Plataforma: PC/PS4/PS5/Xbox/Nintendo Switch
Categoria: Aventura/Ação/Fantasia
Ano: 2022
Classificação Indicativa: 14+
Nota: ★★★★★♥
Sinopse: Crie seu próprio culto em uma terra de falsos profetas, aventurando-se por regiões misteriosas e diversas para criar uma comunidade fiel de Seguidores da floresta, e para propagar sua Palavra e se tornar o único culto verdadeiro.
Desenvolvido pela Massive Monster e publicado pela Devolver Digital, Cult of the Lamb é um jogo indie que, traz uma das propostas mais "peculiares" que já encontrei.
A história do game gira em torno de uma profecia onde um cordeiro seria o responsável por libertar uma poderosa entidade maligna que fora aprisionada há muitas eras (por motivos que não cabem explicar para evitar possíveis spoilers). Sendo assim, os quatro bispos da Fé Antiga, criaturas poderosas e igualmente sombrias, passaram a caçar e executar todos os cordeiros dessas terras, acreditando que a extinção dessa espécie seria a garantia de que a dita entidade, aqui chamada de "Aquele que Espera", jamais iria escapar das profundezas de onde foi acorrentada, e o reino da Fé Antiga permaneceria forte e eterno sob o poder dos falsos profetas.
Tudo começa quando o último cordeiro, uma criaturinha indefesa e inocente, é capturado para ser sacrificado num tipo de ritual religioso. O pobrezinho não tem escolha a não ser se ajoelhar diante dos bispos e aceitar a morte certa. Porém, após o golpe certeiro do machado de seu algoz, ele acorda num lugar diferente, onde é recebido pelo próprio Aquele que Espera. Ter a alma do último cordeiro executado sob seu poder era tudo o que aquela entidade diabólica precisava para colocar seu plano de fuga em prática, e para isso, os dois fazem um pacto: Em troca de ter a vida de volta e se vingar de seus executores, o cordeirinho deveria criar um culto para reunir seguidores fiéis e matar os falsos profetas para que ele pudesse se libertar. E para ter os poderes necessários para essa tarefa tão importante, Aquele que Espera oferece sua própria Coroa Vermelha, seu maior símbolo de poder, que também irá conceder poderes ao cordeiro durante sua jornada. A partir daí, o pequeno parte numa missão para confrontar a Fé Antiga onde, além de explorar locais secretos para enfrentar um monte de criaturas perigosas, derramar muito sangue e ficar cada vez mais forte, ele também terá que resgatar e doutrinar a maior quantidade de seguidores possível para o culto (afinal, eles são a fonte do poder do cordeiro), trabalhar para aumentar - e manter - a fé e a lealdade do rebanho, gerenciar a base para cuidar de suas necessidades e impedir que eles se revoltem ou abandonem o culto, e realizar os mais diversos - e bizarros - rituais em sua igreja para fortalecer a seita.
A mecânica do jogo é bastante interessante e inicialmente me lembrou jogos como Don't Starve e Stardew Valley com a pegada da animação Happy Tree Friends. A jornada é dividida no gerenciamento do culto e na exploração das quatro dungeons onde cada uma está sob domínio de um dos bispos. Elas são desbloqueadas a medida que novos seguidores se juntam ao culto, assim como o nível de dificuldade das batalhas dos monstros que aparecem aumenta. Os elementos dessas duas funções de gerenciamento e exploração estão interligados e requerem que o jogador vá intercalando as tarefas e as missões para poder avançar. Cada cruzada vai render uma experiência única, pois os mapas, os eventos e os espólios sempre mudam a cada exploração. Mesmo que o cordeirinho morra durante as batalhas, com o poder da Coroa Vermelha ele ressucita e não perde por completo tudo o que foi coletado pelo caminho, logo é bom estar atento a certos tipos de habilidades adquiridas para poder facilitar o processo de retorno ao culto em caso de morte ou em caso do jogador não queira continuar a exploração naquele momento por qualquer motivo.
É preciso construir diversas estruturas para suprir as necessidades dos seguidores, como tendas para que possam dormir, banheiros para que não saiam fazendo cocô por aí tornando o lugar insalubre, cozinha para o preparo da comida para que ninguém morra de fome, fazendinhas para cultivo de frutas e legumes pra prover o sustento, centro de cura para os enfermos se recuperarem, prisões para castigar os rebeldes, covas para enterrar os cadáveres, decorações variadas e etc. Tais construções requerem a coleta de recursos para que se possa pagar o preço de cada uma delas, então é necessário coletar madeira, pedra, ouro e etc, tanto na base quando nas explorações.
Com o progresso da jornada, o aprimoramento da base e com a devoção dos fiéis, são desbloqueados novos itens e estruturas, rituais e doutrinas que dão mais poder à Coroa Vermelha, armas e maldições para ajudar nas batalhas, cartas de "tarô" que dão algumas pequenas vantagens durante as lutas, e até novas skins para personalizar os seguidores e deixa-los com a carinha de vários animais ou criaturas.
O mapa da terra ancestral também vai sendo desbloqueado aos poucos, e o cordeiro pode viajar para conseguir novos recursos, fazer missões específicas para conseguir novos itens e desbloquear mais funções, pescar, se divertir com mini jogos que podem dar bônus ou itens importantes, e conhecer e interagir com criaturas que podem ajudar de alguma forma nessa incrível e macabra jornada.
Um detalhe muito bacana é a questão do jogador poder seguir por um caminho mais benevolente onde ele prioriza o bem estar dos seus súditos, ou ser um completo sádico e não ter piedade de ninguém, incentivando inclusive o canibalismo. São escolhas que vão desbloqueando habilidades e poderes específicos e que vão moldar essa pequena sociedade que deve obediência ao cordeiro. Não basta apenas conquistar esses seguidores, é preciso mantê-los "na linha" ao mesmo tempo em que se tenta respeitar a compreensão que eles tem do significado da fé. Eles possuem aspectos específicos e a forma deles encararem a vida ou aceitar certas imposições são únicas. Alguns perdem fé caso presenciem mortes por terem medo, enquanto outros ganham fé caso fiquem doentes pois encaram isso como um tipo de provação divina. Alguns são mais difíceis de serem convencidos pela palavra e demoram mais pra subir de nível, outros parecem gostar de causar discórdia no culto e fazem várias intrigas por aí, e cabe ao cordeiro decidir acatar ou não o que eles começam a pedir, enfim... é preciso lidar com essas particularidades de cada um, assim como as consequências das escolhas que forem feitas e o que fica estabelecido a partir de então dentro da seita.
Os gráficos dispensam maiores comentários, pois tudo é muito bonito, cheio de cor e movimento. Além da arte fofa, o jogo me ganhou pelos pequenos detalhes, como vento e chuva, coisinhas que aparecem somente durante o dia ou a noite, as batalhas cheias de efeitos, e os sons como sussurros ou outras horripilâncias. O que marca é essa ambientação que mistura o macabro com o bonitinho.
Talvez a repetição de tarefas e cenários, ou a pouca variação dos combates possa ser cansativa pra alguns jogadores, talvez encontrar um seguidor com uma demanda específica no meio de muitos quando o culto cresce pode ser bem trabalhoso, mas Cult of the Lamb é o tipo de jogo que me agrada muito por trazer gerenciamento de recursos, batalhas dinâmicas, e exploração de mapas onde é possível dedicar várias horas sem sequer ver o tempo passar, e tudo isso num completo misto de temas envolvendo uma seita bizarra liderada por um cordeirinho que fez um pacto demoníaco e agora está possuído e tem sede de sangue e poder. É uma combinação improvável de elementos distintos que, ao meu ver, deu super certo. Quem imaginou que o capeta seria um bichinho tão engraçadinho e amassável, morando numa vilinha colorida, liderando criaturinhas felizes e saltitantes que podem ser sacrificadas a qualquer momento num ritual apavorante? *-*
É aquela coisa... E se, depois da morte, você fizesse um pacto pra voltar a vida? E se, ao retornar, você cuidasse de uma vila? E se nessa vila você organizasse uma seita? E se você usasse os poderes que ganhou com a seita pra se vingar de quem te matou?
É uma loucura sem fim? Com certeza, mas é muito, muito divertido. Não é a toa que o jogo conquistou e bateu a marca de 1 milhão de jogadores em tão pouco tempo depois de lançado, e posso dizer que se tornou um dos meus favoritos.
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