Na Telinha - Velma

4 de fevereiro de 2023

Título: Velma
Temporada: 1 | Episódios: 10
Distribuidora: HBO Max
Elenco: Mindy Kaling, Constance Wu, Glenn Howerton, Sam Richardson
Gênero: Aventura, Comédia, Policial, Animação
Ano: 2023
Duração: 25min
Classificação: +16
Nota: ★☆☆☆☆
Sinopse: Velma é uma série de comédia animada para adultos que conta a história de origem de Velma Dinkley, o cérebro subestimado por trás da gangue de Scooby-Doo.

Quando a HBO anunciou que lançaria uma animação para contar as origens da Velma, era mais do que óbvio que os fãs da franquia Scooby-Doo, criada por Hanna-Barbera em 1969, ficaram super animados com esse spin-off.
De todos os desenhos animados desse estúdio, eu particularmente gostava mais de Tom & Jerry (tanto que assisto até hoje), mas nunca rejeitei Scooby-Doo e admito que, quando criança, eu gostava daquela fórmula clichê dos mistérios que sempre eram solucionados depois de um perrengue tão mirabolante que os pobres dos personagens passavam, e me divertia com o óbvio.

Agora, depois de décadas, o que era pra ser uma série que, até onde se esperava, proporcionaria nostalgia e diversão, com um design de arte e efeitos bonitos e descolados, e com informações sobre a origem da Velma e a motivação dela pra juntar os amigos e começar a resolver mistérios, virou uma aberração total que sequer tem noção da essência da animação e nem tem um pingo de consideração pelos fãs que esperavam flores mas receberam tiros. Joe Ruby e Ken Spears, os criadores do Scooby-Doo original, devem estar se revirando no túmulo de tanto desgosto e tristeza. Os primeiros minutos já me fizeram revirar os olhos num looping infinito. Já assisti muitas animações adultas com humor ácido e pesado, que fazem piada com temas sensíveis, que são paródias de outras obras e ainda assim funcionam e são muito boas, mas com Velma não foi muito bem assim.


O mistério em si começa quando o corpo de Brenda, cuja cabeça foi literalmente desmiolada, cái de dentro do armário da Velma fazendo com que ela, inicialmente, se tornasse"suspeita" pelo crime. As detetives encarregadas de investigarem o caso, mães adotivas da Daphne, são a personificação da incompetência e precisam da ajuda dela pra descobrir quem é o assassino que anda matando as garotas populares do colégio para provar para o xerife que Velma é inocente. O problema é que Velma tem alucinações e ataques de pânico que a deixam a beira de um infarto cada vez que ela pensa em solucionar algum mistério, pois associa isso ao sumiço de sua mãe, Diya Dinkley. Velma desde criança gostava de resolver mistérios e ela acredita, sabe-se lá por que motivo, que sua mãe a abandonou por causa disso, e não consegue ficar livre dessa culpa. Assim, para tentar provar sua inocência, ela começa a seguir algumas pistas para investigar o caso do assassinato, mas ela também quer desvendar o mistério do sumiço de sua mãe numa tentativa de se curar desse trauma e parar com as alucinações. Mas outras garotas começam a aparecer mortas, outros suspeitos começam a surgir, e o caso fica pior do que já era.


Partindo dessa premissa, o primeiro ponto problemático é que, mesmo sendo sobre personagens adolescentes no ensino médio e classificação +16, a série é voltada ao público adulto. Há bastante violência gratuita e exagerada (quase no estilo Happy Tree Friends onde, por exemplo, "sem querer" um estudante aleatório tem um pé decepado), palavrões e incontáveis cenas e piadinhas infames de cunho sexual ou de estereótipos, que além de serem repetidas por milhares de vezes, não tem a menor graça e são extremamente forçadas. A primeira cena já mostra duas baratas transando do nada (???) antes de vermos um grupo de garotas adolescentes, nuas e hipersexualizadas tomando banho no vestiário do Colégio da Baía Cristal. A partir daí, já começam a utilizar do recurso da metalinguagem de forma desenfreada e completamente sofrível. O que poderia ter de relevante é completamente ofuscado pelas piadinhas esdrúxulas que se estendem ao longo dos episódios de forma repetitiva e insistente, sempre envolvendo sexo, drogas, violência, sangue, saúde mental e etc, e também por personagens secundárias, menores de idade, extremamente sexualizadas, assumidamente "vadias", que vivem fazendo caras, bocas e poses sugestivas de graça.

Quem for assistir esperando encontrar os personagens típicos com suas personalidades e características vai se frustrar. Não digo isso pela mudança de nacionalidade, etinia ou orientação sexual deles, isso é o que menos importa e inclusive acho que, às vezes, é até interessante esse tipo de mudança em prol da representatividade e afins, mas o problema é que, pelos acontecimentos se passarem antes de formarem a Mistérios SA. é muito esquisito acompanhar os personagens sob outras personalidades totalmente diferentes das quais estávamos acostumados. É como se durante esses acontecimentos eles estivessem passando por um período de amadurecimento de acordo com essas experiências que tiveram, mas o contraste é tão gritante que não fui capaz de assimilar como um personagem com características x conseguiu virar outro totalmente diferente. Por exemplo, aquela Velma esperta e sagaz do clássico deu espaço pra uma Velma incoerente, hipócrita e irritante que, mesmo traumatizada, mal dá pra ter pena, e que fica mendigando a atenção de quem ela gosta mesmo que seja desprezada, e despreza quem gosta dela no maior descaso possível.


Daphne agora é uma asiática patricinha que faz parte do grupinho de garotas populares da escola e tem um comportamento mui questionável. Ela foi a melhor amiga de Velma no passado, mas depois que se tornou popular passou a tratá-la como lixo e agora elas se odeiam. Ela namora Fred já faz um ano e não se conforma com ele evitando todas as suas investidas mais calientes, mas não desiste do boylixo pois ele também é popular na escola e eles formam um casal "bonito", até ele ser afastado dela a força.


Fred, o "galã adolescente", é o típico cara branco, rico e privilegiado que ninguém aguenta. Ele é aquele playboy inconveniente, mimado, imbecil, preconceituoso e enrustido que além de não ter amadurecido ainda fica fazendo de tudo pra conseguir a aprovação do pai, que nunca está satisfeito com nada. Ele também tem uns faniquitos disfarçados de ataque de fúria quando alguma coisa não sai conforme ele quer, e mesmo que Velma saiba o quanto ele é ridículo, ela ainda gosta dele baseado em nada, só pra rolar aquele conflito de sentimentos forçado entre o bonitão da escola, o amigo desprezado e a amiga que virou inimiga que "movimenta e traz mais emoção à trama", só que não.

E o pobre do Salsicha que era o sujeito mais good vibes  de todos, virou um streammer dependente emocional chamado Norville, engajado com terapia e causas anti-drogas (pois é) e apaixonado pela Velma. O problema é que ela o enxerga como irmão e quanto mais ele tenta se declarar e demonstrar esse sentimento pra tentar ganhar o coração da menina, mais ela ri (???). E o Scooby? Ninguém nunca nem viu.


Eu até cheguei a considerar que a adolescência é uma fase terrível e é mais do que normal haver conflitos emocionais, dramas desnecessários, exageros a se perder de vista, questões de autodescoberta e imaturidade, mas acho que o problema maior talvez seja pela série ter se vendido como algo inovador e que daria uma nova roupagem aos personagens acompanhando a atualidade, afinal, dos anos 60 pra cá as coisas já evoluíram bastante e a sociedade, apesar de ainda ter alguns atrasos, está bem diferente. Se formos comparar todas as versões de Scooby-Doo vamos encontrar diferenças e pequenas mudanças que são compreensíveis e aceitáveis. Mas em momento algum Velma dá a entender que a série seria uma paródia ou algo do tipo, parece que ela realmente se leva a sério como releitura e os roteiristas acharam que atirar lacre sem noção pra todo lado funcionaria. Se isso é algum tipo de estratégia pra justificar alguma reviravolta futura, ou só fazer com que todo mundo assista e comente, mesmo que seja pra falar mal, deu certo (a trouxa aqui comentando sobre), e não duvido que foi por causa desse hype que a segunda temporada já começou a ser desenvolvida.

Nem tenho nem vontade de comentar sobre o tema principal da série: saúde mental. Todos os personagens tem um trauma relacionado a alguma forma de abandono que reflete em seus comportamentos e precisam superar isso a medida que vão amadurecendo, e por mais que essa questão seja interessante, a abordagem é péssima, desde as crises de ansiedade e os ataques de pânico frequentes que Velma sofre e como são amenizados de um jeito impossível, até como práticas ilegais são justificadas como forma de se atingir um objetivo para pôr fim numa aflição.

Há um episódio onde passam rapidamente a ideia de que quem está de luto e deprimido pela perda de alguém quer transformar a morte alheia em algo sobre ele, como se sofrer fosse egoísmo ou sei lá. E uma observação para o mascote da saúde emocional do colégio, que se chama "Lelé" (ou "Nutso" no inglês). Porque querer fazer uma série para abordar a saúde emocional na maior parte do tempo e dar a entender que quem precisa de ajuda é "lelé da cabeça" deve ser de muito bom tom e muito engraçado.


Inclusive algumas cenas de crise estão alí de propósito pra forçar uma determinada situação entre personagens que passam longe de ser inclusivas ou sequer engraçadas, caso a ideia fosse fazer piada sobre, mas estão alí pra dar um empurrão no enredo e fazer as personagens ficarem confusas com seus sentimentos e com a própria sexualidade.

A impressão que tive é que tentaram ir pelo caminho das animações escrachadas e politicamente incorretas, dessas que estão pouco de lixando pro famigerado cancelamento que cutucam temas sensíveis sem o menor peso na consciência (como South Park ou Rick and Morty, por exemplo), mas falharam miseravelmente porque a forçação de barra pra tentar dar lições inúteis ou fazerem críticas aleatórias usando de "humor ácido" é insuportável, e é tanta coisa sendo alvo de piadas sem graça que é impossível saber ao certo quem deveria ser o público alvo desse troço. Conseguiram não só estragar, mas rebaixar o conceito de besteirol a um nível que chega a ser inacreditável. Mudaram toda a essência da coisa e transformaram os personagens só pra despejarem um monte de bobagens que brotam do além pra serem atiradas pra qualquer lado sem que façam o menor sentido dentro do contexto. Parece que só estão alí com o único propósito de se aproveitarem de temas sensíveis ou que envolvem lutas sociais, mas desvirtuando - e até invalidando - tudo como se não houvesse amanhã. Seria menos pior se criassem personagens originais pra construir uma série original em vez de se aproveitarem de uma franquia clássica só pra atrair quem já era fã e matar todos eles de decepção, afinal, as únicas coisas fiéis são os nomes que eles têm e as roupas que usam, o resto é invenção tirada da casa do chapéu. Teria risco de algo vindo do zero tomar hate por ser ridículo? Claro que sim, porque as piadas são ruins de verdade, mas pelo menos não iria gerar essa revolta e esse completo desgosto por terem destruído o que já havia se consolidado ao longo de décadas com essa ideia de "desconstrução".

Os últimos epísódios, apesar de seguirem o mesmo padrão ruim, começam a ficar menos piores porque já entram na resolução do mistério mirabolante, e mesmo que a Mistérios SA ainda não tenha sido criada, dá pra ter noção do caminho que os personagens vão seguir ao mesmo tempo que vemos que eles começam a adquirir pequenos toques da personalidade original, mas sabe-se lá quantas temporadas vão ser feitas até chegarem lá.

Enfim, não vou dizer que Velma foi a pior coisa que já assisti na vida porque tem muito lixo espalhado nas plataformas de streaming por aí, mas com certeza foi a que mais me fez revirar os olhos, tamanha a antipatia e ojeriza. Assisti esperando uma coisa nostálgica, mas saí com a sensação de que meu tempo vale menos do que duas baratas transudas.

Resumo do Mês - Janeiro

1 de fevereiro de 2023

Janeiro foi aniversário do blog e confesso que sinto falta da época em que as coisas aqui eram mais movimentadas, quando tinha sorteio todo mês e até quando as caixinhas de correio tinham livros que eu também ganhava em sorteios por aí. O tempo passa, os cabelinhos brancos vão aparecendo, as prioridades passam a ser outras, e o que eu levava como trabalho, passou a ser hobbie já faz uns bons anos. Levo sem pressão e dentro das possibilidades, por mais que eu tenha vontade de me dedicar mais, mesmo que eu fique fazendo planos que não saem do papel.
E por falar em planos, eu tenho vários, só não tive coragem e ânimo de colocar em prática por mais que eu queira que em 2023 as coisas sejam diferentes Quem nunca, ne?
Apesar de tudo, janeiro começou um tantinho produtivo (e fiquei com aquela sensação de que passou voando e nem vi), e espero continuar assim.


Caixa de Correio #130 - Janeiro

31 de janeiro de 2023

Esse mês foi aniversário do blog mas quem ganhou presente (de mim pra mim mesma) fui eu . Fiquei tão felicinha comprando coisinhas de papelaria porque além de voltar a estudar pra fazer mais um concurso, comecei a fazer um cursinho de ilustração pra aprender técnicas novas depois de anos sem desenhar um boneco de palitinho sequer. Comprei caixona de lápis de cor, canetas e marca textos, mas ainda preciso comprar um caderno tipo fichário pra me organizar melhor, e alguns pincéis, tinta ou lápis de cor aquarelável. Mas quando vou pesquisar vejo tanta coisa linda que nem sei por onde começar e o que compro primeiro. O vontade de ser rica e comprar tudo sem peso na consciência.

Já fazia um tempão que eu tinha colocado alguns decks de tarô e oráculos na minha wishlist mística, entre eles os oráculos de Season of the Witch, mas acabei dando uma pausa porque foquei nos jogos de tabuleiro. Mas, quando vi que o Samhain voltou pro estoque da Amazon e junto com ele ainda tinha o Yule (o segundo da coleção), já sai comprando antes que esgotasse de novo e eu ficasse sem (inclusive devo ter comprado o último, pq ele já esgotou de novo e sabe-se lá quando volta a ficar disponível). Lembro que depois que o primeiro oráculo ficou esgotado na Amazon o preço em outras lojas aumentou o triplo e eu quase morri. Agora é esperar a Amazon trazer o Beltane (o terceiro que lançou não faz muito tempo e é lindo demais) pra eu não precisar comprar importado e correr risco de ser taxado, e eu me lascar.

A caixa de jogos foi bem gorda, já testei Night Parade e Wingspan sem as expansões, e ainda não testei o Tortuga 1667. Assim que jogar vou tentar trazer a review sobre eles porque além de adorar me divertir com as crianças e passar um tempo de qualidade longe de telas, tô gostando muito de dar uma diversificada trazendo esse conteúdo aqui pro blog.

No mais, o que chegou foi isso aqui, oh:

A Longa Marcha - Stephen King/Richard Bachman

21 de janeiro de 2023

Título:
A Longa Marcha
Autor: Stephen King/Richard Bachman (pseudônimo)
Editora: Suma
Gênero: Distopia/Terror/Thriler
Ano: 2023
Páginas: 296
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Contrariando a vontade da mãe, o jovem Ray Garraty está prestes a participar da famosa prova de resistência conhecida como A Longa Marcha, que presenteia o vencedor com “O Prêmio”; qualquer coisa que ele desejar, pelo resto da vida.
No percurso anual que reúne milhares de espectadores, cem garotos devem caminhar por rodovias e estradas dos Estados Unidos acima de uma velocidade mínima estabelecida. Para se manter na disputa, eles não podem diminuir o ritmo nem parar. Cada infração às regras do jogo lhes confere uma advertência. Ao acumular mais de três penalidades, o competidor é eliminado ― de forma “permanente”. E não há linha de chegada: o último a continuar de pé vence.

Resenha:
A Longa Marcha é um dos livros independentes de Stephen King escritos sob o pseudônimo Richard Bachman. O livro inaugura essa nova coleção que será relançada pela Suma.

Ray Garraty está prestes a participar de uma prova de resistência chamada "A Longa Marcha", onde cem competidores são escolhidos pra participar, porém somente um poderá chegar até o fim e ser o vencedor. Esse é um evento anual com um percurso longo que passa por várias cidades, e é um tanto famoso, tanto que reúne milhares de espectadores. O prêmio para quem ganhar é o que ele quiser, desde que ele seja o último a sobreviver...

Ray é o competidor 47, que resolveu participar dessa caminhada mesmo que sua mãe não tenha gostado nada da ideia. A competição vai colocar a resistência dos competidores a prova, e se não derem conta de manter um determinado ritmo de acordo com a distância percorrida ou cometerem erros, eles recebem advertências. O caminho é difícil e eles precisam superar a fome, o sono e o cansaço sem cogitar fracassar ou desistir, caso contrário são executados.

Mesmo que o livro tenha sido escrito no final da década de 70, a crítica social é super atual e relevante, pois vemos um grupo de competidores, cuja maioria sequer sabe o motivo real que os levou a decidir participar desse evento, que enquanto estão alí a beira da exaustão, surtando e desmoronando tanto física quanto psicologicamente, os espectadores vibram a medida que o sofrimento aumenta e as mortes acontecem cada vez mais.
A leitura é um pouco cansativa, não vou negar. O ritmo é lento com uma tensão que perdura do começo ao fim, e por ter sido escrito numa época diferente, os costumes e o comportamento da sociedade descritos é capaz de revirar o estômago (aquela história do machismo, da misoginia e afins que o King insistia em enfiar em suas histórias), tanto quanto a própria caminhada, que é tão angustiante quanto desesperadora.

É muito agonizante acompanhar o desmoronamento gradual dos participantes, ver que alguns que pareciam estar com a vantagem estão ficando pra trás, mas pior que isso é perceber que a medida que o evento progride, as pessoas vão ficando cada vez mais vazias de si, e isso levanta questionamentos sobre o valor da vida e o que significa o desejo de viver numa sociedade doentia.
A Longa Marcha é uma distopia sombria, que traz questões acerca de se atingir um objetivo quando as pessoas são movidas pelo desespero e pela dor.

Todo Dia a Mesma Noite - Daniela Arbex

20 de janeiro de 2023

Título:
Todo Dia a Mesma Noite - A História Não Contada da Boate Kiss
Autora: Daniela Arbex
Editora: Intrínseca
Gênero: Não ficção
Ano: 2018
Páginas: 248
Nota:★★★★★
Sinopse: Reportagem definitiva sobre a tragédia que abateu a cidade de Santa Maria em 2013 relembra e homenageia os 242 mortos no incêndio da Boate Kiss.

Daniela Arbex reafirma seu lugar como uma das jornalistas mais relevantes do país, veterana em reportagens de fôlego - premiada por duas vezes com o prêmio Jabuti - ao reconstituir de maneira sensível e inédita os eventos da madrugada de 27 de janeiro de 2013, quando a cidade de Santa Maria perdeu de uma só vez 242 vidas.
Foram necessárias centenas de horas dos depomentos de sobreviventes, familiares das vítimas, equipes de resgate e profissionais da área da saúde - ouvidos pela primeira vez neste livro -, para sentir e entender a verdadeira dimensão de uma tragédia sobre a qual já se pensava saber quase tudo. A autora construiu um memorial contra o esquecimento dessa noite tenebrosa, que nos transporta até o momento em que as pessoas se amontoaram nos banheiros da Kiss em busca de ar, ao ginásio onde pais foram buscar seus filhos mortos, aos hospitais onde se tentava desesperadamente salvar as vidas que se esvaíam. Foi também em busca dos que continuam vivos, dos dias seguintes, das consequências de descuidos banalizados por empresários, políticos e cidadãos.

Resenha: Em 27 de janeiro de 2013 uma das piores tragédias já vistas no mundo aconteceu na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul: 242 jovens, com idade entre 18 e 30 anos, morreram no incêndio da Boate Kiss. 10 anos depois, a tragédia ainda causa muito abalo, seja por ter afetado as famílias das vítimas pra sempre, ou por todos os absurdos que vieram à tona durante as investigações e o julgamento dos responsáveis.
Todo dia a Mesma Noite, da jornalista Daniela Arbex, foi escrito 5 após após a tragédia, mas continua atual e muito necessário pra compreendermos o quanto as coisas no Brasil são tratadas com negligência quando o assunto envolve justiça, política, dinheiro e oportunismo. A Netflix já está prestes a lançar uma minisérie sobre o ocorrido após esses 10 anos de um enorme luto que se tornou e continua a ser uma luta.

A autora coletou centenas de horas de depoimentos dos familiares das vítimas, dos profissionais de saúde e das equipes de resgate que trabalharam incansavelmente, e dos sobreviventes para criar essa reportagem comovente, humana e cheia de detalhes em forma de livro, para que as pessoas entendessem que o acidente além de ter deixado vários mortos, ainda destruiu e mudou completamente a vida de quem ficou. É possível ver de perto a angústia e a dor das famílias ao procurarem desesperadamente por notícias e saber que o pior tinha acontecido, ou ainda ter que lidar com situações escabrosas vindas de pessoas sem um pingo de humanidade, como foi o caso das funerárias que superfaturaram vendas de caixões, de políticos tentando se promover, de pessoas "religiosas" que culparam os pais pela morte dos filhos por permitirem que eles frequentassem lugares do "diabo", do ministério público processando os pais enlutados e clamando por justiça por "calúnia", e até de outras criaturas abismais que tentaram tirar fotos dos corpos descobertos das vítimas enfileiradas no ginásio sem se preocupar com a violação terrível que estavam cometendo e pra fazer sabe-se lá Deus o que. Em contrapartida, a autora também fala sobre o altruísmo de boa parte da população que fez de tudo pra ajudar, como taxistas que levaram as pessoas aos lugares sem cobrar, moradores que ajudaram as pessoas com água e comida, e até pessoas que conseguiram escapar mas tiveram o instinto de voltarem pra boate pra tentar resgatar mais gente. Alguns sobreviveram, mas outros não tiveram essa sorte, pois na intenção de ajudar, acabaram perdendo suas vidas também.

Apesar de ser um livro com capítulos curtos e de leitura muito rápida, levei 3 dias pra ler, pra poder lidar com os fatos, pra digerir a tragédia, pra me recompor e ter um pouco de forças pra continuar, mas no final o esforço vale a pena. A autora fala tudo aquilo que precisa ser dito com empatia, respeito e solidariedade, mas sem diminuir a dimensão do que essa tragédia representou.
É uma leitura difícil e pesada, que emociona pela abordagem delicada sobre como era a vida de alguns desses jovens que perderam suas vidas, como eles eram, o que faziam, seus sonhos, SEUS NOMES, e o relacionamento com suas famílias que foram interrompidos por uma tragédia que poderia ter sido evitada se várias irregularidades não tivessem sido cometidas, causando uma grande revolta, mas acredito ser muito necessária pra podermos compreender que existe pessoas boas e dispostas a ajudar o próximo, mas também há muita podridão na sociedade que desmecere ou tenta lucrar em cima da dor e do sofrimento alheio.

Almanaque Heartstopper - Alice Oseman

17 de janeiro de 2023

Título:
 Almanaque Heartstopper
Autora: Alice Oseman
Editora: Seguinte
Gênero: HQ/Romance/Juvenil
Ano: 2022
Páginas: 160
Nota:★★★★☆
Sinopse: Você já parou para pensar se tem mais a ver com Nick ou com Charlie? E o que a Turma de Paris faz em cada estação do ano? Ou mesmo como nossos personagens favoritos eram nos primeiros rascunhos de Alice Oseman? Este livro contém todas as respostas – e muito mais!
Este almanaque é a leitura ideal para todo leitor apaixonado pelo universo de Heartstopper. Entre ilustrações divertidas – já imaginou o Nick com asas? –, textos inéditos e atividades interativas, Alice Oseman nos conduz pelo universo apaixonante desta história que já conquistou milhões de leitores ao redor do mundo.

Resenha: Almanaque Heartsopper é um copilado de informações sobre o processo criativo de Alice Oseman ao criar esse universo tão queridinho pelos leitores.

Ele funciona mais como um guia onde a autora conta quando começou a ilustrar os personagens lá em 2013 até 2021 (quando os quadrinhos viraram série na Netflix), assim como as mudanças e aperfeiçoamentos que fez ao longo do tempo pra deixá-los com essas carinhas fofas e carismáticas que conhecemos. Além disso, ela também deixa uma ficha de perfil pra cada um, mostrando curiosidades sobre as coisas que gostam e não gostam, incluindo uma ilustração de um player com o nome da música preferida deles, além de um resumo sobre o papel desse personagem na história e um pouquinho sobre sua personalidade e comportamento.
A autora fala sobre a importância de ter feito ilustrações e personagens que representem o orgulho LGBTQIAPN+, como ainda existe um caminho longo a ser percorrido em busca dos direitos trans e a necessidade de se fazer reformas nas leis para que haja o reconhecimento de gênero dessas pessoas para que sejam tratadas de forma igualitária na sociedade.
O almanaque não traz uma história como nos outros livros porque a ideia é realmente mostrar o processo criativo desse universo, mas traz dois mini contos bem curtinhos sobre os professores Farouk e Ajayi, de Tara e Darcy e, claro, de Nick e Charlie, que complementam um pouquinho aquilo que os fãs já conhecem e dão aquele quentinho no coração.
O livro é todo colorido e o uso de cores em tons pastel só deixa a coisa ainda mais fofa do que já é. Tem até um pequeno teste pra descobrirmos se somos mais parecidos com Nick ou Charlis de acordo com suas preferências. A autora capricha nas ilustrações temáticas das estações do ano ou de algum evento, como Natal e Halloween, e ainda mostra outros cenários de universos alternativos que já deixa o leitor imaginando um milhão de possibilidades onde a história poderia se passar. A criação dos cômodos das casas e suas inspirações que servem de cenário para a história também é super legal, a ideia de trazer mais sobre a composição familiar e a árvore genealógica dos meninos é muito interessante, e de bônus a autora ainda traz um pequeno tutorial de como desenhar os personagens.
No final a vontade de reler a série é inevitável, assim como conhecer os outros livros da autora que tem esses outros personagens como protagonistas.

Não digo que seja um livro essencial porque ele realmente funciona como uma apresentação dos livros de Heartstopper (ou pra matar a saudade de quem já leu tudo), tanto que pode ser lido em coisa de meia hora, mas pra quem tem curiosidade sobre os livros da autora e quer saber sobre os personagens e a criação deles de uma forma mais resumida antes de sair comprando tudo, talvez seja uma boa dar uma lida pra ter certeza de que é algo do seu estilo.
Agora, pra quem realmente é fã da autora e desse universo tão inclusivo e cheio de representatividade que ela criou, acho que a leitura não é só recomendada, como é um item pra se colecionar e guardar no coração.