Depois de mais de 2 anos da publicação do segundo volume, é possível que alguns detalhes sejam esquecidos, logo tive que dar uma folheada e uma relida por alto nos livros anteriores para me situar nos acontecimentos passados. Então, relembrando, após o ano de 2042, a humanidade "venceu". Não existe mais nada que não possa ser feito ou descoberto, e a sociedade é governada pela Nimbo-cúmulo, a inteligência artificial com capacidade infinita que, através de cálculos e estatísticas, resolve todos os problemas que existem. Não existe mais desigualdade social, doenças, violência, e até a imortalidade foi descoberta, mas, afim de ter um controle populacional, os Ceifadores são os responsáveis por "coletar" algumas vidas. Porém, esse poder acabou corrompendo alguns desses Ceifadores, que passaram a ter prazer em matar sem a compaixão e a piedade que deveriam ter. Assim, Citra e Rowan, os protagonistas, ao fazerem o devido treinamento e se tornarem Ceifadores, se infiltram nesse meio a fim de dar um "jeitinho" nesse problema.
Dando continuidade aos acontecimentos do livro anterior, Goddard obteve êxito com seu plano de afundar Perdura junto com sua história no meio do oceano causando um enorme estrago e muitas tragédias, o que lhe rendeu o cargo de Alto Punhal da Midmérica. Sem os Alto Punhais para controlar a Ceifa e com a sociedade perdida e sem direção, ele passou a liderar como o grande tirano que sempre foi, mas isso pra ele ainda é pouco, e ele quer mais e mais poder, assim, ele vai atrás dos Tonistas, um grupo religioso, que, obviamente, revidam e o caos a guerra civil são instaurados.
Algumas pessoas não aceitavam essa corrupção, e não iam descansar enquanto não resolvessem esse problema, sendo assim, o Ceifador Faraday e Munira partem para a ilha perdida de Nod para procurar respostas e uma solução. Um período que deveria ser de paz se transformou numa guerra civil, e coisas que haviam sido extintas da sociedade, como a violência por exemplo, retornaram com muita força.
Porém, todas as pessoas que restaram foram marcadas como Infratoras pela Nimbo-cúmulo, e por isso ela não respondia mais e ninguém podia acessá-la pra nada, e isso deixou todos um tanto confusos, com exceção de Greyson Tolliver, que era o único que podia falar com ela e se tornou um símbolo dos Tonistas, e passou a ser denominado de "O Timbre" (daí o título do livro), com a missão de guiá-los para um propósito maior que a nuvem reservou e que iria definir de uma vez por todas o futuro da humanidade. Citra e Rowan, que haviam afundado na queda de Perdura, foram encontrados, e agora não viam a hora de voltarem para ver com os próprios olhos o que aconteceu com o mundo.
Enfim, a narrativa em terceira pessoa continua fluída e super empolgante, apresentando os dilemas e as situações delicadas dos personagens de forma intercalada, mas confesso que algumas partes são um pouco arrastadas e dão uma canseira de leve, se destoando dos volumes anteriores, e nesse meio alguns personagens ainda morrem sem um motivo bom o bastante, dando a impressão de que só morreram pra não precisarem ter um final mais digno, mas ainda assim a trama, como um todo, é boa e inteligente demais a ponto de superar esses detalhes, só não posso simplesmente desconsiderá-los porque essa "queda de qualidade" é bem evidente se compararmos com os outros livros.
Em meio a personagens que surgiram e outros que ficaram meio de lado ou foram mal aproveitados, e por mais que a Ceifa tenha ganhado mais profundidade com novas informações, quem ganha o maior destaque é a Nimbo-cúmulo, que além de ser uma inteligência virtual com consciência, passou a ter a capacidade da senciência, e por isso tomava decisões mais "humanas" e justas.
Talvez eu seja contra ao falar sobre isso, mas existe um personagem, Jerico, que trouxe representatividade por não ter gênero definido, mas a impressão que tive é que essa foi sua única e exclusiva função, já que não acrescentou em nada de relevante na história e se não fosse por essa característica teria passado batido no meio dos demais, logo fiquei triste por esse desperdício.
Não sei se foi impressão minha, se viajei na maionese, ou se o autor realmente quis incluir essa "mensagem" nas entrelinhas, mas não pude deixar de associar a tríade que se formou dos tonistas, o Timbre, Trovão e Tom como um tipo de "Santíssima Trindade, e a nuvem ao próprio Deus, que de acordo com a bíblia, cuidou e amou os humanos com todas as Suas forças, mas se distanciou, ainda que sempre vigiando, para que todos, através do livre arbítrio, pudessem aprender com seus próprios erros, e é bem isso que consegui enxergar aqui, e esse também foi um dos motivos pra eu ver a trama com outros olhos e achar que nada alí foi jogado ao acaso.
Enfim, não é qualquer livro de ficção que traz questões filosóficas sobre as possibilidades que a humanidade pode viver num futuro não tão distante, falando sobre a vida, a morte, o fanatismo religioso, a empatia e a moral de uma forma tão única e criativa, enquanto uma inteligência artificial incrível administra o planeta. Só posso terminar essa resenha dizendo que O Timbre encerrou uma trilogia que não só nos apresentou uma história plausível, empolgante e bem amarrada, como trouxe personagens ótimos e que fizeram toda a diferença cada um a sua maneira. Com certeza essa é uma das melhores trilogias distópicas que já li.