cedo ou mais tarde... Gilbert é fofo, não trata ninguém mal e nem gosta de injustiças. Onde os outros enxergam uma garota feia e sem modos, ele enxerga uma menina inteligente e adorável.


Seu apoio seria os Cuthbert, sua família, mas Marilla, sempre tão dura, não tem paciência para as "ladainhas" da garota. E medida que Marilla vai conhecendo Anne mais a fundo, ela vai amolecendo e o amor pela garota fica evidente a ponto de ela passar a questionar seu papel como mulher na sociedade. Se antes ela era conhecida como a solteirona que dedica a vida a casa e ao irmão, agora ela é mãe e tem alguém a quem proteger e servir de exemplo.
Matthew é mais paciente e tolerante com os dilemas de Anne, o problema com ele é a questão dele já estar velho, aparentando ter alguma doença grave, e sua preocupação é não dar conta de ajudar a manter a família.

Talvez o único ponto estranho da série é a forma como ela acaba. Por passar de uma forma tão sensível e lúdica temas tão pesados, o esperado para o final é uma cena bonita em família ou coisa do tipo, mas o gancho negativo representando alguma ameaça e causando a "necessidade" de uma continuação, não combinou muito bem.


Apesar da vida de Anne não ter sido fácil e ela ainda passar por várias provações com uma sociedade cujo preconceito é enraizado e a visão de mundo é tão limitada, a série tem um clima mágico e consegue abordar com sensibilidade temas como identidade, aceitação e esperança de uma forma leve, emocionante e gostosa de assistir. Anne with an E é uma série sensível, com um cenário inspirador e com uma linguagem bastante rica. Se você gosta de histórias de época que abordam os desafios que uma garotinha tem que enfrentar na vida para encontrar seu lugar no mundo, recomendo muito.

Wishlist #85 - Funko Pop - Ralph Breaks the Internet

6 de fevereiro de 2020

Já faz um tempinho que estão no mercado, mas com o lançamento no início de 2019 da animação WiFi Ralph: Quebrando a Internet, a sequência do nostálgico Detona Ralph, é claro que a Funko não ia deixar de reproduzir novos modelos. Os pops da primeira wave já estão na minha lista, principalmente dos vilões, mas confesso que nunca achei o trio principal bonito. Mas depois que a dona Funko fez personagens a altura, eu vou ter que ser sincera em dizer que, embora eu ainda queira ter os pops do Rei Doce (que custa os olhos da própria cara) e do Turbo, os outros já ficaram de fora da lista pra serem substituídos por esses fofildos mais recentes, que convenhamos, são muito mais bonitos. Personagens secundários não vão fazer parte dos pops que quero ter na coleção, nem os exclusivos, mas vou deixar na foto pra mostrar quais são os pops desse set. Quem me interessa mesmo é a Vanellope, o Ralph e o Conserta Félix (e a Taffyta, que também é uma gracinha).


Crepúsculo - Meg Cabot

5 de fevereiro de 2020

Título: Crepúsculo - A Mediadora #6
Autora: Meg Cabot
Editora: Galera Record
Gênero: Fantasia/Jovem adulto
Ano: 2006
Páginas: 240
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Desta vez é vida ou morte. Suzannah já se acostumou com os fantasmas em sua vida e é muito aterrorizante ter o destino dos fantasmas em mãos, podendo alterar o curso da história. E tudo ficou pior depois que ela descobriu que Paul também sabe como fazer isso. E ele adoraria evitar o assassinato de Jesse, impedindo-o de virar fantasma e lhe garantindo uma vida tranquila, finalmente... Isso significaria que Jesse e Suzannah jamais se conheceriam. A mediadora está diante da decisão mais importante da sua vida: deixar o único cara que já amou voltar para seu próprio tempo, impedindo assim sua morte... ou ser egoísta e mantê-lo a seu lado como um fantasma. O que Jesse escolheria: viver sem Suzannah ou morrer para amá-la?

Resenha: Nesse sexto volume da série A Mediadora, Suzannah Simon descobriu que seu dom vai além de somente ser capaz de ver fantasmas e ajuda-los a irem para a luz, e a ideia de que os mediadores, de forma limitada, podem se deslocar pelo espaço e tempo para controlarem alguns acontecimentos passados a fim de alterarem o futuro é assustadora. E não só pelo fato de que essa viagem pode ser prejudicial para o destino das pessoas, mas para os próprios mediadores que ficam com a saúde em risco. No caso de Suze, isso é um poder que a deixa apavorada, não por ela, pois ela jamais faria nada pra prejudicar ninguém, mas por Paul que, obcecado por Suze e inflado de ciúmes de Jesse, não desistiu e continua disposto a fazer qualquer coisa pra ter Suzannah ao seu lado (mesmo contra a vontade dela???), incluindo mudar os fatos do passado para impedir o assassinato de Jesse, evitando assim que ele vire fantasma e deixe de existir na realidade atual, trazendo consequências desastrosas. Se Jesse tivesse vivido sua vida tranquila, ele não teria morrido daquela forma e nem ficado preso alí, logo não iria conhecer Suze...
Suze fica num embate bastante dificil: ela ama Jesse de todo o coração, mas diante da possibilidade dele ter de volta sua vida plena e feliz, ela perderia seu amor... E agora? Manter Jesse como fantasma ao seu lado, ou deixá-lo voltar 150 anos atrás e perdê-lo de vez?

Narrado em primeira pessoa, o livro mantém o padrão de bom humor de sempre mas, dessa vez, ele traz uma Suzannah mais madura por conta de tudo o que viveu e aprendeu, mas principalmente pelo problema que ela tem em mãos. É impossível não sentir empatia por ela e pelo sofrimento pelo qual ela está passando por conta do seu amor por Jesse. Dessa forma, o foco fica sobre sua escolha, de deixar Jesse partir ou de impedir Paul de seguir com seu plano maquiavélico. Paul é o típico mauricinho mimado que sempre teve tudo o que quis, e por não saber lidar com a rejeição de Suze, ele começa a fazer de tudo pra atrapalhar esse amor sem considerar que ele é a última pessoa que ela escolheria pra ficar. A gente sabe que Paul é um enorme obstáculo como o "vilão" da série, e sabe que nesse tipo de história gente que nem ele tem exatamente o que merece guardado pro final (não exatamente como eu imaginei, mas valeu a pena), mas chega a ser meio assustador saber que caras como Paul vão além da fantasia e da ficção e são um verdadeiro perigo para as garotas. Nunca se sabe do que são capazes e até onde vão para conseguirem o que querem, e azar o que a outra pessoa quer.

Enfim, eu gostei muito de ter acompanhado a série num geral, ri horrores das maluquices de Suze e da forma "carinhosa" como ela trata os fantasmas, os amigos de Suze e o padre Dom são ótimos, a família de Suze é impagável e única, me emocionei muito com o relacionamento impossível com Jesse e o quanto ele é um sonho de rapaz, mas justamente por ser impossível, eu esperava outro final, qualquer um que não fosse tão previsível e descarado. Não me entra na cabeça a autora ter feito o que fez e eu juro que esperava por um desfecho digno, mesmo que fosse algo a la Titanic, triste e trágico. E justamente por ter acontecido o óbvio, tão emocionante, bonitinho e fofo, com direito a participação especial do pai de Suze, eu vou contrariar todas as expectativas e dizer que não curti.

Sei que a maioria das fãs da série torciam pela união de Suze e Jesse, sei que quem lê os livros da Meg Cabot espera por finais tipicamente felizes que aquecem o coração, mas sabe quando a gente tem certeza como vai acabar mas espera que aconteça o contrário pra surpresa ser real? Pois é... Era o que eu esperava aqui. Continuo sendo fã da série, é uma das melhores da autora, sem dúvidas, e tenho certeza que a maioria das apaixonadas por Jesse vai adorar o destino super conveniente dado aos dois.


Serotonina - Michel Houellebecq

4 de fevereiro de 2020

Título: Serotonina
Autor: Michel Houellebecq
Editora: Alfaguara
Gênero: Romance
Ano: 2019
Páginas: 240
Nota:★★★★★
Sinopse: Florent-Claude Labrouste tem 46 anos, detesta seu nome e toma antidepressivos que liberam serotonina e causam três efeitos colaterais: náusea, falta de libido e impotência.
Seu périplo começa em Almeria (Espanha), segue por Paris e depois pela Normandia, onde os agricultores estão em luta. A França está afundando, a União Europeia está afundando, a vida de Florent-Claude está afundando. O sexo é uma catástrofe. A cultura não é mais uma tabua de salvação – nem mesmo Proust ou Thomas Mann são capazes de salvá-lo.
Nesse contexto, Florent-Claude descobre vídeos pornográficos assombrosos em que sua atual companheira aparece, e isso é a gota d'água para que ele deixe o trabalho e passe a viver em um hotel. Perambula pela cidade, visita bares, restaurantes e supermercados. Repassa suas relações amorosas, marcadas sempre pelo desastre, que transitam entre o cômico e o patético. Ao se reencontrar com um velho amigo aristocrata, que parecia ter uma vida perfeita, mas que foi abandonado pela esposa e se vê falido, Florent-Claude aprende a manejar uma arma de fogo – que vai mudar sua vida para sempre.
Em um espiral de problemas, Florent-Claude se torna um hábil analista da contemporaneidade, de seus anseios, inseguranças e problemas. Sua vida, um reflexo do desinteresse pelo mundo, será o espelho das mais cruéis agruras da vida.

Resenha: A Serotonina é um o hormônio que atua no cérebro regulando o humor, apetite, sono, frequência cardíaca, temperatura corporal, libido, sensibilidade, funções intelectuais, e também tem papel na coagulação sanguínea e na saúde óssea. O baixo nível desse hormônio no organismo pode desencadear não só irritabilidade, insônia e algumas compulsões alimentares e emocionais, mas também ansiedade e depressão de forma que, de acordo com a gravidade do caso, é necessário a introdução de medicamentos para que o corpo volte a funcionar em equilíbrio.

Dito isto, Serotonina foi o título do mais recente livro escrito pelo autor francês Michel Houellebecq, publicado pelo selo Alfaguara da Editora Cia das Letras, que conta a história de Florent-Claude Labrouste, um homem que odeia seu nome de quarenta e seis anos que após descobrir estar sendo traído pela namorada, embora não tenha ficado totalmente surpreso, talvez por saber que seu relacionamento falido beirava o fracasso, decide sumir sem dar satisfações pra ninguém. Sem amigos e sem família, ele pede demissão no trabalho inventando que recebeu alguma proposta de emprego melhor, e vai embora levando consigo apenas uma única mala, mas, mesmo que ele pudesse viver confortavelmente com a herança deixada pelos falecidos pais, as coisas não acontecem da forma como deveria ser, pois Florent está num abismo de depressão pela falta da bendita serotonina, que fez com que ele tenha perdido o interesse pela vida.

Narrado em primeira pessoa, cheio de ironia, acidez e sem pudor algum, Serotonina faz uma análise sobre a existência do ser e da sociedade, mas não uma existência repleta de alegria e plenitude, mas uma existência a beira de um colapso. Florent não é um exemplo de cidadão politicamente correto. Ele se preocupa com status social, gosta de aparecer com coisas caras, faz julgamentos alheios como se fosse o dono da razão e não sabe lidar com relacionamentos amorosos. Seus pensamentos subversivos não causam somente a reflexão nos leitores sobre quem ele é ou como se sente, mas sobre a própria ruína da sociedade moderna que cada vez mais parece estar se afundando e dependendo de comprimidos a perder de vista para ajudá-los a empurrarem suas vidas quando a desgraça parece cercar a todos. Desemprego, caos econômico, a qualidade de vida despencando, e outros inúmeros fatores que desestabilizam o ser humano, que busca sobreviver antes de desistir, enquanto a vida está em ruínas.

A medida que a leitura avança, as vidas cheias de frustrações de outros personagens, e a própria vida de Florent, começam a ser mais aprofundadas, o que agrava a situação do personagem que está cercado de desgraças. Depender de antidepressivos que aumentam os níveis de serotonina no organismo, o "Captorix" (acredito que o verdadeiro protagonista da história), o deixa prisioneiro. A ideia de esperança, de luz no fim do túnel pra tirá-lo dessa situação parece muito distante, e é impossível não sentir aquela angústia pela trama ser desprovida de alegria, por saber que a depressão levou Florent a desistir, e que ter partido era só um meio dele reconhecer e constatar que a vida já não reservava mais nada pra ele. Carregado de arrependimentos, colecionando fracassos, frustrado amorosa e sexualmente, e totalmente deprimido, Florent é um retrato ácido, caótico e real do homem contemporâneo numa sociedade à deriva, que com certeza vai fazer com que vários leitores se identifiquem.

Serotonina é uma leitura insana, mas tão desconfortável quanto necessária sobre as consequências desencadeadas pela falta desse hormônio, e sobre a dependência da "pílula da felicidade".