Autora: J.K. Rowling
Ilustrações: Jim Kay
Editora: Rocco
Gênero: Fantasia/Infanto juvenil
Ano: 2016
Páginas: 256
Nota:★★★★★♥
Sinopse: Conheça Harry, filho de Tiago e Lilian Potter, feiticeiros que foram assassinados por um poderosíssimo bruxo, quando ele ainda era um bebê. Com isso, o menino acaba sendo levado para a casa dos tios que nada tinham a ver com o sobrenatural pelo contrário. Até os 10 anos, Harry foi uma espécie de gata borralheira: maltratado pelos tios, herdava roupas velhas do primo gorducho, tinha óculos remendados e era tratado como um estorvo. No dia de seu aniversário de 11 anos, entretanto, ele parece deslizar por um buraco sem fundo, como o de Alice no país das maravilhas, que o conduz a um mundo mágico. Descobre sua verdadeira história e seu destino: ser um aprendiz de feiticeiro até o dia em que terá que enfrentar a pior força do mal, o homem que assassinou seus pais, o terrível Lorde das Trevas.
O menino de olhos verdes, magricela e desengonçado, tão habituado à rejeição, descobre, também, que é um herói no universo dos magos. Potter fica sabendo que é a única pessoa a ter sobrevivido a um ataque do tal bruxo do mal e essa é a causa da marca em forma de raio que ele carrega na testa. Ele não é um garoto qualquer, ele sequer é um feiticeiro qualquer; ele é Harry Potter, símbolo de poder, resistência e um líder natural entre os sobrenaturais.
Resenha: Harry Potter é um garoto de dez anos, magricela, com olhos verdes, uma cabeleira desgrenhada e uma cicatriz em forma de raio na testa. Ele foi criado pelos tios preconceituosos e intragáveis, os Dursleys, num armário debaixo da escada, depois de ter ficado órfão quando ainda era apenas um bebê. Desde que foi deixado na porta dos Dursleys, Harry sempre foi rejeitado e tratado com desprezo, sempre apanhava de Duda, seu primo mimado, sempre era castigado por nada, e, para os tios, sempre foi um grande estorvo. Ainda assim, ele aceitava sua vidinha miserável pois os Dursleys era a única família que lhe restou, infelizmente. Ao completar onze anos, Harry descobre ser um bruxo quando, depois de muitas mentiras e sabotagens por parte dos tios e do primo, ele recebe uma carta entregue por Hagrid, o guardião das chaves da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde ele iria pra estudar e aprender tudo sobre esse universo mágico, e se tornar o grande bruxo que ele está destinado a ser. Seus tios abominam qualquer coisa relacionada a mágica e esconderam tudo o que podiam do garoto. Sendo trouxas (nome dado a quem não é bruxo) os Dursleys, mesmo que façam de tudo pra fingir que não existe, são um dos poucos que sabem do mundo mágico, pois Lilian, a falecida mãe de Harry e irmã de tia Petúnia, também era bruxa, o que causava asco na irmã.
O que Harry ainda não sabia, é que no mundo bruxo, desconhecido pelo garoto até então, ele é muito famoso, conhecido como "o menino que sobreviveu". Seus pais não morreram num acidente de carro como ele fora levado a acreditar, mas sim foram assassinados por um bruxo terrível que, ao tentar matar Harry também, foi atingido de alguma forma misteriosa e desapareceu. Porém, por mais que o Lorde das Trevas, também conhecido como "aquele-que-não-deve-ser-nomeado" ou "você-sabe-quem", seja somente uma lembrança que ainda assusta e é evitada a todo custo por muitos bruxos, ele não morreu definitivamente, e planeja voltar para terminar o serviço.
Agora, depois de passar pelo Beco Diagonal para comprar todo o material que precisa, e ainda ganhar uma coruja de estimação, ele embarcará na plataforma 9 ½, na estação de Kings Cross, rumo ao seu primeiro ano em Hogwarts, Harry finalmente está feliz, fez novos amigos e se sente em casa pela primeira vez, mas o perigo está mais próximo do que todos imaginam, principalmente quando ele e seus amigos começam a perceber que há algo de estranho e misterioso acontecendo na escola envolvendo a lendária pedra filosofal.
Narrado em terceira pessoa, a história é muito bem humorada e tão fluída e envolvente que pode ser lida em questão de poucas horas. Cada detalhe, cada cenário, cada frase de efeito dita por Dumbledore só mostra o quanto J.K. é genial. Não importa se você tem 8 ou 80 anos, a leitura é simplesmente maravilhosa. Mesmo que o primeiro livro seja mais introdutório, é perfeitamente possível imaginar e imergir nesse universo fantástico e mágico como se fosse algo real.
Lugares mágicos que só podem ser vistos por bruxos, correspondência através de corujas, a ideia que os bruxos passam 7 anos na escola aprendendo e aprimorando suas habilidades para, quando adultos, executarem os mais diversos feitiços, criarem poções, terem conhecimento da história da magia em geral e ainda seguir alguma carreira no mundo bruxo. A sociedade bruxa mantém um sistema que funciona plenamente, mantendo sua existência em segredo dos trouxas para que eles não achem que todos os problemas que arrumam possam ser resolvidos com mágica, e tem suas próprias regras criadas pelos responsáveis pelo Ministério da Magia e vária outras peculiaridades.
A ideia da autora em incluir a vassoura como elemento da bruxaria também foi super bacana, pois aqui ela é um item principalmente esportivo, que os bruxos usam pra voar enquanto jogam o famoso - e perigoso - Quadribol, que tem regras rígidas, campeonatos e equipes profissionais por todo o mundo. Harry inclusive demonstra ser bastante habilidoso com a vassoura e logo entra no time na posição de Apanhador.
Não acho que seja lá muito justo escolher só alguns personagens para falar quando existem dezenas deles e todos são ótimos e relevantes na trama.
O universo criado por J.K. Rowling é simplesmente fantástico, cheio de bom humor e encantador, mesmo que a vida de Harry até seu ingresso em Hogwarts tenha sido de dar dó. Todos os personagens são interessantes e possuem várias camadas e pontos de personalidades marcantes, sendo possível identificá-los facilmente pela forma como falam ou agem, e sentir empatia (ou não) por cada um deles.
Harry está numa fase de aprendizado, é seu primeiro ano na escola, e por mais que a ideia de ser um bruxo tenha feito com que ele ficasse surpreso e até um tanto incrédulo, ele logo consegue se familiarizar com muita facilidade em sua nova realidade. Mesmo que tenha crescido num lar onde sempre foi tratado da pior maneira possível, o que muitas vezes é revoltante, ele ainda tem seus valores, é um bom menino, tem coragem pra enfrentar o que for preciso, mas não nega que sempre precisa de ajuda. Ele nunca faz nada totalmente sozinho e muitas vezes depende de auxílio e conselhos dos amigos, de Hagrid ou de Dumbledore, o diretor da escola, um dos bruxos mais poderosos, respeitados - e mais engraçado - desse universo mágico.
Rony vem de uma família de bruxos, todos ruivos, bastante simples. Eles são pobres e passam por algumas dificuldades, mas são muitos amorosos e companheiros. A mãe de Rony, Molly, toma Harry praticamente como filho, tanto por sua história trágica, quanto por ter feito amizade com Rony. Seu pai, Arthur, trabalha no Ministério da Magia, na seção de Mau Uso dos Artefatos de Trouxas. Rony é meio sem noção, esfomeado e engraçado, e se torna o melhor amigo e confidente que Harry jamais sonhou que teria um dia. Rony é o sexto filho, de sete, e esse é seu primeiro ano em Hogwarts, assim como Harry.
Hermione é filha de trouxas e foi uma surpresa quando ela recebeu sua carta. Sim, é possível que nasça um bruxo numa família de trouxas (como a própria Lilian, mãe de Harry). Ela é super inteligente, aluna dedicada, devoradora de livros e nada supera sua capacidade de lógica. Se não fosse pela ajuda dela, Harry mal sairia do lugar pra resolver seus problemas.
Draco Malfoy, um menino pálido de cabelo platinado, veio de uma família importante e muito rica no mundo bruxo, e ele adora se aparecer ou tirar alguma vantagem por causa disso. Ele também é aluno do primeiro ano, foi escolhido pra Sonserina, é se tornou arqui inimigo de Harry. Desde o início os dois não se bicaram e vivem pra implicar um com o outro.
Os professores também são ótimos e desde o início demonstram o quanto são fundamentais no desenvolvimento de Harry e na trama em si. Alvo Dumbledore, o diretor de Hogwarts, é um velho sábio e bem humorado, que adora sorvete de limão, mas muito misterioso e um tanto reservado. Minerva McGonagall, professora de Transfiguração, é uma bruxa com poder de se transformar num gato e é tão rígida quanto justa. Ela também adora Quadribol e se empolga muito com Harry no time da Grifinória. Severo Snape, o professor de Poções, é mal encarado, mau humorado, e parece odiar Harry com todas as suas forças. Ele não pensa duas vezes quando o assunto é implicar com Harry ou perder a paciência com Hermione, e tira o máximo de pontos de Grifinória que ele pode. O professor Quirrell, de Defesa Contra as Artes das Trevas, parece ser muito medroso, ainda mais por viver gaguejando e se assustar com muita facilidade. Hagrid é um homem gigante com uma barba e uma cabeleira indomável que trabalha em Hogwarts e mora numa cabana dentro dos limites da propriedade. Ele tem uma sombrinha cor-de-rosa e foi proibido de usar magia por algum motivo. Hagrid tem a total confiança de Dumbledore, adora todo tipo de criatura mágica e desenvolve uma relação de amizade com as crianças que é tão adorável quanto engraçada.
A escola em si já é cheia de curiosidades na forma como funciona e é um lugar que devia existir de verdade, de tão incrível. Cheia de passagens secretas, lugares proibidos, quadros com fotografias que se mexem, fantasmas ilustres e escadas que mudam de lugar. Ela é dividida em casas, e o Chapéu Seletor, um chapéu pontudo mágico e inteligente que fala e canta muito, separa e encaminha todos os alunos recém chegados pra cada uma de acordo com suas personalidades e ambições (ou falta delas). Grifinória (a casa pra onde Harry, Rony e Hermione vão), Sonserina, Corvinal e Lufa-Lufa são as quatro casas de Hogwarts, que ganharam esses nomes devido aos seus fundadores. Cada casa tem suas cores, um animal como símbolo e seu próprio lema. Grifinória é a casa dos bruxos corajosos e companheiros. Corvinal é destinada aos bruxos mais sábios e criativos (Hermione poderia estar nela). Sonserina é uma casa onde os bruxos são astutos e não medem esforços para conseguirem o que querem, e ficou conhecida de uma forma negativa, pois todos os bruxos que seguiram o caminho das trevas foram de Sonserina. E por último, a Lufa-Lufa, onde seus moradores são leais, amigos e pacientes. Lufa-lufa é a casa mais inclusiva e flexível de Hogwarts, e muitos acham que nela só vão os bruxos mais fracos, mas na verdade são os mais sinceros, bondosos, persistentes e justos. No final do ano letivo, a casa que faz mais pontos ganha a Taça das Casas e é reconhecida como a casa vencedora até o próximo ano.
Não que isso tenha me feito desgostar da saga, mas talvez o único ponto negativo do livro seja a bendita tradução. E não digo isso pela tradução de muitos termos e nomes próprios pra aproximá-los do equivalente em português (James Potter, o pai de Harry, virou Tiago Potter; Charlie Weasley, irmão do Rony, virou Carlinhos; Vernon Dursley, o tio odioso de Harry, virou Válter; Fang, o cachorro de Hagrid, virou Canino; "muggle" virou "trouxa"; e por aí vai...), coisa que em alguns pontos não faz muito sentido pois alguns dos nomes, mesmo sendo em inglês, também podem ser bem familiares em português. A própria plataforma mágica e secreta, onde os bruxos embarcam no Expresso que os levam a Hogwarts, foi alterada na tradução, sendo que a original (que se pode ver nos filmes também) é a plataforma 9 ¾. Num contexto geral, a tradução de Lia Wyler (RIP) é muito boa, facilita a leitura pra crianças, e fica bem evidente que foi feita uma pesquisa minuciosa a fim de trazer as origens e o melhor sentido dos nomes pro correspondente em português, mas ainda assim, a tradução dos nomes das casas, pra mim, é um pouco problemática por questões "mitológicas". Como os nomes das casas são os sobrenomes dos seus respectivos bruxos criadores, não faz sentido manter o nome da casa traduzido e o sobrenome não, pois a referência acaba se perdendo nesse sentido. Um leitor mais desatento ou que não conhece a saga mais a fundo pode não fazer essa associação, e talvez fosse melhor que os sobrenomes deles também fossem traduzidos juntamente com os nomes das casas, ou que os das casas fossem mantidos nos originais.
Levando tudo isso em consideração, além de ficar aquela sensação de que teve muita coisa perdida (por mais que a história seja super rica em muitos sentidos), em vários momentos a gente se depara com erros na revisão da tradução também, como personagens com nomes trocados, ou ora traduzidos, ora não, como é o caso da Professora Minerva que uma hora aparece como "Morague MacGonagall", ou a artilheira de Quadribol (Quidditch no original), Cátia Bell, que às vezes não tem o nome traduzido e aparece como "Kate". E pra uma série de livros que teve incontáveis edições depois de tantos anos, qualquer fã (#iludido #xatiado) esperava que tais erros fossem corrigidos, mas não foram (nem a versão do audiolivro, que fiz questão de acompanhar e ouvir, foi).
Essa edição com capa dura em particular é maravilhosa, com ilustrações lindas feitas por Jim Kay, com uma disposição de texto que se encaixa bem com os desenhos, e é edição obrigatória pra se ter na estante quando se é um fã e colecionador. É meio incômodo ler essa edição pelo seu tamanho e peso, mas a história é tão boa, cheia de reviravoltas e detalhes geniais que o esforço - e o preço - sempre vai valer a pena.
Enfim, Harry Potter e a Pedra Filosofal deu início a uma saga épica, clássica, viciante e inesquecível que reuniu uma legião de fãs pelo mundo inteiro - inclusive essa pessoa que vos fala - e que, ainda bem, não vai acabar tão cedo. Se ainda não leu, ou só conhece a saga pelos filmes, volte pra Terra e faça esse favor a você mesmo: LEIA, é sério!
É livro pra ser lido, relido e guardado no coração, pra sempre!
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