“Meu irmão é adotado, mas não posso e não quero dizer que meu irmão é adotado”, anuncia, logo no início, o narrador deste romance. O leitor se descobre de partida imerso numa memória pessoal que se revela também social e política. Do drama de um país, a Argentina a partir do golpe de 1976, desenvolve-se a história de uma família, num retrato denso e emocionante.
Adotado por um casal de intelectuais que logo iriam buscar o exílio no Brasil, o menino cresce, ganha irmãos, e as relações familiares se tornam complexas. Cabe então ao irmão mais novo o exame desse passado e, mais importante, a reescritura do próprio enredo familiar.
Um livro em que emoção e inteligência andam de mãos dadas, tocando o coração e a cabeça dos leitores.
O Frango Ensopado da Minha Mãe - Nina Horta
Não é sopa, publicado pela Companhia das Letras em 1995, tornou-se em pouco tempo um clássico da literatura gastronômica brasileira. Além das generosas lições de sabedoria acumuladas à beira do fogão, o livro fascinava pela qualidade literária da autora, Nina Horta, que, até iniciar as colaborações semanais com a Folha de S.Paulo, em 1987, era reconhecida pela excelência de seu bufê, o Ginger.
O encantamento provocado nos leitores pela nova colunista não escapou ao olho perspicaz do poeta Décio Pignatari, que endereçou uma carta ao “Painel do Leitor” do matutino paulista saudando um dos textos de Nina como “uma das mais surpreendentes peças literárias destes
últimos tempos destes Brasis da prosa prosaica”.
Duas décadas depois, O frango ensopado da minha mãe faz uma nova reunião de textos inéditos em livro - também originalmente publicados na Folha de S.Paulo -, selecionados com a colaboração de Rita Lobo, discípula confessa de Nina Horta. Eles consolidam a presença da autora não apenas como referência na bibliografia gastronômica, o que já seria muito, mas também como lídima continuadora do melhor da tradição da crônica literária brasileira.
Os textos de Nina pretendem falar sobre comida, mas falam de vida. De uma vida simples, rica em experiências e repetições que levam à sabedoria - do jeito que ela prefere a culinária: sem esnobaria e afetação. Bolo de noiva, sardinhas, torresmo e coca-cola são motivos suficientes para evocar a lembrança da revista semanal ilustrada O Cruzeiro, do cheiro do tomate pisado, dos guardanapos de François Vatel, das “varandas mineiras de poucas palavras e muita tosse”.
Família, amigos, cozinheiros, livros, filmes, lugares, nomes de pratos, modismos gastronômicos, dietas e cuidados alimentares contemporâneos - tudo serve para mobilizar a escrita afetuosa em tom de troca de receitas, a glosa sagaz de quem conhece muita coisa e as escolhas de quem chegou à plena liberdade. Como essa, por exemplo: “Deixem em paz o porco, esse poema”.
Uma sábia, essa Nina Horta.
Angosta - A cidade do futuro - Héctor Abad
“A capital desse curioso lugar da Terra chama-se Angosta. Com exceção do clima, que é perfeito, tudo em Angosta é ruim. Poderia ser o paraíso, mas se transformou num inferno. Seus habitantes vivem num lugar único e privilegiado, porém não se dão conta disso nem cuidam dele.”
Assim começa o romance de Héctor Abad, que se passa em uma cidade da América Latina próxima à cordilheira dos Andes, onde uma grande muralha separa ricos e pobres. No setor da elite, a entrada de visitantes só é permitida depois de uma constrangedora passagem pela imigração, quando um funcionário desconfiado faz perguntas sobre terrorismo, tráfico, explosivos, aids e distúrbios mentais.
A trama gira em torno do Gran Hotel la Comedia, que nos tempos áureos era sinônimo de luxo e hoje, rebaixado a pensão, é o lar de pessoas à beira da pobreza. É nesse cenário que vivem Jacobo, um amante dos livros que antes de ganhar uma herança fora obrigado a transformar a biblioteca da família em sebo - alternando o seu tempo livre como jornalista, professor de inglês e cronista -, e Andrés, um jovem que escreve versos todos os dias e se julga poeta, ofício que em sua opinião nem de longe pode ser considerado uma profissão mas algo mais elevado, próprio dos espíritos luminosos.
O pano de fundo do romance é bem conhecido de nosso cotidiano. À medida que as desigualdades sociais se tornam mais evidentes, aumenta a tensão entre os que tentam sobreviver e um pequeno grupo de privilegiados que deseja manter tudo como está.
Ao flertar com a distopia e o hiper-realismo social, Héctor Abad cria uma fábula moderna como poucas vezes encontramos na literatura contemporânea. Não à toa, Angosta teve os direitos vendidos para o cinema - sua narrativa vertiginosa expõe de modo contundente um cotidiano perverso, desesperançoso, fruto do desequilíbrio social.
A Vida dos Elfos - Muriel Barbery
Maria e Clara são jovens órfãs unidas por dons secretos. A chegada de Maria a uma granja na Borgonha traz prosperidade à terra, o que leva todos a acreditarem que a menina conversa com a natureza. Enquanto isso, Clara cresce numa aldeia perdida nos Abruzos, no sul da Itália, aprende italiano “na velocidade do milagre” e, depois de se revelar um prodígio no piano, é enviada a Roma para desenvolver sua veia musical.
As duas garotas, cada uma à sua maneira, se comunicam co1m um mundo misterioso que garante à vida dos homens sua profundidade e beleza, mas ao mesmo tempo oferece uma ameaça grave contra nossa espécie. As sombras da guerra e do mal avançam, e só Maria e Clara poderão combatê-las, reinstaurando a paz. Mas elas ainda não compreendem os muitos enigmas que as envolvem. De onde vêm? O que as conecta?
Em O Livro do chá, de 1906, Kakuzo Okakura fala com nostalgia da China antiga, fonte de inspirações da arte japonesa, e lamenta que o mundo chinês tenha se tornado “moderno, isto é, velho e desencantado”. Em entrevista à Gallimard, editora de Muriel Barbery na França, a autora concorda com essa caracterização do mundo moderno, afastado de seus encantamentos, e por isso de suas ilusões poéticas. A vida dos elfos, que terá sequência num segundo volume, busca resgatar essa magia poética e natural das coisas.
“Outra inspiração para o texto foi uma conversa com um amigo”, segue Barbery. “Eu dizia a ele que os jardins japoneses são élficos, ao passo que a estética francesa da natureza é humana.” Numa linguagem arcaizante mas atemporal, que não permite ao leitor situar a época em que se passa a história, a autora de A elegância do ouriço tece um romance original de atmosfera inesquecível, um passeio fabular por jardins encantados e palavras de sonoridade mágica. Ao se aventurar pela fantasia, Barbery faz um elogio à arte e à natureza, as órfãs da contemporaneidade.
Doutor Fausto - A vida do compositor alemão Adrian Leverkühn narrada por um amigo - Thomas Mann
Último grande romance de Thomas Mann, Doutor Fausto foi publicado em 1947. O escritor fez uma releitura moderna da lenda de Fausto, na qual a Alemanha trava um pacto com o demônio - uma brilhante alegoria à ascensão do Terceiro Reich e à renúncia do país a sua própria humanidade. O protagonista é o compositor Adrian Leverkühn, um gênio isolado da cultura alemã, que cria uma música radicalmente nova e balança as estruturas da cena artística da época. Em troca de 24 anos de verve musical sem paralelo, ele entrega sua alma e a capacidade de amar as pessoas. Mann faz uma meditação profunda sobre a identidade alemã e as terríveis responsabilidades de um artista verdadeiro.
A Morte em Veneza & Tonio Kröger - Thomas Mann
A morte em Veneza (1912), aqui na tradução de Herbert Caro, é uma das novelas exemplares da moderna literatura ocidental. A história do escritor Gustav von Aschenbach, que viaja a Veneza para descansar e lá se vê hipnotizado pela beleza do jovem polonês Tadzio, mais tarde daria origem ao notável filme homônimo do diretor italiano Luchino Visconti, de 1971.
O volume traz ainda Tonio Kröger, narrativa de 1903 que Thomas Mann declarava ser uma de suas favoritas. A novela tem diversos traços autobiográficos e está centrada na relação entre artista e sociedade, um tema muito caro à obra de ficção do escritor, sobretudo nos primeiros trabalhos. A nova tradução é de Mario Luiz Frungillo.
Um Crime da Holanda - Georges Simenon
Quando um professor francês em visita a um pacato vilarejo da Holanda se vê acusado de assassinato, o comissário Maigret é enviado para investigar o caso.
A comunidade parece satisfeita em acusar um estrangeiro desconhecido, mas há pessoas do lugarejo que sabem muito mais do que aparentam: Beetje, a filha insatisfeita de um fazendeiro da região, Any van Elst, cunhada do falecido, e um notório vigarista local.
Nesta sétima jornada de Maigret - Simenon escreveu 75 livros com o personagem -, o carismático investigador francês aprende a duvidar de suas certezas.
Benjamin Franklin - Uma vida americana - Walter Isaacson
Um dos chamados Pais Fundadores dos Estados Unidos, Benjamin Franklin está entre as figuras mais influentes de sua época, cujas descobertas científicas e ideias filosóficas e de negócios reverberam mundo afora. É também um homem de carne e osso que foi fundamental no desenvolvimento do que é hoje a nação mais poderosa do mundo.
Nessas páginas, Walter Isaacson - autor do best-seller Steve Jobs: A biografia - narra a tumultuada trajetória desse escritor, cientista, inventor, diplomata e jornalista. Isaacson mostra como essa vida inacreditável ultrapassa o seu próprio tempo, e como a colaboração de Franklin em documentos como a Declaração de Independência Americana ajudou a moldar o mundo moderno.
A Realidade Devia ser Proibida - Maria Clara Drummond
Os dilemas e as pressões sociais de Eva podem se parecer com os de qualquer garota da elite. Para quem vê de fora, sua vida se dá entre o restaurante chique e a festa com DJ francês regada a MDMA.
No entanto, tudo que é óbvio sobre Eva será desconstruído pela autora Maria Clara Drummond. Como o ator consciente da farsa encenada, a jovem colocará em evidência cada parte dessas engrenagens sociais.
Um olhar menos compassivo poderia encontrar apenas superficialidade, mas o que se tem é um retrato sincero de uma geração. Narrado em ritmo cinematográfico e com referências a séries como Girls, de Lena Dunham, A realidade devia ser proibida guarda um vislumbre de uma época tão difícil de definir.
Pequena aldeia no Alentejo, interior de Portugal, Galveias é onde nasceu José Luís Peixoto. A partir de suas memórias de infância, o autor constrói neste romance o universo de um lugarejo quase parado no tempo, que subitamente se vê diante de um imenso mistério. Com grandes histórias e um elenco de personagens admiráveis, ele traça um retrato da vida rural portuguesa no início dos anos 1980, que vivia então um embate entre a tradição e a inevitável chegada da modernidade, em um momento economicamente difícil para o país. Um livro essencial para compreender a identidade lusitana no mundo contemporâneo.
O Finado Sr. Gallet - Georges Simenon
Todas as circunstâncias da morte do sr. Gallet parecem falsas: o nome que usava durante sua última viagem, sua presumida profissão, abandonada em segredo há dezoito anos, e, sobretudo, a dor de sua família.
O desdém dos familiares revela sentimentos ambíguos sobre o desafortunado. E a investigação transforma em principal suspeito ninguém menos que seu filho, Henry Gallet.
Nessa história assombrosa, diversas vezes adaptada para o cinema e a televisão, Maigret descobre a verdade desconcertante e o crime oculto sob um manto de mentiras.
Comando e controle explora um dilema existente desde as origens da era nuclear: como desenvolver armas de destruição em massa sem ser destruído por elas?
Escrita com a agilidade de um thriller, esta reportagem de fôlego traz os detalhes sobre o acidente com um míssil nuclear ocorrido nos Estados Unidos em 1980, abarcando uma perspectiva histórica de mais de cinquenta anos.
O livro acompanha a trajetória de pessoas comuns. Pilotos de bombardeiros, engenheiros, tripulações e funcionários do governo que arriscaram a vida para evitar um holocausto nuclear.
Audacioso, sedutor e inesquecível, Comando e controle é um marco do jornalismo investigativo e um alerta para os perigos da era nuclear.
Poesia Antipoesia Antropofagia & Cia - Augusto de Campos
Guimarães Rosa, Mario Faustino, João Cabral, Ferreira Gullar, Wlademir Dias-Pino, Gregorio de Matos e Oswald de Andrade. A primeira edição de Poesia, antipoesia e antropofagia, de 1978, reunia as “incursões errático-críticas” de Augusto de Campos sobre poetas que, como ele, revolucionaram a poesia brasileira vigente.
Passados mais de 35 anos, esta edição revista e ampliada pelo autor volta às livrarias, com a seção & cia., incluindo textos publicados desde então. Os objetos de análise são Ernani Rosas, Oswald de Andrade (novos textos), Sousândrade, Décio Pignatari, Cyro Pimentel, Erthos Albino de Souza e Waldemar Cordeiro, além de reflexões sobre as perspectivas oferecidas à poesia concreta pelas novas tecnologias.
Companhia das Letrinhas
A Mônica não está entendendo nada: de uma hora para outra, todo mundo ficou azul no bairro do Limoeiro. E o pior: seus vizinhos e amigos - inclusive a Magali - resolveram fugir da dentuça e tratá-la mal só porque ela é a única “alaranjada”. A coitada não sabe o que fazer! Se for mais uma armação do Cebolinha ele vai ver só... Mas... e se não for? Será que foi ela que pirou de vez? Ou está no meio de um pesadelo que não quer acabar?
Desta vez, quem ilustra o clássico de Mauricio de Sousa é Elisabeth Teixeira, um grande nome da literatura infantil brasileira. Aqui, além de descobrir a resposta para esse mistério, o leitor ainda vai conhecer curiosidades sobre a história e seus personagens, em uma seção imperdível de extras!