Wishlist #24 - Card Games - Verdant

22 de maio de 2023

Na pegada de jogos família e sem muito fuzuê, já fiquei de olho no Verdant, um jogo de cartas com componentes bem bonitinhos em que o jogador assume o papel de um entusiasta de plantinhas ornamentais que deve montar a casa mais fofa e aconchegante possível.
É um jogo de grid, com colocação de peças bem voltado pro quebra cabeças e coleção de conjuntos, e o jogador, basicamente, precisa decorar a casa e fazer combinações de cartas a fim de posicionar as plantas adjacentes aos cômodos para favorecer a iluminação necessária e somar mais pontos de vitória.
Já fiquei apaixonada nas artes, no tema, nas folhas de madeirinha e quero.

Verdant
Editora/Fabricante: Grok Games
Criadores: Molly Johnson, Robert Melvin, Aaron Mesburne, Kevin Russ, Shawn Stankewich
Idade recomendada: 10+
Jogadores: 1-5
Descrição: Verdant é um jogo de cartas para 1 a 5 jogadores. Você assume o papel de um entusiasta de plantas domésticas tentando criar o espaço interior mais aconchegante, coletando e organizando plantas e outros objetos dentro de sua casa. Você deve posicionar suas plantas de forma que tenham as condições de luz mais adequadas e cuidar delas para criar a coleção mais verdejante.
A cada turno, você seleciona um par adjacente de uma carta e ficha e, em seguida, usa esses itens para construir um grid de cartas cada vez maior que representa sua casa. Você precisa manter vários objetivos em mente ao tentar aumentar o verde das plantas fazendo combinações espaciais e usando fichas de itens para realizar várias ações de cultivo. Você também pode desenvolver suas habilidades de "dedo verde", o que permite realizar ações adicionais para cuidar de suas plantas e criar o espaço mais aconchegante!


Wishlist #23 - Board Games - The Loop

17 de maio de 2023

The Loop é um jogo cooperativo com temática de viagem no tempo onde os jogadores são Agentes Temporais que precisam bolar uma boa estratégia e ainda contar com a sorte para impedir o vilão Dr. Foo, que construiu uma máquina do tempo e está espalhando clones de si mesmo através de fendas no espaço-tempo, de dominar o universo.
Os personagens tem habilidades diferentes, o que torna o jogo um pouco assimétrico e, até onde pesquisei, não é muito fácil de vencer. Ele ainda tem 4 modos com níveis de dificuldade diferentes e já imagino que se o modo básico é difícil, penso o caos e o Deus nos acuda que é o mais difícil.
Já fiquei curiosa por ser um jogo bem colorido, com temática interessante e por que aqui em casa todo mundo anda preferindo jogos coop do que qualquer outro.
Bora aproveitar a promoção que achei antes que aumente e fique incomprável.

The Loop
Editora/Fabricante: Across the Board
Criadores: Maxime Rambourg, Théo Rivière
Idade recomendada: 12+
Jogadores: 1-4
Descrição: The Loop é um jogo cooperativo peculiar no qual você luta contra o malvado Dr. Foo. Jogue um Agente Temporal em quatro modos de jogo diferentes, cheios de novos desafios e valor de repetição. Reúna artefatos poderosos, desafie as duplicatas do Doctor e sabote sua máquina maníaca. Aproveite ao máximo seus cartões e domine o LOOP para usá-los várias vezes em cadeias impressionantes - mas o Doctor não vai facilitar isso para você!
O malvado Dr. Foo construiu uma máquina do tempo terrível! Com a ajuda de duplicatas de si mesmo que vem criando ao longo dos tempos, ele pretende realizar seu projeto Omniscience 2000 para se tornar o mestre do universo. Mas as fendas que ele está abrindo no espaço-tempo provavelmente destruirão o espaço quântico muito mais cedo ... Junte-se à Agência na pele de um de seus agentes mais lendários e coopere para frustrar os esquemas diabólicos do Doutor Foo, usando artefatos peculiares, mas ainda poderosos.

Esse é pra Casar - Alexis Hall

16 de maio de 2023

Título:
 Esse é pra Casar - London Calling #2
Autora: Alexis Hall
Editora: Paralela
Gênero: Romance
Ano: 2023
Páginas: 416
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: Luc e Oliver têm uma história peculiar. Depois de terem decidido começar um namoro de mentira para enganar a mídia, eles se apaixonaram de verdade e descobriram que podiam até não ser perfeitos, mas eram perfeitos um para o outro. Só que… casais perfeitos devem se casar, certo? Pelo menos é o que parece, a julgar pelo seu grupo de amigos.
Quando o ex-namorado de Luc (sim, o mesmo que passou a perna nele, destruiu sua autoestima e quase o arruinou para relacionamentos em geral, mas quem liga?) o convida para seu casamento, ele começa a pensar que talvez seja hora de seguir os mesmos passos.
O que Luc não sabe é que chegar ao altar não é tão simples quanto parece, principalmente quando envolve o filho instável de ex-estrelas do rock e um advogado certinho e perfeccionista. Mas Luc e Oliver se amam, e isso é tudo que importa, não é? Então o que poderia dar errado?

Resenha: Esse é pra Casar é o segundo volume da trilogia London Calling, escrita pela autora Alexis Hall e publicado no Brasil pelo selo Paralela, da Companhia das Letras.

No livro anterior, acompanhamos Luc e Oliver, que forjam um namoro pra abafar alguns escândalos e enganar a mídia mas, como era esperado, eles acabam se apaixonando de verdade e começam a viver um amor onde tudo indicaria um final feliz. Agora, dois anos já se passaram desde quando eles assumiram um relacionamento e o casal parece estar muito bem. A história começa quando Luc está numa despedida de solteira de uma amiga, e Miles, seu ex namorado que quase arruinou sua vida, aparece anunciando que vai se casar com o noivo.
Então ele percebe que as pessoas de seu convívio social estão dando um passo maior em seus relacionamentos e estão prestes a se casar, e Luc começa a refletir que ele e Oliver já passaram dos 30, que estão juntos já faz dois anos, que estão felizes, que têm estabilidade, e que talvez seja hora de dar esse passo também.

Ao que parece, a autora se baseou no filme "Quatro Casamentos e Um Funeral" e as comédias românticas dos anos 90 pra escrever essa continuação, mas não achei que ficou sequer parecido. O livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Luc e é dividido em cinco partes, mas essas partes parecem histórias avulsas que não se conectam direito e ainda são repetitivas e forçadas. As três primeiras partes trazem histórias em que o foco está nos casamentos de personagens secundários e como cada um deles lidam com as próprias relações e o planejamento dessa união, e as duas últimas nas expectativas e nos preparativos do tão esperado casamento de Luc e Oliver. A sensação que tive foi a de estar lendo contos sobre lembranças, pensamentos e divagações desconexos em vez de uma história fluída como supôs a sinopse e o próprio título. Inclusive acredito que se em vez da autora tivesse escrito um conto pra mostrar como estavam os personagens após o final do primeiro livro, teria sido muito melhor e faria muito mais sentido do que dispersar a história e arrastá-la dessa forma.

Basicamente a autora dá uma "aula" sobre o conceito do casamento heteronormativo e seus privilégios, e das dificuldades legais pra se formalizar uma união homoafetiva apontando o preconceito, o conservadorismo, a política e a religião como empecilhos. Embora ela tenha enchido o livro com piadas, ela consegue abordar o tema de uma forma sensível, porém com ressalvas. Não sei se entendi errado ou se foi apenas impressão minha, mas senti que a autora, ao falar sobre esses conceitos insinuou algumas vezes o quanto o casamento é uma instituição falida e ruim. No meio desses assuntos ela também fala de outros que podem ser verdadeiros gatilhos, como a homofobia, a negligência familiar, o luto e afins, mas sendo bem sincera, existem melhores opções de leitura que abordam esses temas de uma forma melhor e mais eficiente.

O relacionamento de Luc e Oliver é meio caótico porque Luc é totalmente fora da casinha, pra não dizer idiota, fala e faz coisas desnecessárias que ninguém acredita, e causa brigas sem sentido nenhum, mas não sei se foi por ele estar diante de dar um passo tão grande em sua vida ele acabou revelando quem ele é de verdade ou sei lá, mas eu simplesmente odiei. Fiquei super incomodada com tudo aquilo que supostamente deveria ser engraçado e acabei achando que o bom humor do livro não existiu e só mostrou os sinais de alguém do qual a gente deve fugir na primeira oportunidade. Não sei se a intenção da autora era mostrar o lado "imperfeito" de Luc ou o quê, mas quando o personagem é um saco e, no final das contas, não importa o que aconteça, ele continua sendo um saco, eu sinto que perdi meu tempo investindo numa leitura que parece não ter nenhum objetivo. A única coisa que consegui enxergar aqui foi uma dificuldade de comunicação gigantesca entre dois adultos e como Luc foi insensível às necessidades e aos sentimentos de Oliver, principalmente quando ele supõe que Oliver está "sendo gay errado" por causa de uma coisa ridícula.

Eu sinceramente considero essa sequência totalmente descartável. Além de não ter acrescentado nada de útil e interessante à história do casal, só mostrou um Luc mais idiota e antipático do que nunca. A tentativa de passar uma lição no final das contas foi completamente invalidada pelo desfecho brochante, e qualquer resquício de satisfação e quentinho que os personagens apresentaram lá no primeiro livro sumiu.

Levei em consideração a leveza e a diversão descompromissada do primeiro livro pra ler esse, pensando que, a partir do título do livro, a história ia ser tão divertida quanto a primeira trazendo a questão do noivado e do eventual casamento desses dois, mas infelizmente não foi nada do que esperei e ao final só restou o desgosto. Agora cá estou eu, com aquela sensação ruim de ter "lido errado" por ter enxergado mais defeito do que qualidade e não ter aproveitado nada dessa leitura.

Review - Sushi Go!

14 de maio de 2023

Título:
Sushi Go!
Editora/Fabricante: Devir
Criador: Phil Walker-Harding
Idade recomendada: 8+
Jogadores: 2-5
Nota:★★★★★
Descrição: No jogo de cartas Sushi Go, você está comendo em um restaurante de sushi e tentando pegar a melhor combinação de pratos. Você ganha pontos para coletar o maior número de rolos de sushi ou fazer um conjunto completo de sashimi. Mergulhe o nigiri favorito em wasabi para triplicar o seu valor! E uma vez que você comeu tudo, termine a sua refeição com todo o pudim que tiver!

Sushi Go é um party game com sistema de draft com a temática da minha comida preferida: comida japonesa!
O jogo é bem simples e a quantidade de cartas que cada um recebe vai depender da quantidade de jogadores. Ele tem duração de três rodadas e cada jogador vai escolher uma carta mantendo-a virada pra baixo na sua frente. Em seguida, todo mundo revela a carta e passa as cartas restantes pro jogador da esquerda. Ao final da rodada, como as cartas voltam pra pilha pra serem distribuídas de novo, é preciso anotar a pontuação. Um novo turno começa e assim segue sucessivamente, onde os jogadores vão montando seus combos de cartas que permanecem até o final da partida, porém com cada vez menos cartas que são passadas pra frente. Quando a última carta de cada mão for passada, ela deve ser baixada pra combinar (ou não) com as outras que já estão na mesa. Daí é só somar os pontos de todas as rodadas pra ver quem é o vencedor que fez os melhores e mais saborosos combos.



As cartas trazem uma arte muito bonitinha em estilo kawaii feitas pela ilustradora Nan Rangsima, e vem numa latinha super fofa. O insert acomoda todas as cartas, desde que não estejam com sleeves. Como gosto de sleevar as cartas pra não sujar nem desgastar, acabei tendo que descartar o póbi.
O manual é pequenininho, ilustrado e colorido, com regras objetivas e fáceis de entender.

Temos cartas de Tempurá (que sozinha não vale nada mas valem 5 pontos quando são postas em dupla), Sashimi (que só marcam 10 pontos a partir de grupos de três cartas), Gyoza (os pontos vão se multiplicando de acordo com o tamanho do combo), Maki (cada carta de maki mostra uma quantidade que deve ser somada, e o jogador que tiver mais Makis marca 6 pontos ao final da rodada), Nigiri de lula (marca 3 pontos), Nigiri de salmão (marca 2 pontos), Nigiri de ovo (marca 1 ponto), Pudim (quem tiver mais pudins ao final da partida ganha 6 pontos), Wasabi (que sozinha não vale nada, mas combinada com algum Nigiri triplica sua pontuação) e as cartas de Hashi (que não vale nada mas dão uma vantagem ao jogador permitindo que ele baixe duas cartas em vez de uma na próxima rodada, porém essa carta volta pra mão depois de usada pra que ela possa ser repassada obrigatoriamente ao próximo jogador e ele também tenha a chance de usá-la se quiser).



Com o sistema de draft, e sabendo quantas cartas de cada tipo existem, dá pra ter uma noção das cartas que o outro jogador tem em mãos pra tentar prever o que ele vai fazer em sua jogada, então requer uma certa estratégia e atenção na mesa pra fazer mais pontos do que os adversários observando o que já foi baixado e o que ainda falta. Como há diversas combinações de cartas que podem somar muitos pontos, é preciso aproveitar as melhores oportunidades e fazer jogadas inteligentes, pois existem cartas que sozinhas não valem nada. Também vale a pena considerar colecionar cartas especiais que vão render mais pontos ao final do jogo, como é o caso da carta de Pudim.



O jogo é divertido, leve e super dinâmico, todos os jogadores jogam simultaneamente então é preciso pensar rápido na hora de baixar a carta e passar as demais pra frente. É até engraçado porque, às vezes, baixamos uma carta que outro jogador precisa pra pontuar, e sempre vai ter aquela disputa. Roda bem a partir de 3 jogadores, de 2 achei bem sem gracinha, e acho que o limite de 5 jogadores, apesar de ideal, é pouco quando o grupo de jogadores é grande. Já existe o Shushi Go Party que é pra até 8 pessoas, pena que ainda não foi lançado no Brasil (e nem sei se vai, Devir, por favor, nunca te pedi nada).

Pra quem procura por um jogo bacana e descompromissado, independente de ser iniciante ou não no hobbie, vale super a pena. Aqui em casa faz o maior sucesso e as crianças adoram. Impossível jogar uma partida só. Único defeito é as comidinhas serem de mentira e dar aquela fome.

O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder (Audiolivro)

12 de maio de 2023

Título:
O Mundo de Sofia (Audiolivro)
Autor: Jostein Gaarder
Narração: Paulo Vinicius Justo Fernandes
Editora: Seguinte
Gênero: Infanto Juvenil
Ano: 2012
Duração: 21h 50min (568 páginas)
Nota:★★★★★
Sinopse: Às vésperas de seu aniversário de quinze anos, Sofia Amundsen começa a receber bilhetes e cartões-postais bastante estranhos. Os bilhetes são anônimos e perguntam a Sofia quem é ela e de onde vem o mundo. Os postais são enviados do Líbano, por um major desconhecido, para uma certa Hilde Møller Knag, garota a quem Sofia também não conhece. O mistério dos bilhetes e dos postais é o ponto de partida deste romance fascinante, que vem conquistando milhões de leitores em todos os países e já vendeu mais de 1 milhão de exemplares só no Brasil. De capítulo em capítulo, de “lição” em “lição”, o leitor é convidado a percorrer toda a história da filosofia ocidental, ao mesmo tempo que se vê envolvido por um thriller que toma um rumo surpreendente.
Resenha: Publicado originalmente em 1995, O Mundo de Sofia, do autor norueguês Jostein Gaarder, é o maior best-seller da Companhia das Letras, e já teve mais de 1 milhão de exemplares vendidos só no Brasil.

Sofia Amundsen é uma adolescente que está prestes a completar quinze anos. Ela mora com sua mãe (que sempre chega muito tarde em casa e vive reclamando da quantidade de animais que a filha tem), seu pai (que trabalha como capitão num petroleiro e fica fora de casa praticamente o ano inteiro) e com seus animais de estimação (peixinhos ornamentais, periquitos, uma tartaruga e o gato Sherekan) como uma forma de compensação pela ausência dos pais. Ela sempre se pega pensando em diversas questões da vida, não fica satisfeita com as respostas que encontra por aí, fica procurando sentindo nas coisas e está sempre curiosa pela origem de tudo.
Um dia, enquanto voltava da escola, Sofia pega uma correspondência em seu nome que estava na caixa de correio, e fica intrigada com a única pergunta no papel dentro de um envelope sem remetente: "Quem é você?". Em seguida ela recebe outra carta anônima com a pergunta "De onde vem o mundo?", e depois recebe um cartão postal endereçado a alguém chamada Hilde Møller Knag, porém aos seus cuidados. Agora Sofia tinha alguns enigmas a serem resolvidos, pois queria saber quem enviou as cartas, qual o significado daquelas perguntas, quem era Hilde e por que alguém estava tentando se comunicar com ela através da própria Sofia. E quando ela menos esperava, um envelope amarelo e maior chegou, e nele estava escrito "Curso de Filosofia, Manuseie com muito cuidado". O texto de apresentação do curso gratuito trouxe uma variedade de questões filosóficas que fez Sofia perder o fôlego, pois alí ela soube que poderia ter todas as respostas para todas as suas perguntas, e tudo isso através de um remetente misterioso que, por incrível que pareça, a resgatou da apatia do cotidiano.
Eu já disse que a única coisa de que necessitamos para ser filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas? Se não, digo agora: A ÚNICA COISA DE QUE NECESSITAMOS PARA SER FILÓSOFOS É A CAPACIDADE DE NOS ADMIRARMOS COM AS COISAS.
A partir daí, Sofia inicia seu curso e mergulha num universo onde as ideias dos principais pensadores conhecidos pela humanidade são apresentadas e abordadas de uma forma bastante simples e didática, passando pela mitologia nórdica, mitologia grega, até a filosofia socrática e a filosofia contemporânea, e a garota passa a questionar não só sua relação com o mundo, mas também sua própria existência.

O livro tem uma narrativa em terceira pessoa com foco em Sofia e sua rotina, e essa narrativa se mescla com as cartas do curso que conversam com a garota e com o próprio leitor. Toda a história é de fácil compreensão e na maioria das vezes flui muito bem. Embora o livro tenha uma quantidade considerável de páginas (e no audiolivro uma quantidade mais considerável ainda de horas), os temas de cada parte do curso são bastante resumidos e limitados, mas não deixam de fazem com que tanto Sofia quanto o leitor reflitam sobre a importância da busca incessante pelo conhecimento e da compreensão do mundo. Tudo isso ainda fica ainda mais interessante enquanto a história avança, pois ao mesmo tempo em que Sofia aprende sobre filosofia, ainda existe a questão do mistério relacionado a Hilde e como a história das duas se entrelaça de uma forma super envolvente.

Embora ache o tema interessante e necessário, não sou tão ligada e nem leio muitas coisas sobre esse tipo de conteúdo, e acredito que O Mundo de Sofia seja uma excelente introdução pra quem tem interesse em começar a estudar sobre a humanidade, a história da filosofia e os principais pensadores por trás dela. Pra mim foi uma leitura muito proveitosa que realmente me tirou da zona de conforto e que me fez pensar em questões que eu nunca havia considerado antes.

Como acompanhei a história pelo audiolivro, fiquei com a sensação de que a imersão foi muito maior e melhor, pois o narrador expressa as devidas emoções e intensidade das frases tornando tudo muito mais empolgante de se acompanhar. Posso dizer ainda que a narração de Paulo Vinícius Justo Fernandes lembra muito a dublagem de filmes dos anos 90, e a sensação é de estar assistindo um filme fofo na sessão da tarde, e é impossível não sentir aquela nostalgia gostosa da infância, mesmo quando ele imita vozes mais fininhas. A combinação foi simplesmente perfeita e certeira. Eu adorei e posso afirmar que foi umas das melhores narrações de livros que já tive o prazer de ouvir, e até as passagens aparentemente mais cansativas ficaram interessantes na voz dele.

Não acho que seja o tipo de livro pra se ler ou ouvir sem pausas, pois por se tratar de temas para pensar e refletir, deve ser digerido aos poucos para um melhor aproveitamento. Fui ouvindo devagarinho, cheguei a discutir alguns pontos com meu marido, e depois retornava sem pressa. Assim, o livro acaba fazendo com que o leitor, assim como Sofia, tenha uma visão de mundo mais aberta e diferente se comparada ao pensamento anterior as questões colocadas e aos conceitos da realidade em que vivemos.

Pra quem gosta de filosofia ou quer ter uma boa noção do que é abordado, é livro tão indicado quanto necessário.

Na Sala dos Espelhos - Liv Strömquist

11 de maio de 2023

Título:
 Na Sala dos Espelhos
Autora: Liv Strömquist
Editora: Quadrinhos da Cia
Gênero: Não Ficção
Ano: 2023
Páginas: 168
Nota:★★★★☆
Sinopse: Por que as fotos que vemos rolar pelo feed das redes sociais podem nos levar a sentimentos de ansiedade, raiva, tristeza e frustração? Quando foi que criamos uma relação voyeurística crônica com nós mesmos? Como, afinal, enxergar a si próprio num mundo dominado pela hiperexposição? Depois dos sucessos de A origem do mundo e A rosa mais vermelha desabrocha, Liv Strömquist volta seu olhar para as imagens que brilham, sedutoras, nas telas dos nossos celulares. Do mito bíblico de Jacó à última sessão de fotos de Marilyn Monroe, da obsessão da imperatriz Sissi da Áustria com magreza e exercício físico ao roubo do busto de Nefertiti ― o rosto mais belo que já existiu ―, a artista sueca investiga o cânone que nos escraviza e tenta encontrar o que há de real atrás de filtros e selfies. Com a ajuda de reflexões de Susan Sontag, Naomi Wolf, Simone Weil, Eva Illouz e da madrasta da Branca de Neve, Na sala dos espelhos se pergunta como a inveja e o instinto competitivo alimentam o consumo compulsivo. Um livro raro, engraçado, com opinião e inteligência singulares.

Resenha: Na Sala dos Espelhos é a terceira HQ focada no universo feminista da autora sueca Liv Strömquist publicada pelo selo Quadrinhos da Cia aqui no Brasil. Nesse volume a autora vai abordar a questão da beleza como um produto a ser ofertado em meio a sociedade de consumo do capitalismo tardio, a necessidade de se vender uma padrão de beleza perfeito, e como esse tipo de conteúdo interfere na vida das reles mortais que acompanham, idolatram e almejam a aparência e o glamour de influenciadoras como Kylie Jenner e afins, fazendo com que existam as que vivem de internet criando de forma compulsiva, e as que vivem na internet consumindo esse conteúdo de forma tão compulsiva quanto.



Vamos acompanhando essa "trajetória" da beleza através de aspectos históricos, filosóficos, políticos e sociológicos e o motivo desse almejo de acordo com a própria concepção de realidade daquela pessoa, seja ele por interesse próprio, pelo interesse em se sentir aceito na sociedade, ou até mesmo pela necessidade de se conseguir ou de se manter um relacionamento.

A autora apresenta estudos e várias teorias de filósofos, sociólogos, escritores e outros, como René Girard, Zygmunt Bauman, Eva Illouz, Hartmut Rosa, Simone Weil e Chris Rojek; exemplos reais encontrados na cultura pop através de celebridades e influenciadores como Kylie Jenner, Kim Kardashian e Marylin Monroe; fatos históricos envolvendo figuras da aristocracia como a imperatriz Isabel da Áustria. Ela também mostra como o machismo, o patriarcado e até a religião estão inseridos nesse contexto mencionando eventos históricos, políticos e bíblicos e como essas questões perduram até a atualidade em tempos de redes acessíveis como Instagram, TikTok e sabe-se lá quais outras redes existem por aí. E, principalmente, como essa ilusão de perfeição e glamour interfere na vida das pessoas.
"Tomamos emprestado nosso desejo do outro, em um movimento tão fundamental, tão original, que o confundimos com a vontade de sermos nós mesmos." - Girard
- Pág. 18

"O essencial é sempre o Outro, um Outro que não importa quem seja, a encarnação de uma totalidade inexpurgável, presente em toda parte e em parte alguma, e que as pessoas insistem em querer seduzir. É o Outro como obstáculo insuperável" - Girard
- Pág. 22

"A fragilidade dos vínculos humanos é atributo proeminente, talvez definidor da vida líquido-moderna." - Bauman
- Pág. 43

"Uma série de novas indústrias ajudou a promover e legitimar a sexualização das mulheres e, mais tarde, dos homens. A sexualidade proporcionou ao capitalismo uma oportunidade fantástica de expansão, porque exigia das pessoas uma incessante encenação de si mesmas e oferecia inúmeras opções para criar um clima sexy. - Illouz
- Pág. 47

"A beleza não contém nenhum fim. A beleza sozinha não é um instrumento para outra coisa. Ela é boa em si, mas não encontramos nela nenhum bem." - Weil
- Pág. 119

"Uma coisa bela não contém nenhum bem senão ela mesma. Vamos até ela sem saber o que lhe pedir. Ela nos oferece a própria existência. Não desejamos outra coisa, possuímos isso, mas continuamos desejando. Não sabemos o quê. Queremos ver por trás da beleza, mas ela é apenas a superfície. É como um espelho que reflete nosso desejo pelo bem." - Weil
- Pág. 123
Assim como nos livros anteriores, a HQ tem ilustrações simples, com textos informativos, bem humorados, irônicos e reflexivos que conseguem transmitir a mensagem que a autora quer passar mesmo que este tenha um tom mais sério (talvez devido a complexidade do tema). O que fica em evidência é a ideia de se viver ilusões, sobre como as pessoas se escravizam e travam verdadeiras batalhas consigo mesmas em nome de um corpo e uma aparência perfeita baseada na aparência de alguém simplesmente inalcançável.

Inicialmente a sensação é que autora quer falar sobre a história da estética e mostrar todos os problemas que dizem respeito a essa busca incessante pelo corpo perfeito, pelo rosto perfeito e pela vida perfeita de influenciadoras que as pessoas encontram nas redes e almejam pra si mesmas a ponto de, em muitos casos, se tornar uma verdadeira obsessão. Isso acaba desencadeando comparações absurdas onde vai aparecer gente que se sinta inferior por não corresponder àquela imagem e tendo problemas seríssimos de autoestima, ou se sentindo pressionada a ser igual a quem acompanha. O livro inclusive lembra do caso em que várias pessoas entraram num desafio descabido de fazerem pressão com a boca num copo pra ficarem com os lábios enormes de tão inchados, porque essa imagem da boca grande e carnuda é a mais bonita, é a mais atrativa, é o que está na moda. A autora não só dá exemplos reais, como também procura na ciência explicações para esses fenômenos comportamentais em que várias pessoas começam a fazer coisas que naturalmente não fariam, se não fossem a influência de outra pessoa.



Ao final, os pontos abordados pela autora e que trazem diversas reflexões sobre essa questão da imagem são um meio de se chegar a mensagem que captei ao ler o livro, que fala da pressão social a que muitas pessoas estão submetidas, das mudanças de padrões que nem sempre são necessárias, da aceitação e autoestima que são os principais fatores submetidos a esses conteúdos, o contraste do que é mostrado nas imagens e o que fica nos bastidores, e principalmente da saúde mental fragilizada por vivermos numa era digital com informações vindas de pessoas que simplesmente definiram o que é beleza e saem por aí impondo e influenciando os outros sem ter a menor ideia das consequências que isso causa. Por mais que determinadas postagens tenham a intenção de mostrar um lado real (ou imperfeito) do que quer que seja, ela não deixa de fazer parte de uma performance consumível que continua alimentando a indústria de anúncios (engordando cada vez mais os bolsos da burguesia) e mantendo as pessoas cada vez mais dependentes de redes sociais e telas em geral.

No mais, acho que o título do livro serviu muito bem, pois ele vai se referir a necessidade que todos deveriam ter de olhar no espelho, em introspecção, pra descobrirmos quem somos na realidade, em vez de olhar e procurar no outro.