Autora: Darcey Stenke
Editora: Paralela
Gênero: Romance
Ano: 2021
Páginas: 184
Nota:
★★★☆☆
Sinopse: Marco do feminismo libertário americano, Loira suicida é uma espécie de diário no qual a jovem Jesse registra sua incursão pelos domínios mais baixos da San Francisco dos anos 1990. Filha de um ministro da igreja luterana, a protagonista do romance abre mão dos valores de classe média para seguir, ao lado do namorado gay, uma peregrinação por um submundo feito de drogas, bebida e sexo. Influenciada por todo um cânone de escritores marginais (Georges Bataille, Jean Genet, Alexander Trocchi, William S. Burroughs etc.) e dialogando com a literatura queer e noir dos anos 1980 e 1990 ― e com autores como Virginie Despentes, Eileen Myles, Jean Rhys, Marguerite Duras, entre outros ―, Darcey Steinke arma uma história a um só tempo melodramática e mordaz, honesta e intensa, em que os labirintos do desejo se chocam à euforia de uma época que parecia começar a girar irremediavelmente em falso. Um romance vigoroso sobre uma mulher e os descaminhos de uma furiosa busca por encontrar o seu lugar no mundo.
Resenha: Loira Suicida, escrito pela autora americana
Darcey Stenke, é considerado um clássico por ter se tornado um marco do feminismo. O livro foi publicado pela primeira vez em 1992, e agora, em 2021, foi publicado no Brasil pela
Companhia das Letras.
A história se passa na San Francisco dos anos 90 e retrata Jesse, uma mulher de 29 anos, filha de um ministro da igreja luterana e da mulher submissa a ele, que larga a vida tradicional pra adentrar o submundo das drogas, das bebidas e do sexo depois de perceber que Bell, com quem ela divide o apartamento, está totalmente apático e alheio ao "relacionamento". E a partir daí começa a sua "peregrinação" pelo submundo da cultura queer em meio aos seus próprios conflitos internos.
A história é narrada em primeira pessoa, a escrita é poética e possui descrições um tanto reveladoras - e até perturbadoras - sobre a natureza humana, na maioria das vezes em meio a cenas deprimentes.
Jesse está claramente deslocada nesse universo de ruas desertas e pessoas arruinadas que estão "longe da salvação". Os personagens que estão ao redor de Jesse (e a própria) são quebrados, com questões mal resolvidas, alguns tentando se encontrar, outros fingindo terem se encontrado, e outros tentando se autodestruir. Não nego que esses personagens são bem estereotipados, mas ao mesmo tempo que eles causam fascínio, também causam uma certa repulsa por serem tão bizarros, detestáveis e hedonistas, e achoa que todo mundo conhece alguém do tipo. A história traz a ideia de que esses personagens jamais irão encontrar a redenção que, porventura, estejam buscando em suas jornadas.
Jesse é obcecada por Bell e acredita que ele é o amor de sua vida. O problema é que Bell, sendo bissexual, está arrasado por Kevin, seu primeiro amor, estar prestes a se casar com a noiva, e Jesse no momento é a última preocupação que ele tem interesse em lidar.
Logo surge Pig, uma mulher reclusa, excêntrica, obesa e milionária que pede ajuda de Jesse para encontrar a jovem Madison. Madison, cujo passado está entrelaçado com o de Pig, é uma stripper que convida Jesse para um cenário sádico, violento e de autodestruição. E tentando lidar com sua frustração de perder o namorado (?), ela resolve que deve "punir" Bell, adentrando esse mundo e se tornando uma "garota má" pra mostrar o que ele está perdendo. E talvez a ideia da autora seja fazer com que o leitor sinta pena de Jesse por se rebaixar dessa forma, mas só senti o contrário e não me comovi, e nem todos os pensamentos super atuais sobre amor, vida e morte que foram inseridos dentro desse contexto me fizeram ter empatia por ela. Jesse foi a única responsável pelos seus problemas, afinal, foi ela que escolheu seguir esse caminho. Ela tenta ser aquela mulher feminista forte e moderna, mas se perde em sua apatia e nos próprios fracassos. É triste se prender a alguém que não tem nada a oferecer.
Como a história é narrada pelo ponto de vista de Jesse, acabamos limitados à sua percepção das coisas, mas Madison acabou sendo uma personagem muito mais interessante do que a própria protagonista e foi impossível não querer saber mais sobre ela.
A capa do livro traz a foto de Candy Darling (Candy Darling on her deathbed), a musa de Lou Reed e atriz trans que trabalhou ao lado de Andy Wahrol, em Hollywood, e viveu numa época marcada por preconceitos da sociedade. Darling morreu de câncer aos 29 anos, e a foto tirada por Peter Hujar, nos anos 70, foi tirada poucos dias antes de sua morte.
O livro não tem nem 200 páginas, mas demorei por volta de um mês pra terminar de ler. Talvez não seja o tipo de leitura que vá agradar a todos devido a escrita mais rebuscada, e por mais suave e interessante que seja a ideia da autora em levar o leitor a uma Califórnia tão moderna quanto decadente para acompanhar as perturbações de Jesse, não é uma leitura que flui muito facilmente, mas ainda sim é válida pelas mensagens que passa. O problema é que, pra mim, a história fica tentando chegar num lugar e nunca chega, e quando termina, parece que ainda falta algo mais.
Em suma, Loira Suicida traz uma história melancólica sobre a tentativa de se manter o coração puro quando o amor e todo o resto são contaminados por perdas e sonhos destruídos. É praticamente um hino à solidão.