Do alto de seus 25 anos, Julia Tolezano, mais conhecida como Jout Jout, já passou por todo tipo de crise. De achar que seus peitos eram pequenos demais a não saber que carreira seguir. Em Tá todo mundo mal, ela reuniu as suas “melhores” angústias em textos tão divertidos e inspirados quanto os vídeos de seu canal no YouTube, “Jout Jout, Prazer”. Família, aparência, inseguranças, relacionamentos amorosos, trabalho, onde morar e o que fazer com os sushis que sobraram no prato são algumas das questões que ela levanta. Além de nos identificarmos, Jout Jout sabe como nos fazer sentir melhor, pois nada como ouvir sobre crises alheias para aliviar as nossas próprias!
Caprichos e Relaxos - Paulo Leminski
Quando Paulo Leminski lançou sua primeira obra poética por uma editora comercial, a crítica Leyla Perrone-Moisés lhe dedicou um texto elogioso em que o chamava de “Samurai malandro”, por conjugar uma precisão oriental e um jogo de cintura tropical. O livro era Caprichos e relaxos, de 1983.
Depois do sucesso de Toda poesia, primeiro livro do gênero a assumir o primeiro lugar nas listas brasileiras com mais de 100 mil exemplares vendidos, a Companhia relança esse clássico do polaco que conquistou leitores de todo o Brasil. O melhor da poesia pop agora é portátil.
Flores - Afonso Cruz
Flores começa com uma perda, a perda do pai. E é a partir daí que o narrador, um jornalista que vive com a filha e a mulher numa relação cheia de incômodos, passa a notar seus vizinhos e a conviver com o senhor Ulme.
Ulme sofre além da conta com as notícias que lê nos jornais e com todas as tragédias humanas às quais assiste. Certo dia percebe não se lembrar de seu primeiro beijo, dos jogos de bola nas ruas da aldeia ou de já ter visto uma mulher nua. Seu vizinho, talvez por ainda recordar bem do encanto do primeiro beijo - e constatar o quanto a sua vida se distanciava dele -, decide ajudar o senhor a escrever sua história e a recuperar as lembranças perdidas. Ele visita a aldeia alentejana esquecida no tempo e vai aos poucos remontando a identidade de Manuel Ulme, homem que, pelos relatos, parece ter oscilado entre um bom samaritano e um perverso entregue aos prazeres da paixão.
O contraste fica cada vez mais claro: enquanto um homem não tem passado e não se lembra do amor, o outro sofre com o presente e com a consciência da rotina que a cada dia destrói sua relação, quando um beijo já perdeu todo o encanto e se tornou tão banal quanto arrumar a cama.
Construído em capítulos curtos e com uma voz originalíssima, o romance de Afonso Cruz comove ao falar da memória, do que é o amor e das tragédias que acabam por virar banalidades.
Morte Súbita - Álvaro Enrigue
Caravaggio e Quevedo se enfrentando numa partida de pallacorda é mesmo uma senhora fantasia. Se a Europa seiscentista é como uma grande quadra onde se confrontam a Reforma Protestante e a Contrarreforma Católica, o pintor italiano e o poeta espanhol também encarnam o embate entre duas maneiras de viver e de fazer arte: Caravaggio, o artista apesar das circunstâncias, com sua sexualidade fluida, flertando com a marginália e o crime, reinventor da pintura para além de seus limites; Quevedo, o nobre cioso de sua honra, abraçado à mais reacionária e hipócrita moral católica que logo envolverá o mundo em censura e fogueiras, mestre genial dos sonetos, da homofobia e do antissemitismo.
Tendo como eixo esse conflito, Enrigue expande seu jogo em várias direções, farejando rastros de sangue, sêmen e ouro. Com a liberdade dos melhores romances, o autor segue atalhos que nos levam a tempos passados e futuros, ora cruzando o Atlântico, ora transitando dentro dos reinos europeus num bate e rebate estonteante. Os lances de Caravaggio abrem caminho a um desfile que inclui um curioso Galileu Galilei, um finório Pio IV e um são Carlos Borromeu tão fanático quanto obtuso, a par de banqueiros, prostitutas e mendigos, todos às voltas com pequenas intrigas paroquiais e grandes negociações que marcarão o destino do mundo. Os golpes de Quevedo carregam a decadente corte espanhola de Filipe III e dos duques de Osuna, e por meio da duquesa, neta de Hernán Cortés, nos levam ao México arrasado pelo conquistador de braço dado com uma surpreendente Malinche muito dona do seu nariz; ao martírio do imperador Moctezuma e de seu grande general Cuauhtémoc. E daí, ao princípio de nação construída sobre as ruínas astecas, abrigo das utópicas experiências de um padre que leu a Utopia de Thomas Morus ao pé da letra, amigo e protetor de um gênio da arte plumária indígena, grande apreciador de cogumelos alucinógenos que espalhou suas obras-primas pela Europa e encheu os olhos de quem as soube olhar.
Mas engana-se quem vir em Morte súbita um romance histórico. Ele é muito mais do que isso: uma obra em que o passado factual é pretexto para especular sobre grandes questões dolorosamente presentes.
A Teus Pés - Ana Cristina Cesar
Em 1982, era publicado A teus pés, primeiro e único livro de poemas que Ana Cristina Cesar lançaria em vida por uma editora comercial. Além de poemas inéditos, a obra reunia Cenas de abril (1979), Correspondência completa (1979) e Luvas de pelica (1980), volumes lançados de forma independente.
De registro aparentemente intimista, os versos despistavam o leitor em manobras de mestre. Depois do sucesso de Poética, reunião de sua obra lírica completa, a Companhia das Letras estreia a coleção Poesia de Bolso com este clássico contemporâneo que marcou a geração poética dos anos 1970 com sua dicção rara e cada vez mais atual.
Me segura qu'eu vou dar um troço - Waly Salomão
Escrito durante a ditadura militar, quando Waly Salomão esteve preso no Carandiru por portar, nas palavras do próprio poeta, “uma bagana de fumo”, Me segura qu’eu vou dar um troço espanta pela dicção fluida e livre, que em nada remete à prisão. Entre a prosa, a poesia e o ensaio, trata-se de uma obra visceral e revolucionária, determinante para o movimento de contracultura que floresceu no Brasil dos anos 1970. Este clássico volta agora em sua forma avulsa, capaz de nocautear o leitor por sua densidade, violência e radicalidade.
Diários da Presidência - Vol.2 - Fernando Henrique Cardoso
Os bastidores da emenda da reeleição, crises internacionais e pressões especulativas contra a moeda brasileira, indecisões de fundo quanto à política cambial, a morte de dois fiéis escudeiros, supostos “escândalos” e chantagens.
Neste volume de seus diários (1997-1998), Fernando Henrique Cardoso registra alguns dos maiores desafios — tanto políticos quanto macroeconômicos — de seus anos no poder e transmite ao leitor a sensação palpável do áspero cotidiano presidencial.
Em meio à tenaz batalha para a implementação de reformas modernizadoras, tendo por aliados setores arcaicos do país ante a impossibilidade de acordo com a esquerda tradicional, o então presidente encontra tempo para reflexões premonitórias sobre o jogo de forças da política brasileira. Leitura indispensável para a compreensão do país hoje.
Você já teve uma família? - Bill Clegg
Depois do sucesso de público e crítica com os livros de memórias Retrato de um viciado quando jovem e Noventa dias, o agente literário Bill Clegg narra, em seu romance de estreia, a trajetória de pessoas que buscam conforto nos lugares mais improváveis para superar suas tragédias pessoais. Na noite do casamento de sua filha, June Reid vê sua vida virar pelo avesso quando um desastre mata de uma só vez os noivos, seu ex-marido e seu namorado. June é a única sobrevivente da família. Sozinha e sem prumo, ela atravessa o país, dirigindo para longe de sua cidade natal em Connecticut, e, durante a viagem, descobre toda uma nova comunidade, numa onda surpreendente de esperança e empatia.