Autora: Sally Rooney
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance
Ano: 2019
Páginas: 264
Nota:
★★★☆☆Sinopse: Na escola, no interior da Irlanda, Connell e Marianne fingem não se conhecer. Ele é a estrela do time de futebol, ela é solitária e preza por sua privacidade. Mas a mãe de Connell trabalha como empregada na casa dos pais de Marianne, e quando o garoto vai buscar a mãe depois do expediente, uma conexão estranha e indelével cresce entre os dois adolescentes ― contudo, um deles está determinado a esconder a relação.
Um ano depois, ambos estão na universidade, em Dublin. Marianne encontrou seu lugar em um novo mundo enquanto Connell fica à margem, tímido e inseguro. Ao longo dos anos da graduação, os dois permanecem próximos, como linhas que se encontram e separam conforme as oportunidades da vida. Porém, enquanto Marianne se embrenha em um espiral de autodestruição e Connell começa a duvidar do sentido de suas escolhas, eles precisam entender até que ponto estão dispostos a ir para salvar um ao outro. Uma história de amor entre duas pessoas que tentam ficar separadas, mas descobrem que isso pode ser mais difícil do que tinham imaginado.
Resenha: Pessoas Normais, da autora Sally Rooney, conta a história do relacionamento de Marianne e Connell. Eles estão no ensino médio e nunca trocaram uma palavra, até que acabam se aproximando mais quando Connell vai buscar a mãe, que trabalha como empregada na mansão onde Mariane mora, e começam a se relacionar secretamente. Mas, Connell tem muito receio de que seus migos descubram sobre sua proximidade com Marianne, e tudo parece ir ladeira abaixo. E é essa premissa que vai impulsionando a trama até eles irem pra faculdade e iniciarem a vida adulta cheia de encontros e desencontros, enquanto alguns conflitos que envolvem questões de classes sociais e outros fatores vão surgindo. A dinâmica entre eles é moldada de acordo com o círculo social e com o ambiente que estão inseridos, mas quando Marianne começa a afundar e Connell passa a questionar suas escolhas, eles precisam definir até onde serão capazes de ir para ajudar um ao outro mesmo que façam de tudo pra ficarem separados...
A escrita da autora não é a melhor com a qual já me deparei e tive que recorrer ao audiobook pra terminar porque a sensação é que a história não desenvolve. Não é o tipo de narrativa que prendeu minha atenção, e a falta da travessão pra identificar os diálogos dos personagens foi um tanto estranho pra mim. Ela mescla situações do cotidiano com momentos sensíveis mas, talvez por se tratar de adolescentes muito "especiais", que lêem Marx por diversão, discutem política e estão intelectualmente acima dos outros porque sim, achei as coisas meio genéricas e artificiais demais. Mesmo que a autora sempre evidencie que Marianne e Connell são diferentes dos outros jovens, senti falta de mais camadas, mais profundidade e, acima de tudo, menos romantização das dificuldades e problemas que eles enfrentam.
Marianne é a adolescente rica e mais inteligente da escola que não se mistura com os outros e não liga pro que pensam dela (pelo menos até o término de um relacionamento falido). Ela vem de uma família abusiva que, obviamente, desencadeia vários traumas nela.
Connell foi criado pela mãe e, apesar de ser popular na escola, ele sofre de depressão e crises de ansiedade. São problemas delicados e bastante realistas, incluindo as diferenças gritantes de classes dos dois, que ambos tem dificuldade em lidar, mas a autora parece tentar levar isso pro lado do "inevitável", como se tudo se justificasse e tivesse que ser compreensível, principalmente quando os personagens começam a demonstrar o quanto são egoístas e de caráter duvidoso. Eles se relacionam sexualmente e vivem experiências memoráveis, mas ninguém pode saber, logo se afastam e não sabem porquê. Depois se envolvem com outras pessoas sem a menor relevância cujos relacionamentos são totalmente descartáveis e esquecíveis, mas não se libertam e não esquecem um do outro. Eles nunca oficializam o que construíram, mas sempre surgem na vida um do outro trazendo momentos significativos e, relativamente, importantes.
Uma coisa que percebi é que a maioria dos problemas que os protagonistas enfrentam são causados devido à pressão que sofrem pelas pessoas que os cercam, pela necessidade de impressionar os outros, pela importância que dão para o que os outros pensam deles, e pelas expectativas sociais, ou seja, tudo gira em torno de terceiros. A autora traz essa ideia de que, por mais que duas pessoas tenham uma ligação forte, se entendam e se gostem, elas podem ter uma dificuldade de comunicação gigantesca que pode desencadear vários desencontros, e ainda desistir da outra por não conseguirem lidar com essa pressão e com a forma como isso pode parecer pra quem vê de fora.
Os personagens secundários parecem estar alí só pra movimentar o drama dos protagonistas e não tem oputros propósitos. A família de Marianne é um nojo, com uma mãe esnobe que trata tudo e todos com indiferença, e um irmão malicioso que não tenho nem adjetivos pra descrever, como se todo mundo que fosse rico fosse obrigado a tratar os outros com desdém e crueldade.
Talvez a ideia da autora fosse mostrar essa parte realista e humana de personagens com mais falhas do que virtudes, que preferem se autosabotar e se comportarem como se fossem incapazes de aprender alguma coisa com a vida. Talvez isso justifique que nada do que aconteceu serviu como fator de amadurecimento e crescimento pra nenhum deles, mas não nego que é frustrante acompanhar a história toda pra, no final, a recompensa ser nada.
Pessoas Normais, no final das contas, se mostrou um romance bem deprimente que conta uma história de amor triste e de muita solidão. É uma história sobre duas pessoas muito diferentes e com uma enorme conexão que, entre altos e baixos, se encontram uma na outra.