Wishlist #28 - Board Games - La Granja (Ed. Master Deluxe)

26 de agosto de 2023

Acho que a maioria das pessoas que gostam de jogos não deixam escapar aqueles com a temática de fazendinha. Seja no celular, no pc ou em jogos de tabuleiro, uma das coisas mais divertidas é botar o chapéu de palha na cabeça e ir pra roça por a mão na massa e ver as coisas progredirem. Durante a partida os jogadores/fazendeiros terão que desenvolver a fazenda criando gado, cuidando da plantação e competir com os advesários para entregarem as mercadorias produzidas ao mercado da cidade quando necessário.

La Granja era um jogo que já estava na minha lista há um tempo, junto com Agrícola e Reykholt, mas eu estava na moita esperando o anúncio da Edição Master Deluxe pra poder colocar a bendita aqui na wishlist do blog. Essa edição tem um design muito mais caprichado, componentes diferenciados, cartas de expansão, cartas promocionais e todo o perequetê que essas edições de luxo trazem pra nos levar a falência. A única tristeza é que essa edição lançada pela Galápagos aqui no Brasil parece não vir com as moedas de metal, como é lá na gringa. Mas, apesar da caixona gigante com detalhes dourados que é a cara da riqueza, não se pode ter tudo, não é mesmo?

La Granja
Editora/Fabricante: Galápagos
Criadores: Michael Keller e Andreas "ode" Odendahl
Idade recomendada: 14+
Jogadores: 1-4
Descrição: La Granja Master Deluxe é uma versão atualizada e expandida do jogo La Granja de 2014 em que 1 a 4 jogadores gerenciam pequenas fazendas no lago Alpich perto da vila de Esporles em Maiorca.
Os jogadores devem considerar cuidadosamente as decisões de quais dados escolher, quais cartas jogar, quando e onde entregar mercadorias aos vários mercados e como melhor utilizar os poderes flexíveis proporcionados por várias ações "a qualquer hora".
As cartas multiuso oferecem quatro opções diferentes para os jogadores escolherem. Decida se deseja usar a carta como uma extensão de seus campos (aumentando sua capacidade de cultivar azeitonas, grãos ou uvas), como uma extensão de sua fazenda (aumentando o número de porcos que você pode abrigar, as entregas que você pode fazer, ou as moedas que você ganhará a cada rodada), como um carrinho de mão de mercado (fornecendo um contrato pessoal que você pode cumprir por recompensas valiosas) ou como um ajudante contratado (cada um fornecendo uma capacidade única e poderosa para melhorar suas ações).

Créditos da imagem: Kira Peavley

O Demônio na Floresta - Leigh Bardugo

Título:
O Demônio na Floresta: Uma graphic novel de Sombra e Ossos
Autora: Leigh Bardugo
Ilustrações: Dani Pendergast
Editora: Planeta/Minotauro
Gênero: Fantasia/Jovem Adulto/Graphic novel
Ano: 2023
Páginas: 208
Nota:★★★★★
Sinopse: Antes de Ravka ser liderada pelo Segundo Exército, antes da criação da Dobra das Sombras, e muito antes de ele se tornar o Darkling, havia um garotinho solitário oprimido pelo seu próprio poder extraordinário.
Eryk e sua mãe, Lena, passaram suas vidas inteiras fugindo. Mas eles nunca encontrarão o refúgio que tanto buscam. Eles não são somente Grishas – eles são os mais raros e perigosos desse grupo.
Temidos pelos que querem destruí-los e perseguidos pelos que desejam explorar seus dons, Eryk e Lena precisam mascarar suas habilidades a todo momento. Mas os segredos mais perigosos são os mais difíceis de esconder...

Resenha: O Demônio na Floresta é uma graphic novel que faz parte do GrishaVerso criado pela autora Leigh Bardugo. Ele antecede em muitos e muitos anos todos os acontecimentos que se passam na trilogia principal.

Nele vamos conhecer uma pequena passagem da vida de Aleksander Morozova, numa época em que ele era um jovem subestimado e oprimido pelo próprio poder, que só tinha Baghra, sua mãe, como companhia e a única em quem podia confiar. A história se passa antes de Ravka ser liderada pelo Segundo Exército, antes da criação da Dobra das Sombras, num período em que o mundo não era um lugar seguro para os Grishas, e antes dele se tornar o Darkling - o temido Conjurador das Sombras desse universo cheio de fantasia e muita ação.

Aleksander e sua mãe, que também é uma Conjuradora das Sombras, vivem fugindo de um lugar pra outro e mudando seus nomes para não serem encontrados por caçadores de bruxas, também chamados de drüskelle, que os perseguiam. Desta vez eles vão se passar por "Eryk" e "Lena" e, cansados de fugir, só queriam um lugar pra poderem permanecer por mais tempo sem levantar suspeitas. A próxima parada é um pequeno acampamento de Grishas que os acolhem e que, aparentemente, é seguro. O problema é que quanto mais tempo eles passam num local, mais vulneráveis ficam, consequentemente, mais perigoso é. O poder de Eryk precisa ser escondido até mesmo dos próprios Grishas, pois eles também poderiam se aproveitar desse poder para benefício próprio.











Não há muitos personagens e o formato da história limita um maior aprofundamento sobre eles, mas o pouco que há é suficiente pra conhecermos quem são, o que fazem e como suas personalidades e poderes os afetam. No acampamento, Eryk conhece as irmãs Annika e Sylvi. Annika é a irmã mais velha, uma jovem Hidro cujo poder não é forte o bastante, o que a deixa bastante frustada já que vive sendo diminuída pelo filho irritante do Ulle, o líder o acampamento. Sylvi é uma criança bastante curiosa, impulsiva e um tanto teimosa (e irritante), e seus poderes não se manifestaram, o que a deixa bastante inquieta e ansiosa. Logo ela se mete em situações perigosas e precisa da proteção da irmã a todo momento.
Lena é uma mulher forte e que se impõe para não ser subjugada por ninguém, mas ela se preocupa tanto com o filho que não mede esforços para fazer qualquer coisa que for preciso para protegê-lo. Qualquer coisa. Desde seus ensinamentos brutais até suas medidas extremas.

Quando os Grishas decidem que precisam caçar um Amplificador, um enorme Urso que andava pela floresta, as coisas começam a sair do controle e Eryk percebe que aqueles Grishas não são exatamente quem ele pensava que fossem. Essas situações vividas por ele acabam por moldá-lo para que, no futuro, ele se torne o Darkling que conhecemos. O pouco que acontece na história mostra que Eryk, até então, tem boas intenções mas, ao que parece, a maldade e a ganância daqueles que cruzaram seu caminho acabaram por fazer com que ele deixasse de acreditar que poderia confiar em alguém. Assim, sem ter mais recortes de sua vida, fica difícil afirmar se ele é mesmo esse vilão tão terrível, ou se era um herói incompreendido que se permitiu ser corrompido a medida que se decepcionava cada vez mais.


As ilustrações feitas por Dani Pendergast são maravilhosas e trazem uma paleta de cores que misturam cores frias e quentes de uma forma super agradável e bonita de se ver. Os personagens são expressivos e as cenas são retratatas com a devida intensidade para que as imagens possam valer mais do que as palavras. Os balões de pensamento de Eric em forma de sombras foram uma sacada genial e que representam bem seu interior.

O único ponto negativo do livro é que a história é curtinha e ele acaba rápido demais. É impossível não ficarmos curiosos com mais detalhes da vida de Aleksander e como ele passou a lidar com seu poder até se tornar o Darkling.
Pra quem gosta da saga e quer ter mais detalhes sobre esse vilão que amamos odiar (ou talvez odiamos amar), é leitura super indicada e espero que a autora continue investindo nesse formato de graphic novel para se aprofundar e trazer mais detalhes do que aconteceu até o auge do Darkling.

Wishlist #27 - Card Games - Radlands

23 de agosto de 2023

Já faz uns meses que Radlands foi lançado mas a temática pós apocalíptica e cyberpunk que lembra bastante Mad Max, onde o recurso mais precioso é a água, é um estilo super interessante e é jogo que não poderia ficar de fora da minha listona de desejos sem fim. Aqui o jogador vai precisar defender suas bases e destruir as bases do oponente enquanto usa a pouca água que tem para poder gerenciar as cartas de pessoas e eventos, além de poder usar habilidades, que vão dar vantagens e mais força a ele.

Radlands
Editora/Fabricante:
Galápagos
Criador: Daniel Piechnick
Idade recomendada: 14+
Jogadores: 2
Descrição: Em um mundo pós-apocalíptico cyberpunk, a luta pela sobrevivência é intensa - você está pronto para liderar sua tribo em Radlands?
Em Radlands, jogadores receberão três bases únicas para proteger. Você vence quando destrói todas as três bases do seu oponente. O principal recurso no jogo é água. Você irá gastá-la para jogar pessoas e eventos, e para usar as habilidades de cartas que já possuir na mesa. Pessoas protegem suas bases e possuem habilidades úteis, enquanto eventos são efeitos poderosos que levam um certo tempo para acontecerem.
Ambos os jogadores compram cartas do mesmo baralho. Todas as cartas na sua mão podem ser jogadas na mesa ou utilizadas para efeitos rápidos de “sucatear”. Para vencer, você deve gerenciar suas cartas e água sabiamente.


Créditos da imagem: Board Game Quest

Este Inverno: Uma novela de Heartstopper - Alice Oseman

21 de agosto de 2023

Título:
Este Inverno: Uma novela de Heartstopper
Autora: Alice Oseman
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Romance
Ano: 2023
Páginas: 112
Nota:★★★★★
Sinopse: Tori, Charlie e Oliver Spring sabem que o Natal deste ano vai ser diferente. Depois de passar um período internado para tratar seu transtorno alimentar, tudo o que Charlie quer é não ser o centro das atenções ― o que parece impossível.
Quando as coisas saem do controle, cada um dos irmãos vai ter que encontrar um jeito de lidar com este inverno difícil ― e buscar conforto um no outro.

Resenha: Este Inverno é uma novela do universo Hearstopper que se passa durante os acontecimentos do vol. 4, De Mãos Dadas, quando Charlie volta pra casa depois de precisar ficar internado para tratar de seu transtorno alimentar. Mas, por ser véspera de Natal, a família inteira se reúne na casa dos Springs e nada poderia ser pior do que aquela torta de climão, seja pelos parentes (que só aparecem uma vez na vida e outra na morte) querendo saber detalhes da orientação sexual de Charlie, ou por acharem que ele é algum maluco por ter passado algumas semanas num "hospício" sem sequer se preocuparem de fato com o que aconteceu com ele e como ele chegou a esse ponto. Charlie só queria poder ficar em paz, e por mais que ele tente ser discreto e passar despercebido no meio desse povo, é impossível manter o controle quando ele vira o centro das atenções.

O livro é dividido em três capítulos, todos narrados em primeira pessoa, cada um dedicado ao ponto de vista dos irmãos Spring. O primeiro capítulo é narrado por Tori, como ela enxerga a situação e como é a única dessa família desajustada que não trata Charlie como se ele fosse uma aberração.
Apesar dela ser um tanto fechada e não fale muito, dá pra perceber o quanto ela ama os irmãos, se preocupa e é compreensiva, desde a paciência infinita com as peripécias de Oliver, até como ela tenta ajudar Charlie a se sentir acolhido o tratando como igual, embora ele não lhe dê muito espaço pra isso e às vezes até desconta nela suas frustrações. Vemos o quanto é desconfortável e difícil pra Charlie aturar parentes intrometidos e sem noção nenhuma, e até com seus pais que não demonstram nenhuma empatia ao lidar com os problemas do filho. Tori, além de entender como deve ser doloroso pro irmão comemorar um feriado cheio de comida quando o problema dele é com comida, percebe o quanto Charlie sofre com tudo isso, se sente tão incomodada quanto ele, mas não pode fazer muita coisa por achar que não tem direito de ultrapassar os limites e invadir seu espaço. Mas ela percebe como ninguém que o que seus pais fazem para ajudar Charlie está longe de ser suficiente.


"Odeio como as pessoas reagem quando descobrem que Charlie passou algumas semanas internado. Como se fosse a cposa mais horrível que já ouviram. É porque elas associam automaticamente a manicômio e gente louca em vez de tratamento e recuperação e aprender a lidar com um transtorno alimentar."
O segundo capítulo é narrado por Charlie e acompanhar como ele se sente é bastante complicado e talvez cause vários gatilhos relacionados a saúde mental. Ele sabe que, diferente dos seus pais, Tori se importa, mas reconhece que às vezes é duro com ela quando não deveria ser. Através dessa narrativa de Charlie e seus diálogos com Nick, o leitor entende melhor seus conflitos psicológicos, os problemas em família que ele enfrenta, a dificuldade em ter uma conversa mais aberta com os pais e o quanto ele se sente culpado por não corresponder às expectativas deles, como se fosse um fardo. Da mesma forma ele também sabe o quanto as semanas que ele passou internado foram importantes para que ele pudesse receber a ajuda necessária para entender melhor seu transtorno e poder lidar com eles agora que sabe a origem desses problemas. Mas claro, não é fácil, é um processo a longo prazo, e Charlie sente que Nick é o único disposto a passar por tudo isso junto com ele. Quando Charlie larga a família e o bando de parentes imprestáveis em pleno Natal pra evitar brigas e vai pra casa de Nick, a gente percebe a discrepância gigantesca do tratamento de uma família em relação a outra (com exceção de David, irmão de Nick, que é uma criatura ridícula, ignorante e desprovida de bom senso e inteligência). Charlie encontra na família de Nick todo o acolhimento e respeito que sua própria família nunca lhe deu. E isso dói e até causa revolta, pois os pais dele não são capazes de perceber sua parcela de responsabilidade nesse problema e preferem focar na ideia de que eles "fazem o que podem pra esse filho ingrato" como se isso tivesse a ver com eles, e não com Charlie.



Pra finalizar, o terceiro capítulo é narrado por Oliver, o irmãozinho mais novo de sete anos. Ele mostra, pelo seu ponto de vista, o que está acontecendo naquele Natal falido de uma forma bastante infantil e engraçadinha. Mas apesar de ser bem bonitinho a preocupação que ele demonstra ter com o sumiço do irmão, e depois da irmã, ou como fica triste por estar jogando video game sem companhia no meio daqueles parentes chatos, não fiquei convencida de que era uma criança falando devido a forma como ele percebe e expõe as coisas. Mas talvez isso seja só um detalhe que eu tenha percebido por ser mãe e saber como meus filhos costumam se expressar.

Assim como os outros volumes, as ilustrações seguem o mesmo padrão bonitinho de traço (mesmo que nas novelas os desenhos sejam em preto e branco), os personagens são bastante expressivos e a diagramação, que combina a narrativa com ilustrações e simulação de troca de mensagens no celular, é super caprichada.

Apesar de achar que uma série acaba ficando muito saturada quando tem vários livros extras que poderiam ser inseridos nos livros principais, confesso que Este Inverno, apesar de triste, é uma história bem especial e que foi um bom acréscimo que aborda o tema da dinâmica familiar problemática e da saúde mental de um jeito bem leve e respeitoso. Pra quem gosta do universo Hearstopper e quer matar um pouco da saudade dos personagens enquanto o vol.5 não vem, recomendo.

Nimona - N.D. Stevenson

17 de agosto de 2023

Título:
Nimona
Autor: N.D. Stevenson
Editora: Intrínseca
Gênero: HQ/Fantasia
Ano: 2016
Páginas: 272
Nota:★★★★★
Sinopse: A graphic novel protagonizada pela anti-heroína mais surpreendente, kick-ass e fora dos padrões que você vai conhecer.
Nimona é uma metamorfa sem limites nem papas na língua, cujo maior sonho é ser comparsa de Lorde Ballister Coração-Negro, o maior vilão que já existiu. Mas ela não sabia que seu herói possuía escrúpulos. Menos ainda uma deliberada missão.
Até conhecer Nimona, Ballister fazia planos que jamais davam certo. Felizmente, a garota tem muitas sugestões para reverter esse quadro. Infelizmente, a maioria envolve explosões, sangue e mortes. Agora, Coração-Negro não só tem que enfrentar seu arqui-inimigo e ex-amigo, o célebre e heroico Sir Ambrosius Ouropelvis, mas também impedir que a fiel comparsa destrua todo o reino ao tentar ajudá-lo.
Uma história subversiva e irreverente que mistura magia, ciência, ação e muito humor sobre camadas e mais camadas de reflexão; entre uma batalha e outra, é claro.

Resenha: Publicada em 2016 pela editora Intrínseca e criado por N.D. Stevenson, Nimona voltou a ganhar holofotes depois que a Netflix produziu sua adaptação para as telinhas.
Na graphic novel, conhecemos Nimona, uma metamorfa e anti-heroínma que se torna comparsa de Lorde Ballister Coração-Negro que, amargurado, se tornou o maior vilão que já existiu depois de ser sido descartado pela "Instituição de Heroísmo & Manutenção da Ordem" por ter perdido um braço durante uma justa (nada justa) com Sir Ambrosius Ouropelvis. O que Nimona não sabia era que Ballister tinha seus motivos nobres pra deixar que o povo acreditasse que ele era mesmo um vilão, mas na verdade ele tem um bom caráter, um enorme coração e só quer fazer justiça. E entre confrontos e discussões com seu agora arqui-inimigo e ex-amigo Ambrosius, Ballister precisa impedir que Nimona exploda e destrua o reino na intenção de ajudá-lo a se vingar e a desmascarar as tramas obscuras da Instituição, comandada pela Diretora, e livrá-lo de várias perseguições.

Confesso que meu interesse na HQ de Nimona se deu após eu ter assistido a animação na Netflix e gostado muito, e imaginei que a obra que deu origem a ela seria ainda melhor, mas já vou avisando desde já que, embora muito boa, não é melhor. Esse é um dos poucos casos em que a adaptação conseguiu superar o original, criando arcos bem mais interessantes, oferecendo uma maior fluidez à história devido a forma como foi contada, e dando camadas bem mais profundas aos personagens.

A história se inicia com Nimona abordando Ballister e se oferecendo para ser sua comparsa. Embora ele inicialmente relute, acaba por "contratar" Nimona. A partir daí, uma relação fraterna, divertida e repleta de cumplicidade surge entre os dois.


Quando o assunto é história em quadrinhos, as imagens muitas vezes acabam falando mais do que as palavras, principalmente quando os personagens conseguem demonstrar seus sentimentos ou aflições através de suas expressões, e com Nimona não é diferente. Os traços são simples e caricatos, mas conseguem demonstrar todos esses pontos dando a devida intensidade em cada situação, seja ela mais engraçada ou mais dramática. As cores são bastante agradáveis, principalmente quando combinadas em paletas que tem tudo a ver com o ambiente ou com a situação personagens se encontram.


Mesmo que não tenha tanto aprofundamento ou muitas explicações de origens e afins (como na animação), e da pegada LGBTQIA+ ser tratada de forma quase imperceptível, eu gostei bastante da construção dos personagens, suas motivações, seus conflitos, como seus traumas e mágoas os afetam, e o que eles fazem pra tentar reparar essas coisas.
Os diálogos são engraçados e remetem bastante à época medieval, com frases do tipo "alto lá, vilão!", mas outros conseguem ser bastante profundos e intensos, mesmo que curtos, e causam impacto e algumas reflexões não só nos personagens envolvidos, mas no próprio leitor.

Ballister tem toda aquela pose estereotipada de vilão, se parece e se veste como um vilão, bola planos malignos, sai por aí na companhia de Nimona fazendo coisas de vilão (como roubar um banco, por exemplo), gosta de ciências e até se comporta como um cientista maluco fazendo algumas descobertas e experimentos suspeitos, mas ele está longe de ser um vilão como fazem parecer. O lance dele é fazer justiça, é provar o quão problemática é a Instituição e como ela faz mal não só aos Heróis, mas ao povo do reino. Mesmo que seja seu chefe, ele se apega a Nimona e se preocupa bastante com a segurança dela, e quando percebe que a Instituição quer matá-la por ela representar um suposto risco, ele não hesita em tentar protegê-la ainda mais e faz de tudo pra revelar como aqueles que se dizem Heróis, incluindo a Instituição, são na verdade uns farsantes.

Ambrosius, seguindo ordens da diretora, é o famoso Herói imponente e amado pelo povo que não sai da cola de Ballister e Nimona, mas justamente por seguir as ordens da Diretora, seu título de Herói é totalmente questionável. Ele sempre se pega num enorme dilema pois, apesar de não assumir o motivo, não consegue fazer nada de mal a Ballister. Eles discutem e brigam sempre que se encontram, independente da situação que esteja acontecendo, mas demora um pouco até que apareça a explicação do motivo de toda aquela tensão que existe entre eles e do enorme ressentimento que Ballister carrega por Ambrosius ter explodido seu braço.

Nimona é a estrela da história, claro. Ela é umas das anti-heroínas mais divertidas e engraçadas que já tive a oportunidade de acompanhar, e por mais que ela saia por aí explodindo as coisas, quebrando estruturas, tacando fogo em tudo e matando inimigos, ainda consegue achar espaço pra fazer uma piada e demonstrar seu afeto por Ballister. Ela tem uma aparência que foge bastante dos padrões e isso só mostra o quanto ela é única. Alguns detalhes sobre as coisas que ela é capaz que fazer e que vão além de se transformar em animais e outras pessoas são omitidos de Ballister, mas ela faz isso justamente pra tentar evitar que ele se preocupe. Foi uma pena que o passado dela não foi tão abordado a ponto de nem sabermos direito sobre seu dom, mas a medida que a história se desenrola, percebemos a necessidade que ela tem em ser aceita como é, e que isso tem tudo a ver com a relação dela com seu chefe, pois ele não só a aceita, mas a acolhe.

Acho que vale falar um pouco da Diretora que, pra mim, representa toda a sujeira, preconceito e corrupção que existem quando se tem algum poder. Ela é manipuladora, impõe sua opinião e suas crenças goela abaixo dos outros, manipula todo mundo e ainda distorce a verdade sempre que pode pra obter vantagem e fazer com que os outros acreditem no que ela quer. Odiosa é um adjetivo até educado que pode ser usado definir essa criatura.




O que achei mais interessante nessa graphic novel foi a crítica super certeira sobre como o maniqueísmo é prejudicial para a formação de conceitos e opiniões na sociedade, dando uma visão bastante ampla sobre o significado de bem e mal, ou herói e vilão. A midia também é retratada com maestria quando, submetidos ao governo, podem servir como um meio de desinformação para influenciar e manter a população na ignorância, ou serem censurados quando tentam se opor e mostrar a realidade. Através de uma história simples e bastante rápida de ser lida, é possível compreender como a maioria fica em desvantagem perante uma minoria que faz qualquer coisa pra se manter no poder, e aqueles que poderiam se opor e lutar contra o sistema acabam levando o rótulo de vilões, sendo perseguidos numa tentativa de serem silenciados. Isso soa bem familiar nessa época em que vivemos, né?

Infelizmente, o livro se encontra esgotado em todas as lojas online e livrarias, pelo menos até momento dessa postagem, e não sei se a Intrínseca vai liberar uma nova tiragem depois da animação ter feito tanto sucesso. Eu espero que sim, pois uma obra dessas, além de ser bastante divertida, aborda assuntos importantes de forma leve, envolvente e descontraída, e super vale a pena tê-la na estante.
Nimona é uma história sobre aceitação, superação, amor e amizade que, por mais que faça piadas com vários elementos e situações dando a impressão de ser "bobinha", consegue passar uma mensagem bonita, importante e muito necessária. Meu único arrependimento aqui é não ter lido e dado a atenção que ela merecia quando foi lançada lá em 2016.

Mil Batidas do Coração - Kiera Cass

15 de agosto de 2023

Título:
Mil Batidas do Coração
Autora: Kiera Cass
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Romance
Ano: 2023
Páginas: 496
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: Annika sempre viveu rodeada pelos confortos da realeza, mas nenhum luxo é capaz de mudar o fato de que ela não pode tomar decisões sobre a própria vida. Afinal, depois que o rei, seu pai, perdeu a esposa, ele se tornou um homem calculista, insistindo para que Annika aceite um casamento arranjado. O amor, para ela, virou uma questão política.
Enquanto isso, longe dali, qualquer mínimo conforto é um milagre na vida de Lennox. O jovem dedica sua vida ao exército de seu povo na esperança de um dia retomar o trono que foi roubado deles e vingar a morte do pai. Para Lennox, o amor não passa de uma indesejada distração na sua luta por justiça.
Mas quando o destino desses jovens inimigos se cruza de maneira inesperada, despertando um amor imprevisível, será que eles serão capazes de resistir a esse sentimento em nome de seus reinos? Ou vão se entregar ao som de mil batidas do coração?

Resenha: Annika é a princesa do reino de Kadier, um lugar governado por um rei que, após a perda de sua esposa, se tornou frio e calculista. Annika é cercada por todo o luxo que a realeza pode proporcionar, mas ela não é livre nem para escolher a roupa que vai usar e, agora, precisa se casar com o primo, na intenção de fortalecer o reino e manter o poder. Para Annika, o amor se tornou algo arranjado e que não passa de uma questão política.

Longe dali, numa terra esquecida e inóspita, Lennox é um soldado que dedica sua vida ao exército e à resistência e é bastante temido por sempre fazer o serviço sujo que ninguém mais tem coragem de fazer. Seu objetivo é recuperar o trono que ele acredita pertencer ao seu povo e vingar a morte de seu pai, e para isso ele não medirá esforços e irá se empenhar ao máximo possível. Para Lennox, relacionamentos e apegos emocionais são meras distrações quando o assunto é lutar por justiça.

Até que Annika é sequestrada por soldados liderados por Lennox, pois o reino roubado em questão é Kadier. O que ninguém esperava era que a princesa e o soldado iriam se encontrar diante de um enorme dilema devido a esse sentimento imprevisível e perceberiam que o que está em jogo vai além desse relacionamento proibido. Os dois entenderão que a verdade pode ser distorcida e que nem tudo o que eles foram levados a acreditar durante muitos anos condiz com a realidade.

O livro é narrado em primeira pessoa, com capítulos que se alternam entre os pontos de vista de Annika e Lennox. Eu costumo gostar de livros que trazem esse tipo de narrativa, desde que seja possível diferenciar os personagens por terem "vozes" diferentes, o que não acontece aqui. Se não fosse pelo nome do personagem iniciando o capítulo, eu nem saberia quem estava narrando, pois parecem a mesma pessoa. Senti que faltou algo para diferenciar o ponto de vista dos dois.

Confesso que a primeira metade do livro é arrastada e levou uma eternidade para prender minha atenção; levei meses para terminar a leitura e li e reli os primeiros capítulos várias vezes. O ritmo melhora na segunda metade e as coisas se tornam mais fluídas e menos confusas, mas não nego que muita coisa acontece de forma bastante conveniente para criar situações ou justificar certas atitudes. O problema é que a história passa a ser corrida demais, e com acontecimentos bem difíceis de engolir.

Tanto Annika quanto Lennox passam por problemas familiares bem delicados, pois as figuras paternas que eles têm são as mais disfuncionais e falhas que podem existir; eles só não enxergaram isso ainda. A trama traz aquele romance "enemies to lovers" bastante clichê, mas, além de não ter química nenhuma, me incomodou bastante a ideia dos protagonistas - aparentemente rivais - se apaixonarem de forma instantânea e com profundidade zero. Eles são totalmente o oposto um do outro, mas se assemelham bastante quando o assunto é se submeterem e serem obedientes a quem representa a autoridade; no caso de Annika é seu pai, o rei, e no caso de Lennox é Kawan, o companheiro de sua mãe e líder de seu povo.

Apesar de Annika ter a personalidade forte e com aquele toque de dama rebelde, ela sempre pensa no bem-estar das pessoas do reino (que nunca aparecem em lugar nenhum); tanto que está pronta para se casar com alguém que ela nem conhece direito, por determinação do pai, acreditando que isso é o melhor para Kadier, mas toda essa benevolência não parecia ter um padrão muito realista e plausível para mim.
Lennox tem que lidar com a tirania de Kawan, mas com o objetivo de assumir o controle das terras que ele acredita terem sido roubadas, ele está pronto para qualquer coisa, mesmo que isso signifique tirar a vida de quem cruzar seu caminho. Claro que, por trás de toda essa frieza, ele esconde um cara compreensivo e gentil que vai conquistar a mocinha na primeira troca de olhares. No entanto, quando um personagem é apresentado como assassino cruel, fica meio difícil acreditar que ele tenha esse lado mais humano e sensível. A autora tenta dificultar as coisas fazendo com que eles demonstrem se odiar enquanto tentam lutar contra os próprios sentimentos à medida que vão se conhecendo cada vez mais, mas eu já estava revirando os olhos, porque nada daquilo parecia real ou aceitável para mim.

Diferente dos outros livros da autora, a construção de mundo e as questões políticas foram abordadas de forma bastante rasas, e as resoluções dos problemas foram fáceis, o que deixou a desejar. O livro tem quase 500 páginas, mas parece que nenhuma delas foi dedicada à construção do mundo; tudo parecia muito vazio e sem vida. Logo, não consegui dar a devida importância ou entender a motivação feroz de Lennox para recuperar um reino genérico que não tem nada de especial. O final acabou sendo previsível e fraco. Os personagens secundários também não salvam a história, porque as coisas entre eles também aparecem de repente e sem muitas explicações. Além disso, eles têm algumas atitudes questionáveis que parecem estar ali só para despertar nossa antipatia, enquanto outros estão ali só para criar um certo apego, até que eles morram, com a intenção de deixar o leitor triste. Mesmo que alguns deles tenham algum destaque, eles não demonstram tanta importância assim.

Apesar do romance nada realista e da demora para a história engatar e começar a se tornar um pouco menos enrolada, o livro tem alguns pontos positivos, como reviravoltas e revelações interessantes. No entanto, talvez funcione melhor para um público menos exigente com relação à construção de mundo e detalhes. Para quem foi fã de Kiera Cass e amou a trilogia A Seleção, eu esperava algo mais empolgante e que me mantivesse interessada. Infelizmente, isso não aconteceu com Mil Batidas do Coração, e acho que a história podia ser contada da mesma forma com umas 200 páginas a menos. Talvez eu já tenha deixado de ser o público-alvo dela há anos, e só agora estou me dando conta disso, o que é uma pena...