Quarto - Emma Donoghue

20 de abril de 2016

Título: Quarto
Autora: Emma Donoghue
Editora: Verus
Gênero: Drama/Romance
Ano: 2011
Páginas: 350
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Para Jack, um esperto menino de 5 anos, o quarto é o único mundo que conhece. É onde ele nasceu e cresceu, e onde vive com sua mãe, enquanto eles aprendem, leem, comem, dormem e brincam. À noite, sua mãe o fecha em segurança no guarda-roupa, onde ele deve estar dormindo quando o velho Nick vem visitá-la.
O quarto é a casa de Jack, mas, para sua mãe, é a prisão onde o velho Nick a mantém há sete anos. Com determinação, criatividade e um imenso amor maternal, a mãe criou ali uma vida para Jack. Mas ela sabe que isso não é suficiente, para nenhum dos dois. Então, ela elabora um ousado plano de fuga, que conta com a bravura de seu filho e com uma boa dose de sorte. O que ela não percebe, porém, é como está despreparada para fazer o plano funcionar.

Resenha: Quarto, escrito pela autora irlandesa Emma Donoghue, havia sido publicado em 2011 pela Verus e com a adaptação cinematográfica da obra o livro foi relançado em 2016.
Nele conhecemos a história de Jack, um garotinho de cinco anos que vive preso com sua mãe num quarto desde que nasceu. Há sete anos ela fora sequestrada e mantida em cativeiro e Jack é fruto dos abusos que sofreu na mão do velho Nick, o sequestrador.
Para a mãe de Jack, o quarto é uma prisão, porém, devido ao amor incondicional pelo filho, ela usa e abusa da criatividade e da paciência para que a gravidade da situação não transpasse para o garoto. Somando as atitudes da mãe à ingenuidade de Jack, o garoto acredita estar seguro e que o quarto se resume ao que o mundo tem a oferecer. Mas sua mãe sabe que é impossível levar a vida dessa forma e começa a bolar um plano a fim de tentar fugir.

O livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista do próprio Jack, logo ficamos limitados a sua visão e a sua forma de encarar o que lhe é mostrado como sendo um mundo. O "Lá fora" é o que o assusta já que é o desconhecido. Algumas palavras que Jack fala são escritas de forma errada de forma proposital para mostrar que uma criança nessa idade ainda está em fase de aprendizagem. A narrativa é fluída e o teor de inocência do garoto é o que mais se evidencia. A ideia de mãe e filho estarem em cativeiro sofrendo abusos constantes que se disfarçam pelo olhar do garoto causam no leitor momentos de angústia, desespero, agonia e até mesmo claustrofobia devido ao espaço minúsculo em que eles vivem.
A escassez de personagens é um ponto bastante positivo nessa obra visto que o foco está na situação vivida por mãe e filho que vivem enclausurados, mas os poucos que fazem parte da trama são importantes, consistentes e com profundidade e intensidade na medida certa para que se tornem reais.
A trama como um todo é bem desenvolvida e tira o leitor de sua zona de conforto já que é um pouco exaustiva devido a perspectiva ser de uma criança. Os diálogos que ele escuta e transcreve evidenciam a presença de adultos, dando um aspecto mais maduro e que tira o ar totalmente infantil e sem maldade de Jack.
Com o desenrolar da trama e dos acontecimentos, percebemos as mudanças drásticas que ocorrem em suas vidas, seja pela questão da obsessão que Jack tem por sua mãe, afinal, ela era a única que ele tinha contato, quanto pela adaptação que eles precisam sofrer ao encarar uma nova realidade. E a abordagem acerca do comportamento dos personagens com relação a mudanças é bastante crível e verdadeiro.

Quarto é um livro ousado, único e original, que mostra como o amor de uma mãe é incondicional e intenso. A leitura causa incômodo pela forma como mexe com o psicológico, tanto dos personagens quanto dos leitores já que aborda a violência e os abusos que muitas mulheres estão sujeitas, e serve como uma crítica social que faz com que os leitores reflitam acerca desses problemas, porém, com o grande diferencial da autora, que conseguiu inserir leveza, sutileza e muita sensibilidade para abordar essa temática.
Pra quem procura por uma leitura marcante e com uma carga emocional e psicológica intensa, é livro mais do que indicado.


Livro de Marcar Filmes - Increasy Consultoria Literária

19 de abril de 2016

Título: Livro de Marcar Filmes - Meu Diário de Viagens na Telona
Autoras: Increasy Consultoria Literária
Editora: Verus
Gênero: Livro Interativo
Ano: 2016
Páginas: 200
Nota: ★★★☆☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Um lugar para anotar os filmes a que assistiu em diversas categorias, aqueles que conquistaram o seu coração e os que ainda quer ver, enquanto descobre os premiados, que nenhum cinéfilo pode deixar passar.

Resenha: Assim como o antecessor Livro de Marcar Livros que visava registrar nossas leituras e hábitos literários em geral, a proposta do Livro de Marcar Filmes é promover a interação do leitor ao fazer registros de tudo sobre sua experiência com filmes já assistidos ou não.

Apesar de autoexplicativo, o início do livro é cheio de instruções sobre como preenchê-lo e vai um pouco além do que um simples diário.
A ideia principal não se prende somente ao registro de filmes dos quais já assistimos e gostamos, mas também escrever de forma resumida sobre a experiência com o filme em questão, falar dos nossos atores preferidos e seus papéis marcantes, os melhores diretores e até as falas memoráveis que se tornaram clássicas, como "Hasta la vista, baby" ou "Que a força esteja com você". Se você é fã de cinema e não sabe de que filme essas frases saíram, pare.


Algumas listas de filmes já vem prontinhas, desde filmes clássicos aos mais recentes e a forma de organizar e catalogar os filmes é super fácil. Basta marcar nas caixinhas se o determinado filme já foi assistindo ou está na fila.
Começamos preenchendo o nome do primeiro filme que nos lembramos de ter assistido, o primeiro filme comprado, filmes que marcaram a infância, personagens preferidos e etc.
Seguimos pra lista dos ganhadores do Oscar, o Palma de Ouro (do cinema francês), os filmes que ganharam no Festival de Gramado, dentre outros que podemos usar como uma guia ou somente a título de curiosidade, até mesmo o Framboesa de Ouro que visa premiar as piores produções, mas achei que muitos dos filmes de prêmios que a grande maioria desconhece serviram mais para ocupar o espaço do que poderíamos anotar, já que a maioria daqueles filmes, independente de terem ganhado prêmios, muitas pessoas nunca ouviram falar, principalmente filmes argentinos, chilenos e de outras nacionalidades "esquecidas" nesse universo.

Ao separar filmes por categorias (musicais, animações, terror, drama, suspense e afins), há indicações de alguns filmes conhecidos dentro do gênero em questão seguido do espaço para nós mesmos preenchermos, avaliarmos e escrever algum comentário abaixo.


Quem gosta de fazer um registro do que já assisiu vai curtir a ideia do livro. É bem interessante acompanhar a lista de todos os filmes que já ganharam um Oscar de melhor filme desde 1929 até 2015!
Confesso que muitos dos filmes que levaram a estatueta dourada, por serem clássicos e muito antigos, não fazem muito meu estilo, e alguns nunca ouvi falar, mas admito ter tido uma grata surpresa ao reconhecer alguns nomes e relembrar de vários filmes que já assisti em algum momento e adorei, tanto pelo roteiro quanto pela atuação dos atores. A vontade é de fazer uma maratona com um balde de pipoca para rever todos aqueles filmes memoráveis que se tornaram favoritos, como A Lista de Schindler, de 1994; Forrest Gump, de 1995; Coração Valente, de 1996; dentre outros.

Mas, assim como o livro anterior, acredito que o livro tem o ponto fraco de dispôr de muito pouco espaço para fazer anotações de todos os filmes, principalmente pelo fato de que filmes são mais acessíveis e as pessoas costumam assistir muito mais filmes do que ler livros. Quem é um verdadeiro cinéfilo já assistiu milhares de filmes, acompanha o trabalho de centenas de atores e não haveria espaço para todos os registros, logo considerei a proposta do livro algo voltado para a descontração e registro dos filmes que realmente marcaram, ou como lembrete do que queremos assistir futuramente,  não como um catálogo propriamente dito.

Com relação ao projeto gráfico, este segue o mesmo padrão do livro anterior, cheio de detalhes em tons de roxo e lilás. A capa é dura (mas não tanto quanto a do primeiro livro) e com um efeito áspero que lembra uma lixa e as páginas são brancas.


Pra todos aqueles que curtem cinema e querem registrar um pouco desse hábito, o Livro de Marcar Filmes com certeza será de grande ajuda, tanto pela ideia da organização, quanto pela diversão que a interação proporciona.

P.S.: Quero um Livro de Marcar Séries. ♥


Aprendendo a Seduzir - Patricia Cabot

18 de abril de 2016

Título: Aprendendo a Seduzir
Autora: Patricia Cabot
Editora: Essência/Planeta
Gênero: Romance de época
Ano: 2016 (2ª edição)
Páginas: 368
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: O que qualquer mulher faria se flagrasse o noivo aos beijos com outra mulher? Cancelaria o casamento e nunca mais colocaria os olhos no desalmado traidor. Certo? Não lady Caroline Linford.
Apaixonada pelo belo e galante marquês de Winchilsea, ela não se dá por vencida e resolve ir em frente com o casamento. Afinal, lady Linford ama seu prometido.
Com o intuito de se tornar o único objeto do desejo de seu noivo, ela convoca o renomado Braden Granville, mestre na arte da sedução, para, com ele, aprender a ser a melhor amante que Winchilsea pode vir a ter.
Porém, a aluna se torna tão aplicada que arrancará mais que elogios de seu professor...
Resenha: Aprendendo a Seduzir, escrito por Patricia Cabot (pseudônimo utilizado por Meg Cabot para escrever histórias voltadas ao público mais adulto) já havia sido lançado em 2011 pelo selo Essência da Editora Planeta e, agora em 2016, foi relançado sob novo projeto gráfico.

A história se passa no ano de 1870, em Londres, e somos apresentados a Lady Caroline Linford, uma jovem donzela cuja família se tornou respeitável e reconhecida após seu genial pai receber o título de conde por uma invenção totalmente revolucionária: o encanamento com água quente que fora instalado no banheiro do palácio real!
Caroline é recatada, inteligente, dona de um bom dote, e foi prometida ao Lord Hurst Slater, o marquês de Winchilsea, um homem respeitado que "salvou" o irmão dela após ter sido atacado por um malfeitor e largado a míngua. Em dívida com o marquês, o casamento arranjado, comum à época, era a melhor forma de demonstrar a gratidão eterna da família para com o cavalheiro e Caroline estava muito feliz por estar prestes a realizar seu sonho de se casar e viver feliz.
Mas numa festa de gala oferecida por Dame Ashforth, uma das idosas mais endinheiradas de Londres, Caroline se esgueirou pela casa a procura de Hurst e acaba flagrando o noivo no maior agarramento com Lady Jacquelyn Seldon em um dos aposentos da mansão sem que eles percebessem, mas, em vez de fazer um escândalo e cancelar o casamento, ela mantém o que viu em segredo, se culpa pela traição que sofreu por acreditar ser inexperiente e não se dá por vencida. Ao sair as escondidas do aposento, ela se depara com Braden Grandville a procura de sua noiva, a própria Lady Jacquelyn, mas Caroline jamais poderia entregar Hurst se não quisesse se envolver num escândalo.
Braden Grandville é conhecido como Lothario de Londres, em homenagem a um personagem da literatura que ficou famoso por seduzir e enganar mulheres. Branden é um burguês e não é bem visto pelos nobres da sociedade, tanto por ter fama de conquistador, quanto por ter enriquecido as custas do próprio trabalho. Ele não herdou nenhuma fortuna do pai e ser pobre e ter crescido na periferia de Londres não foi algo que o tornou digno...
Branden procurava motivos para cancelar o noivado e se tivesse uma prova de que Jacquelyn o traiu ele poderia fazer isso sem ser processado por ela, e Caroline, após ter presenciado a traição, começa a bolas formas de aprender a ser mais audaciosa. Se ela soubesse o que fazer para seduzir Hurst, ele não ficaria interessado em mais ninguém e teria olhos apenas para ela.
E a partir desses dois propósitos, Caroline decide propor a Branden que ele lhe ensine as artimanhas do sexo já que tem tanto conhecimento sobre o assunto, e, em troca de seus serviços, ela concordaria em depôr a favor dele como testemunha da traição de Jacquelyn para que ele pudesse ficar livre desse casamento.
E a partir desta premissa, Caroline e Braden começam a ter uma relação que, na teoria, deveria ser profissional e o empenho da moça poderá superar as suas expectativas...

A narrativa do livro é feita em terceira pessoa e é bastante dinâmica e cheia de toques de muito bom humor, mas demora um pouco a engrenar já que os acontecimentos se desenrolam de forma bastante lenta. Apesar do erotismo que se faz presente em vários momentos, a forma como as coisas são descritas e encaradas pelos personagens são bastante inocentes e a leitura acaba sendo bastante leve e despretenciosa.
É engraçado acompanhar uma história que se passa em outra época onde as pessoas tinham costumes e valores totalmente diferentes dos quais estamos acostumados.
Algumas atitudes de Caroline podem ser irritantes, como se colocar em posição inferior ao noivo pilantra e até da própria amante dele, se sujeitar as ideias medievais da mãe que acredita que traição faz parte do casamento ao mesmo tempo que tem total repulsa por qualquer tipo de intimidade, e se comportar ou tomar decisões de forma impensada e ingênua na grande maioria das vezes, mas acho que tudo se refere à cultura e de como era o funcionamento da sociedade no século XIX.

Sobre a capa, apesar de bonita e chamativa, tenho minhas ressalvas. Não gosto quando o nome do autor tem mais destaque do que o título. Diferente desta, achei que a capa da primeira edição lembra e tem muito mais a ver com romance histórico sem transparecer o teor sexual da trama. Essa capa nova já mostra uma moça exibindo sensualidade e levando em consideração a história em si, sinceramente, não gostei muito da combinação. Mas fora isso, a diagramação é idêntica à primeira edição.
"Educating Caroline" é o título original da obra, e a tradução pode sugerir que o livro seja voltado ao gênero de autoajuda, mas está longe disso. Temos uma trama que condiz com os acontecimentos da época em que a história se passa, tanto pela descrição do cenário, das características dos personagens, e dos seus costumes, inclusive no que diz respeito aos casamentos arranjados que eram muito comuns, e até o da cultura do "desmaio" que Caroline tanto despreza, onde as donzelas caem desmaiadas a qualquer tipo de emoção mais forte. A forma como a autora descreve esses fatores é muito divertida e engraçada sem perder a seriedade.
Os personagens secundários também são bastante cativantes e importantes para o desenrolar dos fatos, e o destaque maior fica com Tommy, o irmão de Caroline a quem Hurst "salvou", e Emmy, sua melhor amiga que já demonstrava ser feminista de um jeito super divertido mesmo quando o termo sequer existia.

Enquanto Caroline é apresentada como a mocinha ingênua, Jacquelyn com toda aquela pompa e caráter duvidoso é encarada como sua rival, que usa de diversos artifícios, mesmo que sujos, para conseguir o que quer e de quem quer.
Já Braden tem aquela pose de durão galante, mas com o passar do tempo percebemos que ele é doce, gentil e tem um grande coração.
A paixão e o desejo são explorados com muita realidade principalmente porque os protagonistas possuem muita química, o que torna seus momentos juntos super cativantes. Fica claro, desde o início, que os dois estão envolvidos com pessoas interesseiras e nada confiáveis e a todo momento nos pegamos torcendo para que eles fiquem livres e possam encontrar a felicidade um no outro. As aulas que Caroline tem com Braden acabam sendo uma desculpa para que eles possam cair na real sobre a situação em que se encontram e com quem estão metidos.
A história num geral é super bem construída. Enquanto a leitura discorre nos pegamos refletindo acerca das formas de amor que são apresentadas, sobre aquele amor forçado proveniente de um casamento arranjado, daquele que se mistura com a paixão e é passageiro, e daquele que é construído e vai ganhado força e solidez aos poucos se tornando real e verdadeiro.

Pra quem quer ler um romance histórico adorável, envolvendo conspirações, mistérios e uma história de amor super bonita e convincente, é mais do que indicado.


Novidades de Abril - Companhia das Letras

17 de abril de 2016

Foe - J. M. Coetzee
Neste clássico da literatura contemporânea, publicado originalmente em 1986, o prêmio Nobel J.M. Coetzee reinventa a história de Robinson Crusoé.
No início do século XVIII, Susan Barton se vê à deriva após o navio em que viajava ser palco de um motim de marinheiros. Ao desembarcar em uma ilha deserta, encontra abrigo ao lado de seus únicos habitantes: um homem chamado Cruso e seu escravo Sexta-feira. Cruso é um sujeito irascível, preguiçoso e autoritário: perdeu interesse em fugir da ilha ou mesmo em rememorar os eventos que marcaram sua chegada àquele lugar. Sexta-feira, por sua vez, não pode falar: teve a língua cortada, não se sabe se por proprietários de escravos ou pelo próprio Cruso. Depois de um ano, eles são resgatados por um navio que rumava para a Inglaterra, mas apenas Susan e Sexta feira sobrevivem à viagem a Bristol. Determinada a contar sua história, ela busca um famoso escritor de seu tempo, Daniel Foe, na esperança de que ele escreva um livro sobre sua experiência na ilha. Mas com a morte de Cruso e a incapacidade de articulação de Sexta-feira, a tarefa se mostra mais difícil do que pensava. Vaidoso, Foe insiste em adaptar a narrativa a seus caprichos. Susan, por sua vez, tem de convencê-lo de que sua versão é melhor e luta para manter viva a memória de um passado do qual permanece como única testemunha - ou ao menos a única capaz de transformar aquela experiência em linguagem. Traiçoeiro, elegante e inesperadamente lírico, Foe é uma das obras de construção mais complexa na carreira de um mestre absoluto da literatura.

O Livro dos Bichos - A ararinha repatriada, o macaco candidato, o camundongo que foi para o espaço e outras reportagens - Roberto Kaz
Major Tom passou trinta dias no espaço. Orbitou 477 vezes ao redor da Terra e experimentou os rigores da gravidade quando reentrou na atmosfera. O cosmonauta sobreviveu ao pouso e prestou grandes serviços à comunidade científica russa. Major Tom é um camundongo, da raça C57BL/6, a mais usada em experimentos científicos. Sua vida - breve, admite-se - é uma das muitas contadas neste inusitado livro de reportagens animais.
Um dos grandes nomes do novo jornalismo brasileiro, Roberto Kaz chegou a escrever sobre figuras das artes, do futebol e da política, mas especializou-se em textos sobre animais. Cada bicho serve para conduzir o leitor a um universo desconhecido. Assim, quando fala de um touro reprodutor, Kaz revela todo um mundo de negociações milionárias e intrigas políticas. Quando conta sobre a quase extinta ararinha-azul, dá um panorama rico e informado a respeito do protecionismo ambiental. Quando perfila uma celebridade animal, revela uma guerra de patentes nos bastidores da maior emissora do país.
Sempre com empatia, Kaz extrai desses bichos histórias carregadas de tristeza e humor, que revelam tanto sobre o mundo animal quanto sobre nós mesmos.

Missoula - O estupro e o sistema judicial em uma cidade universitária - Jon Krakauer
Missoula, em Montana, é uma típica cidade universitária americana, com uma conceituada faculdade, paisagens bucólicas e vida noturna agitada. Para quem vê de fora, o cenário é algo idílico. No entanto, entre 2008 e 2012, o departamento de justiça americano investigou 350 acusações de agressão sexual na cidade. Poucos desses casos, porém, foram tratados com atenção pelas autoridades locais.
A faculdade, por sua vez, é sede de um importante time de futebol americano do circuito universitário, os Grizzlies, cujos jogadores são idolatrados pela população. Não por acaso, grande parte dos acusados de violência sexual pertencem a esse time. E, não por acaso, os jogadores contam com uma vasta rede de proteção, que vai desde a polícia até os políticos, dos torcedores à imprensa e aos próprios amigos das vítimas, que não raro se voltam contra elas. Ao contrário de crimes como roubo e fraude, em casos de estupro por pessoas de um mesmo círculo social as suspeitas e a culpa costumam recair sobre a vítima, trazendo consequências como isolamento, difamação e ódio. Centenas de denúncias acabam arquivadas, e inúmeras vítimas, caladas.
Neste livro assombroso, Jon Krakauer, autor de No ar rarefeito, rompe o silêncio e traz a público todo o drama que vivem essas mulheres, em dezenas de entrevistas não só com as vítimas, mas também com os acusados, os investigadores e membros do sistema penal. Numa investigação minuciosa, com ares de thriller jurídico, ele revela não apenas essas histórias carregadas de tristeza, como todo o tecido social e político que se coloca em ação para abafar os casos. Num trabalho de coragem, o autor questiona o sistema educacional e os caminhos legais que permitem essa verdadeira epidemia de violência sexual.

Vozes de Tchernóbil - Svetlana Aleksiévitch
Em 26 de abril de 1986, uma explosão seguida de incêndio na usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia - então parte da finada União Soviética -, provocou uma catástrofe sem precedentes em toda a era nuclear: uma quantidade imensa de partículas radioativas foi lançada na atmosfera da URSS e em boa parte da Europa. Em poucos dias, a cidade de Prípiat, fundada em 1970, teve que ser evacuada. Pessoas, animais e plantas, expostos à radiação liberada pelo vazamento da usina, padeceram imediatamente ou nas semanas seguintes.
Tão grave quanto o acontecimento foi a postura dos governantes e gestores soviéticos (que nem desconfiavam estar às vésperas da queda do regime, ocorrida poucos anos depois). Esquivavam-se da verdade e expunham trabalhadores, cientistas e soldados à morte durante os serviços de reparo na usina. Pessoas comuns, que mantinham a fé no grande império comunista, recebiam poucas informações, numa luta inglória, em que pás eram usadas para combater o átomo. A morte chegava em poucos dias. Com sorte, podia-se ser sepultado como um patriota em jazigos lacrados.
É por meio das múltiplas vozes - de viúvas, trabalhadores afetados, cientistas ainda debilitados pela experiência, soldados, gente do povo - que Svetlana Aleksiévitch constrói esse livro arrebatador, a um só tempo, relato e testemunho de uma tragédia quase indizível. Cenas terríveis, acontecimentos dramáticos, episódios patéticos, tudo na história de Tchernóbil aparece com a força das melhores reportagens jornalísticas e a potência dos maiores romances literários. Eis uma obra-prima do nosso tempo.

A Vida Invisível de Euríce Gusmão - Martha Batalha
Rio de Janeiro, anos 1940. Guida Gusmão desaparece da casa dos pais sem deixar notícias, enquanto sua irmã Eurídice se torna uma dona de casa exemplar.
Mas nenhuma das duas parece feliz em suas escolhas.
A trajetória das irmãs Gusmão em muito se assemelha com a de inúmeras mulheres nascidas no Rio de Janeiro no começo do século XX e criadas apenas para serem boas esposas. São as nossas mães, avós e bisavós, invisíveis em maior ou menor grau, que não puderam protagonizar a própria vida, mas que agora são as personagens principais do primeiro romance de Martha Batalha.
Enquanto acompanhamos as desventuras de Guida e Eurídice, somos apresentados a uma gama de figuras fascinantes: Zélia, a vizinha fofoqueira, e seu pai
Álvaro, às voltas com o mau-olhado de um poderoso feiticeiro; Filomena, ex-prostituta que cuida de crianças; Luiz, um dos primeiros milionários da República; e o solteirão Antônio, dono da papelaria da esquina e apaixonado por Eurídice.
Essas múltiplas narrativas envolvem o leitor desde a primeira página, com ritmo e estrutura sólidos. Capaz de falar de temas como violência, marginalização e injustiça com humor, perspicácia e ironia, Marta Batalha é acima de tudo uma excelente contadora de histórias. Uma promessa da nova literatura brasileira que tem como principal compromisso o prazer da leitura.

Cidade em Chamas - Garth Risk Hallberg
Nova York, 1976. O sonho hippie acabou, e dos escombros surge uma nova cultura urbana. Saem as mensagens de paz e amor e as camisetas tingidas, entram as guitarras desafinadas, os acordes raivosos e os coturnos caindo aos pedaços. Por toda a cidade brotam galerias de arte e casas de show esfumaçadas. É nesse cenário que Garth Risk Hallberg situa esta obra colossal, aclamada pela crítica como uma das grandes estreias literárias de nosso tempo.
Regan e William são irmãos e herdeiros de uma grande fortuna. Ela, uma legítima Hamilton-Sweeney e eternamente preocupada com o futuro da família, vê seu casamento desmoronar em meio às infidelidades do marido. Ele, a ovelha negra, fundador de uma mitológica banda punk, artista plástico recluso e figura lendária das artes nova-iorquinas. Ao redor dos dois gira uma constelação de tipos e acasos. A jovem fotógrafa que descobre um influente movimento musical pelas ruas da cidade. O jovem professor negro e gay que chega do interior e se apaixona pelo misterioso artista. O grupo de ativistas que pode ou não estar levando longe demais o sonho de derrubar o establishment. O garoto careta e asmático que se apaixona pela punk indomável. O repórter que sonha ser o novo nome do jornalismo literário americano. E, em meio a tudo isso, um crime que vai cruzar suas vidas de forma imprevisível e irremediável.
Combinando o ritmo de um thriller ao escopo dos grandes épicos da literatura, Garth Risk Hallberg constrói um meticuloso retrato de uma metrópole em transformação. Dos altos salões do poder às ruelas do subúrbio, ele captura a explosão social e artística que definiu uma década e transformou o mundo para sempre. Cidade em chamas é um romance inesquecível sobre amor, traição e perdão, sobre arte e punk rock. Sobre pessoas que precisam umas das outras para sobreviver. E sobre o que faz a vida valer a pena.

Voltar para Casa - Toni Morrison
“Vamos, meu irmão. Vamos voltar para casa.”
Frank Money volta da Guerra da Coreia com mais do que cicatrizes visíveis em seu corpo. Veterano como tantos outros, vive em profundo conflito com seus fantasmas, perturbado pela enorme culpa de ser um sobrevivente e pelas atrocidades que cometeu. Ao se deparar com um país racista e segregado, ele reluta em voltar à sua cidade natal na Geórgia, onde deixou dolorosas memórias de infância e a pessoa que lhe é mais querida, a irmã Ycidra.
Ci sobreviveu como pôde aos anos de ausência do irmão, numa sociedade machista e opressiva em que as mulheres não têm vez, são sistematicamente abandonadas pelos maridos e muitas vezes mutiladas sem piedade. Ainda que não seja um soldado, é com imperativos que a menina foi criada:
“Amarre o sapato, largue essa boneca de trapo e pegue a vassoura descruze as pernas vá tirar as ervas daninhas daquele jardim endireite as costas não me responda”. O ambiente nos Estados Unidos dos anos 1950 é tão hostil - que não se diferencia muito de um campo de batalha -, especialmente para uma mulher.
Nesse mundo desfigurado, ao se reencontrarem no caminho de volta para casa, os irmãos poderão enfim ressignificar seu passado e voltar a ver com esperança o futuro. Afinal, o que é o lar, senão o lugar onde estão os nossos afetos? É no retorno à casa e no amor fraterno que Frank poderá entender sua experiência traumática na guerra e reencontrar uma força que já não acreditava ter.
Uma das mais celebradas romancistas dos Estados Unidos, a Nobel de literatura Toni Morrison expande seu olhar sobre a história norte-americana do século XX com esta narrativa de violência, amor e redenção.

Censores em Ação - Como os Estados influenciaram a literatura - Robert Darnton
Em Censores em ação, Robert Darnton recria três momentos em que a censura restringiu a expressão literária. Na França, no século XVIII, censores, autores e livreiros colaboravam no fazer literário ao navegar na intricada cultura do privilégio em torno da realeza. Em 1857, na Índia, o Rajá britânico empreendeu uma investigação minuciosa dos aspectos da vida no país, transformando julgamentos literários em sentenças de prisão.
Na Alemanha Oriental, a censura era tão onipresente que se instaurou na mente dos escritores como autocensura, com sequelas visíveis para a literatura nacional. Ao enraizar a censura nas particularidades da história, este estudo revelador expõe o impacto da repressão na literatura.

Campos de Sangue - Religião e a história da violência - Karen Armstrong
A ideia de que a fé pode ser fonte de violência e intolerância vem crescendo nas últimas décadas, especialmente após o Onze de Setembro. Mas seria uma visão precisa da realidade? Neste estudo, Karen Armstrong investiga as grandes tradições religiosas em busca de respostas, e nos conduz a uma viagem pela história das maiores religiões do mundo.
O resultado é uma visão despida dos preconceitos que tanto obscurecem o debate, imprescindível num momento em que as tensões geopolíticas parecem prestes a transbordar. Amparado na vasta erudição da autora e no seu compromisso em promover a empatia entre os povos, Campos de sangue mostra que a religião não é a causa de nossos problemas.

Almoço Nu - William S. Burroughs
Lançado em Paris em 1959, Almoço nu logo se tornou um dos romances mais importantes do século XX. Influência determinante na relação entre arte e obscenidade, a obra redefiniu não apenas a literatura, mas a cultura americana como um todo. O protagonista é ojunkie William Lee, que faz uma viagem surreal e orgíaca pela devastada terra das drogas, da depravação, das tramas políticas e dos experimentos sádicos. Construído numa série de vinhetas, que até podem ser lidas fora de ordem, o livro se inspira nas experiências inusitadas do próprio Burroughs em lugares como México, Tânger e Estados Unidos, e no seu vício em heroína, morfina e outras drogas.

Novidade de Abril - Paralela

Todo Seu - Crossfire #5 - Sylvia Day
"Gideon Cross. A coisa mais fácil que já fiz foi me apaixonar por ele. Aconteceu instantaneamente, de forma completa e irrevogável.
Nosso casamento foi um sonho realizado. Mantê-lo é a maior batalha da minha vida. O amor transforma. Para nós, é um refúgio e também a pior tempestade.
Duas almas danificadas que se entrelaçaram. Nossos votos foram apenas o começo. Lutar por esse casamento pode nos libertar… ou nos separar de vez."
Sedutor e comovente, Todo seu é a quinta e última parte da saga Crossfire, uma história de amor que cativou milhões de leitores ao redor do mundo. 

Novidades de Abril - Seguinte

16 de abril de 2016

A Rebelde do Deserto - A Rebelde do Deserto #1 - Alwyn Hamilton
O destino do deserto está nas mãos de Amani Al’Hiza — uma garota feita de fogo e pólvora, com o dedo sempre no gatilho.
O deserto de Miraji é governado por mortais, mas criaturas míticas rondam as áreas mais selvagens e remotas, e há boatos de que, em algum lugar, os djinnis ainda praticam magia. De toda maneira, para os humanos o deserto é um lugar impiedoso, principalmente se você é pobre, órfão ou mulher.
Amani Al’Hiza é as três coisas. Apesar de ser uma atiradora talentosa, dona de uma mira perfeita, ela não consegue escapar da Vila da Poeira, uma cidadezinha isolada que lhe oferece como futuro um casamento forçado e a vida submissa que virá depois dele.
Para Amani, ir embora dali é mais do que um desejo — é uma necessidade. Mas ela nunca imaginou que fugiria galopando num cavalo mágico com o exército do sultão na sua cola, nem que um forasteiro misterioso seria responsável por lhe revelar o deserto que ela achava que conhecia e uma força que ela nem imaginava possuir.

Maré Congelada - Queda dos Reinos #4 - Morgan Rhodes
As disputas pela Tétrade, quatro cristais mágicos capazes de conferir poderes inimagináveis a quem os encontrar, continua. Amara roubou o cristal da água, Jonas conseguiu o da terra, Felix enganou os rebeldes para ficar com o cristal do ar, e Lucia está com o do fogo. Mas nem todos sabem como ativar a magia da Tétrade, e apenas a princesa feiticeira conquistou poder até agora, aliando-se ao deus do fogo que libertou de seu cristal.
Gaius, o Rei Sanguinário, também não desistiu de encontrar os cristais. Ele está mais sedento por poder do que nunca, especialmente agora que não conta mais com a ajuda da imortal Melenia nem com o apoio de Magnus, o herdeiro que o traiu para poupar a vida da princesa Cleo. Para conquistar todo o mundo conhecido, Gaius resolve atravessar o mar gelado até Kraeshia, e tentar um acordo com o imperador perverso de lá. No caminho, o rei vai encontrar muitas dificuldades e inimigos, como Amara, princesa de Kraeshia, que tem seus próprios planos para conquistar o poder.

Na Estrada Jellicoe - Melina Marchetta
Uma história lírica e comovente, com personagens complexos e uma trama em que nada é o que parece.
A pequena cidade de Jellicoe, na Austrália, vive uma guerra territorial travada entre três grupos: os estudantes do internato, os adolescentes da cidade e os alunos de uma escola militar que acampa na região uma vez por ano. Taylor é líder de um dos dormitórios do internato e foi escolhida para representar seus colegas nessa disputa.
Mas a garota não precisa apenas liderar negociações: ela vai ter que enfrentar seu passado misterioso e criar coragem para finalmente tentar compreender por que foi abandonada pela mãe na estrada Jellicoe quando era criança. Hannah, a única adulta em quem Taylor confia e que poderia ajudar, desaparece repentinamente — e a pista sobre seu paradeiro é um manuscrito que narra a história de cinco crianças que viveram em Jellicoe dezoito anos atrás…