Resumo do Mês - Já acabou, Março?

1 de abril de 2021


Mas que diacho de tempo voando é esse, Brasel? Achei que ficar em casa ia acabar me fazendo cair dura, mas a alegria de estar dando conta de conciliar meu tempo pra fazer de tudo um tanto anda me deixando mui feliz, obrigada. Olha essa lista, que satisfação, aspira:

- Colocando minhas séries em dia
- Lendo meus livros
- Ensinando o Theo ler e escrever
- Ajudando a Vitória com os exercícios que a escola manda toda semana
- Estudando tarô
- Decorando e comprando coisas úteis pra casa 
- Terminei meu cronograma capilar e meu cabelo nem parece meu cabelo, nem acredito
- Lavando meu cabelo 3x por semana em vez de 2x por mês 
- Passando do dia 500 jogando Don't Starve Together sozinha
- Testando receitas divinas de cuzcuz que aprendi 
- Dormindo tarde/acordando cedo
- Fazendo exercícios 

Mas o que interessa é isso aqui:

Caixa de Correio - #109 - Março

31 de março de 2021

Março já acabou e eu nem vi passar. Cheguei a não saber que dia já era, e quase deixei passar o aniversário do maridón (que ficou puto comigo, mas fazer o que... pra variar, a cabeça tá mais pra lá do que pra cá). E apesar da correria e da descabelância de sempre que é minha vida em isolamento com filhos, não nego que fiquei super feliz com tudo que comprei e recebi.

Enfim, espiem a caixinha desse mês:

O Impulso - Ashley Audrain

30 de março de 2021

Título: O Impulso
Autora: Ashley Audrain
Editora: Paralela
Gênero: Drama/Suspense
Ano: 2021
Páginas: 328
Nota:★★★★★
Sinopse: Blythe Connor está decidida a ser a mãe perfeita, calorosa e acolhedora que nunca teve. Porém, no começo exaustivo da maternidade, ela descobre que sua filha Violet não se comporta como a maioria das crianças. Ou ela estaria imaginando? Seu marido Fox está certo de que é tudo fruto do cansaço e que essa é apenas uma fase difícil. Conforme seus medos são ignorados, Blythe começa a duvidar da própria sanidade. Mas quando nasce Sam, o segundo filho do casal, a experiência de Blythe é completamente diferente, e até Violet parece se dar bem com o irmãozinho. Bem no momento em que a vida parecia estar finalmente se ajustando, um grave acidente faz tudo sair dos trilhos, e Blythe é obrigada a confrontar a verdade. Neste eletrizante romance de estreia, Ashley Audrain escreve com maestria sobre o que os laços de família escondem e os dilemas invisíveis da maternidade, nos convidando a refletir: até onde precisamos ir para questionar aquilo em que acreditamos?

Resenha: Quando Blythe aceita a pressão do marido para terem um filho, ela ansiava ser uma mãe perfeita e acreditava que a maternidade transformaria sua vida para melhor, mas as coisas não saem conforme o esperado. A depressão pós parto, as cobranças, e o cansaço extremo impedem que Blythe aproveite a maternidade como ela gostaria. Pra piorar a situação, a medida que Violet, a filha do casal, cresce, Blythe começa a perceber que ela não é como as demais crianças, seu comportamento é diferente e que é possível que exista algo de errado - e muito ruim - com a menina. Fox, o marido, sempre a desencoraja por menor que sejam suas suspeitas com relação à filha, faz com que ela acredite que o esgotamento que a maternidade lhe trouxe é o que a deixa cheia de impressões equivocadas, e que ela está vendo coisas. Mas, alguns anos depois, numa tentativa de melhorar o casamento, o casal decide ter outro filho, e a experiência com a gravidez e o nascimento de Sam é totalmente oposta a de Violet, e, dessa vez, Blythe realmente encontra alegria e prazer em ser mãe. Mas um terrível acidente faz o mundo dela desmoronar, e Blythe não tem outra escolha a não ser enfrentar a realidade e todas as verdades dolorosas que vem com ela.

A história é narrada em capítulos bem curtinhos e de forma epistolar, direcionada a Fox, onde Blythe conta tudo o que passou desde o nascimento de Violet até a atualidade. Logo no início já acompanhamos a protagonista indo lhe entregar essas cartas para que ele saiba seu ponto de vista sobre os fatos, e é a partir da leitura dessas cartas que a história começa. Intercalando os capítulos, também há algumas passagens que ocorreram entre os anos 60 e 70, mostrando a vida complicada e desprovida de afeto com a mãe e a avó de Blythe que vem ocorrendo por gerações, e como essa relação a afetou a ponto de ela querer fazer tudo diferente quando se tornou mãe para agradar o marido e formarem aquela família feliz de comercial de margarina. Mas aí entra o questionamento sobre a protagonista, que veio de uma família completamente desestruturada, e que faz com que o leitor às vezes não a considere a pessoa mais confiável pra se ouvir/ler. O quão difícil é pra uma mãe sentir que não existe vínculo com a filha que ela própria gerou, amamentou e cuidou, e que esse sentimento só piora com o passar do tempo? Como saber se não foi exatamente isso acabou moldando a personalidade de Violet? Não seria essa rejeição o que faz com que Blythe pense que existe alguns problemas com a filha, ou será que a psicopatia e a crueldade também pode estar presente em uma criança aparentemente indefesa, mas isso é algo que ninguém quer admitir que existe? A própria Blythe questiona a própria sanidade, e se as coisas que ela percebe realmente aconteceram ou se são apenas fruto de sua imaginação.
"Violet tinha uma mente brilhante, fascinante, e às vezes eu desejava ter acesso a ela. Ainda que temesse o que poderia encontrar."
- Pág. 114
Apesar de fluída e envolvente, a história é um drama que se mistura a um thriller psicológico, mostrando os acontecimentos trágicos envolvendo não só o comportamento de Violet, mas o peso da maternidade real, todas as indagações de Blythe que vem a tona sem que alguém lhe dê qualquer crédito, e todas as cicatrizes e amarguras do passado que ela carrega (e que talvez estejam influenciando o que ela está vivendo como mãe). Ao mesmo tempo em que percebemos a dor e a agonia da protagonista, também ficamos agoniados para saber o que vai acontecer, como as coisas vão se desenrolar, e como vão ser descobertas e resolvidas.

A autora consegue trazer reflexões sobre qual seria o papel da mulher diante da sociedade; sobre como a mulher deixa de ser mulher pra se tornar mãe; sobre o poder do homem de tomar todas as decisões e de ter a palavra final só por ser o provedor do lar; sobre a culpa e a romantização da maternidade; sobre a mulher ser exatamente aquilo que esperam que ela seja, baseado em preceitos conservadores e ultrapassados; sobre aceitar que nem sempre os filhos vão corresponder as expectativas de suas mães, e vice versa. Talvez, para quem seja mãe e tenha enfrentado o peso e o esgotamento físico e mental que a maternidade proporciona, o livro inteiro vai ser um enorme gatilho, mas ainda assim é uma leitura muito válida para todos saberem e/ou reconhecerem que a maternidade pode ser linda pra quem vê, mas nem sempre pra quem vive.

Acho que, depois de tantos desabafos que já fiz aqui no blog, posso abrir esse parágrafo só pra falar sobre o sentimento que essa história causou em mim, e o que pode ser o motivo de causar alguns gatilhos em quem vive ou viveu essa realidade. Confesso que fiquei o livro inteiro com uma bola na garganta, pensando sobre ser mãe; sobre ficar entre tentar superar as expectativas que todo mundo coloca sobre mim ou simplesmente ligar o botão do f*da-se e empurrar essa responsabilidade como dá; sobre estar tão esgotada, física e mentalmente, que definhar a ponto de querer desistir é inevitável; sobre como a depressão é uma coisa que muitos ainda não levam a sério; e, por mais inexplicável e incrível que pareça, sobre como a maternidade pode ser a coisa mais solitária da vida de uma mãe. E por conseguir me enxergar no lugar de Blythe em várias situações que ela passou e que só quem vive sabe como é, eu simplesmente não consegui duvidar da narrativa dela em momento algum, por mais desvairada que ela pudesse parecer, porque eu também já me senti assim por tantas vezes que é impossível contar...

O Impulso traz uma história tão impressionante quanto perturbadora, mostrando tanto as mazelas quanto as alegrias da maternidade como ela é, e também que a maldade tem sim uma origem, e pode vir de quem menos se espera.

Wishlist #97 - Funko Pop - Onward

18 de março de 2021

Meudeus, como assim depois de ter assistido e super curtido Dois Irmãos eu esqueci de fazer a wishlist de pops deles? Mas antes tarde do que nunca. Pra quem quer saber minha opinião sobre essa animação da Disney que fala sobre a jornada de dois irmãos órfãos em busca de um último encontro com o pai, clica aqui. E pra quem quiser ver quais foram os pops que a Funko lançou, espie abaixo:


Não acho que vou completar todo o set dessa coleção. Acho que só o Ian e o Barley já estão bons, e talvez o pai. Os outros já não me chamaram muito a atenção e vão ficar de fora.

Novidades de Março/Abril - Magicae - Darkside Books

15 de março de 2021


É hora de celebrarmos a mágica que existe em nossa essência. Magicae é uma coleção inteiramente dedicada aos mistérios das bruxas, com livros que honram os poderes ancestrais, cultuam as leis da natureza e conectam todas as linhas editoriais da DarkSide®️ Books.
Magicae celebra a vida, as fases da lua, as marés internas e os mistérios dos oráculos. Livros repletos de encantamento que honram os poderes ancestrais e cultuam as leis da natureza. A magia que mora no farfalhar das folhas, na alquimia dos aromas, no sopro do vento e no virar das páginas também existe em todos nós. Magicae é o reencontro com a nossa própria essência.
No mês em que homenageamos a coragem e a resistência das mulheres, preparamos os mais poderosos feitiços para encantar o coven Darkside

Bruxas Literárias - Taisia Kitaiskaia
Elas teceram enredos imortais e conjuraram personagens inesquecíveis. O primeiro lançamento da coleção Magicae convoca todos a darem as mãos em uma celebração da força e do poder das mulheres através dos tempos. A DarkSide® Books conjura o livro Bruxas Literárias, obra que reúne trinta autoras que transformaram a história da literatura.
Escritoras como Mary Shelley, Agatha Christie, Audre Lorde, Emily Brontë e outras bruxas, unidas para formar um círculo em DarkLove. E a edição brasileira chega com uma galeria de ilustrações fascinantes de três bruxas literárias nacionais: Carolina de Jesus, Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles. Um livro encantador e enfeitiçado.

Bruxa Natural: Guia Completo - Arin Murphy-Hiscock
A figura da bruxa fascina a humanidade há gerações. Curandeiras, benzedeiras, avós, mães. Para a autora Arin Murphy-Hiscock, ser uma bruxa é apropriar-se da força interior, honrar a ancestralidade e também estreitar o laço com a natureza.
O livro é um guia da bruxaria verde para quem deseja explorar os presentes da natureza e encontrar equilíbrio e harmonia, despertando a magia que está em todos nós. Reúne receitas, exercícios, sugestões de rituais e orientações para fazer poções e misturas de ervas. Aprenda sobre plantas, árvores, cristais e outras magias.

O Livro Mágico para Jovens Bruxas - Ariel Kusby
Para ser bruxa não é necessário fazer objetos voarem, passear por aí em uma vassoura ou ler mentes. Praticar a bruxaria, na verdade, tem muito mais a ver com estar em sintonia com você mesma e fazer bom uso da sua individualidade, da sua inteligência e da sua bondade.
Bruxinhas já iniciadas ou que estão aguardando o começo do treinamento vão adorar O Livro Mágico para Jovens Bruxas. Inspirada pelo folclore e pela magia da natureza, Ariel Kusby escreveu um guia adorável de feitiços, poções e atividades para resolver problemas, fazer amigos e estabelecer um vínculo com o mundo natural.

Grimório das Bruxas - Ronald Hutton
As bruxas estão por toda parte. É com a lua cheia iluminando o coração da floresta que a Macabra Filmes e a Darkside® Books apresentam o lançamento da coleção Magicae, Grimório das Bruxas.
Combinando história, folclore, mito e mistério, o livro apresenta uma pesquisa profunda, analisando a bruxaria e seus contextos, crenças e origens históricas e culturais. Uma obra completa feita sob medida para feiticeiras e feiticeiros. Grimório das Bruxas chega ao nosso mundo em duas edições: 
Moon Edition e Witchcraft Edition
Entender a história da bruxaria é o primeiro passo para um amanhã cada vez mais mágico.




Na Telinha - Raya e o Último Dragão

11 de março de 2021

Título: Raya e o Último Dragão (Raya and the Last Dragon)
Elenco: Kelly Marie Tran, Awkwafina, Gemma Chan, Alan Tudyk, Daniel Dae Kim, Sandra Oh
Gênero: Animação/Fantasia/Aventura/Distopia
Ano: 2021
Duração: 1h 57min
Classificação: Livre
Nota★★★★★
Sinopse: Há muito tempo, no mundo de fantasia de Kumandra, humanos e dragões viviam juntos em harmonia. Mas quando uma força maligna ameaçou a terra, os dragões se sacrificaram para salvar a humanidade. Agora, 500 anos depois, o mesmo mal voltou e cabe a uma guerreira solitária, Raya, rastrear o lendário último dragão para restaurar a terra despedaçada e seu povo dividido. No entanto, ao longo de sua jornada, ela aprenderá que será necessário mais do que um dragão para salvar o mundo – também será necessário confiança e trabalho em equipe.

Kumadra era o verdadeiro paraíso. Há 500 anos a terra era fértil, abundante, e humanos e dragões mágicos coexistiam na mais perfeita harmonia. Os dragões ajudavam os humanos trazendo água, chuva, e paz. Mas um dia a terra foi ameaçada pelos Druun, criaturas sombrias que se multiplicavam como pragas, e não causavam só a destruição, mas consumiam a vida de quem cruzasse seus caminhos, as transformando em pedras.
Os dragões, então, se sacrificaram para salvar a humanidade, e a única coisa que restou após a batalha foi a Jóia do Dragão, artefato mágico criado com o poder dos dragões, e capaz de destruir os monstros. A batalha se tornou uma lenda, e Sisu ficou conhecida como o dragão que derrotou os Druun e salvou Kumandra. Porém, em vez dos humanos darem valor ao sacrifício feito pelos dragões e manterem a paz e a harmonia, eles se tornaram inimigos, se dividiram em tribos, traçaram fronteiras para separar Kumandra em reinos distintos, e passaram a lutar pela posse da Jóia.



Com tantos conflitos, Kumandra deixou de existir como um único reino, e cada sub reino formado desenvolveu suas próprias características que os tornaram únicos: O deserto escaldante de Cauda está cheio de mercenários perigosos; Garra é um mercado sobre as águas habitado por lutadores muito ágeis; Presa é protegida por assassinos e gatos gigantes tão perigosos quanto seus donos; a floresta fria e sombria de Coluna é guardada por temíveis guerreiros; e Coração é o reino da paz, onde há abundância e prosperidade, e é onde a Jóia está escondida.



Agora, Chefe Benja, guardião da Jóia (e também pai de Raya), numa tentativa de unir as tribos e retomar a paz, convoca todos os cinco reinos afim de tentar fazer com que entendam de uma vez por todas que é preciso união e confiança entre os povos para que Kumandra volte a existir, caso contrário, a desconfiança e o ódio só os levarão à ruína, porém nada do que foi planejado correu como deveria, e a história de 500 anos atrás, se repetiu: os Druun ressurgiram causando devastação e transformando todos em pedra.
Seis anos depois, em meio a um cenário árido e distópico, Raya, junto com seu inseparável tatuzinho Tuk Tuk, passou a explorar o que sobrou das terras, enfrentando perigos e procurando nos rios qualquer vestígio de Sisu, numa tentativa secreta de encontrá-la e, com a ajuda dela, trazer todos aqueles que foram petrificados de volta, mas Namaari, sua adversária de Presa, sempre vai estar em seu caminho.



Como de costume, toda animação da Disney se passa em algum lugar fictício com características culturais muito marcantes de lugares reais, e Raya e o Último Dragão não é diferente. Baseado na cultura de países do sudeste asiático, como Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas, entre outros (obrigada pela cola, Wikipedia), o longa evidencia comidas típicas, fenótipos, vestuário e afins desses países. Os próprios dubladores têm características físicas orientais, tanto por serem asiáticos ou por serem descendentes de um.
A história gira em torno do tema confiança e união entre as pessoas, e o que a falta delas causam na vida. A construção de mundo é incrível e a ideia de reinos distintos lembra muito a sociedade de Zootopia, e é impossível controlar a vontade de saber mais detalhes sobre o modo de vida, como e porquê as pessoas se tornaram tão egoístas, e o que mais fazem além da descrição inicial que os resume.



O cenário e os gráficos em si são um dos mais bonitos já vistos numa animação, desde as texturas dos elementos, a luz do sol que entra por uma fresta, a chuva molhando alguém, a sincronia da fala e o movimento da boca dos personagens e, principalmente, os detalhes que diferenciam cada indivíduo de forma que não pareçam todos iguais, como acontece em outras animações. Mesmo que o mundo esteja desolado, ainda é possível enxergar beleza pois ainda há esperança. Cada ambiente traz uma paleta diferente que combina muito bem com a proposta daquele reino, como por exemplo, a floresta gelada de Coluna que é cinzenta, o deserto de Cauda que é bem alaranjado, e o verde que pode representar uma vida próspera é bem evidente em Coração. O recurso de alternar o estilo gráfico quando alguns detalhes aparecem para explicar melhor a história também é ótimo e super dinâmico.



Os personagens também são ótimos e tem arcos e papeis importantes no desenrolar da trama, mas o maior e mais legal de todos, com um contraste bem evidente, é entre Raya e Sisu. Embora elas queiram a mesma coisa, a forma como encaram a vida e resolvem suas questões é totalmente oposta uma da outra. Raya não confia em ninguém, não consegue mais enxergar o melhor nas pessoas porque ali é cada um por si, ela é amargurada por ter sido traída no passado e acaba usando isso como um tipo de escudo para impedir que os outros tentem se aproximar. Ela já começa se mostrando alguém forte, mesmo que quebrada, sempre fica de cara fechada, é uma guerreira solitária e destemida, sem tempo a perder, e nada nem ninguém vão impedir que ela alcance seu objetivo de salvar o pai. Raya tem um coração enorme, mas as decepções que teve fazem com que ela não demonstre isso. Talvez ela aparente ser um tanto individualista, e até desprovida de qualquer pinguinho de otimismo, mas ela aprendeu a ser assim devido as circunstâncias.



Sisu é oposto, tanto no visual quanto na personalidade. Ela inclusive destoa bastante dos demais personagens, como se não combinasse com o padrão da animação, mas acredito que ela foi criada dessa forma, colorida, iluminada e radiante, justamente pra mostrar a diferença e o abismo que há entre pessimismo e otimismo, amargura e bom humor, raiva e alegria, cautela e vontade de dar uma chance, falta de fé e esperança. Ela quer ajudar a salvar o reino, mas é ingênua demais, sempre tenta enxergar o melhor nas pessoas por mais maldosas que aparentem ser, sempre está bem humorada e brincando mesmo quando não se deve, e quer provar pra Raya que ter confiança nos outros, independente de quem seja, é a melhor maneira de resolver os problemas e salvar o reino dos Druun. Mas, num mundo onde ninguém está disposto a ceder e nem a ouvir o que o outro tem a dizer, quando há lutas intermináveis para se conquistar algo para benefício próprio, e onde a ignorância deixa de ser uma benção para se tornar uma maldição, é difícil lidar... É difícil tomar decisões, e às vezes é preciso apenas seguir ordens, mesmo que no fundo fique claro que o medo de uma suposta retaliação é maior do que fazer a escolha certa. E é aí que entra a rival de Raya: Namaari.



Namaari, apesar de sempre estar no caminho de Raya tentando descobrir seus planos, perseguindo e atrapalhando ao máximo, não é uma vilã propriamente dita, ela só foi levada a acreditar em algo desde a infância em prol de seu povo, e acha que o caminho é sempre obedecer e lutar pelo que quer que seja, logo, embora eu tenha discordado total e ficado com ódio da forma como ela age, é compreensível pois ela tem um motivo que justifica o que ela faz. Inclusive um ponto interessante sobre a inimizade dos reinos vem do fato de que as vezes as pessoas acreditam naquilo que ouvem falar, mas que, claro, não necessariamente correspondem com a realidade...



Assim, Raya em companhia de Tuk Tuk, Sisu, e o grupo que elas formam a medida que avançam na missão, com integrantes de reinos distintos, incluindo uma bebê ninja e golpista com seus macacos delinquentes, um guerreiro que não parece saber lidar com os próprios sentimentos, e um garotinho que teve que aprender a cuidar de si mesmo, além de ajudarem com a carga dramática que vem ao final, vão tentar reparar esse estrago causado pela desunião dos povos, mesmo que Namaari insista em se intrometer, e mostrar que no meio desse caos, alguém precisa ceder e dar o primeiro passo pra mudança começar a acontecer.

Acredito que nessa animação não há um vilão do tipo clássico, que quer destruir o mundo, ou que quer dar um golpe e acabar com os mocinhos em busca de poder, acho que os Druun também não se encaixam como vilões, mas como uma consequência de péssimas decisões. O maior vilão aqui é o egoísmo, é a desunião, é a falta de diálogo, é a incapacidade de se chegar num consenso por só se pensar no individual em vez do coletivo. E cá entre nós, nos dias de hoje, com tanta tragédia acontecendo devido a essa pandemia tenebrosa, com a irresponsabilidade dos governantes que tiram decisões do bueiro, impõe qualquer absurdo e azar o povo, e com tanta gente imprudente a solta que não pensa em nada além do próprio umbigo, o que a gente vê na animação acaba indo mais além da ficção e da fantasia e é impossível não pensar que o fim está mesmo próximo... É literalmente cada um por si, e salve-se quem puder. E, talvez, pelo próprio estilo da animação, que remete a distopia e fim dos tempos, não teve espaço pra personagens sentimentais cantarolando empolgados e felizes e nem algum boy que possa sugerir qualquer interesse romântico, e aposto que mesmo se existisse ninguém estaria interessada, obrigada. 



A Disney, apesar de estar acertando demais, vem caminhando em passos mui lentos quando o assunto é representatividade LGBTQ+, e ainda acho que vai demorar um bom tempo até que os personagens realmente demonstrem explicitamente algum relacionamento, mas, não nego que a quebra total de estereótipos daquela típica princesa ingênua e indefesa (e sonsa), que espera pelo príncipe encantado, já é um grande avanço, e isso nos permite supor que Raya e Namaari possuem algo a mais que vai além da rivalidade, da luta pela sobrevivência e da busca pelos seus ideais. A química ali é inegável. Elas estão a anos luz de serem donzelas indefesas, elas metem a porrada mesmo, sem dó nem piedade, pisam duro, as lutas são brutais, beirando a letalidade, e, mesmo sabendo que a Disney jamais iria enfiar uma cena bizarra e sanguinolenta numa animação, as brigas de espadas causam uma apreensão danada, dando a impressão que a qualquer momento as tripas de alguém vão escorrer ou uma cabeça vai sair voando por aí.



O final é previsível, não vou negar, mas o rumo que a história toma até o desfecho é incrível, emocionante, cheia de significados, digna de reflexões. Chorei litros no final, chorei mesmo. É o tipo de desenho que eu posso ver e rever milhões de vezes sem cansar (igual Mulan XD).
Dito isso, só posso afirmar que, depois de Mulan, Raya se tornou a minha segunda princesa da Disney favorita, e depois dessa aventura cheia de ação e magia, acho difícil aparecer alguma outra que a desbanque. Quero todos os pops na minha mesa já.

Com estreia simultânea, Raya e o Último Dragão pode ser assistido nos cinemas (mas cuidado com a pandemia, gente!) ou no conforto de casa pela Disney+ pela incalculável bagatela de R$69,90 além da assinatura mensal do app de streaming. A partir de 23 de abril a animação entrará no catálogo e poderá ser assistida sem cobrança adicional.