Autor: Scott Lynch
Editora: Arqueiro
Gênero: Ficção
Ano: 2014
Páginas: 512
Nota:★★★★★♥
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Após uma batalha brutal no submundo do crime, o golpista Locke Lamora e seu fiel companheiro, Jean Tannen, fogem de sua cidade natal e desembarcam na exótica Tal Verrar para se recuperar das perdas e feridas. Porém, mesmo no extremo ocidental da civilização, não conseguem descansar por muito tempo e logo estão de volta ao que fazem de melhor: roubar dos ricos e embolsar o dinheiro.
Desta vez, eles têm como alvo o maior dos prêmios, a Agulha do Pecado, a mais exclusiva casa de jogos do mundo, onde a regra de ouro é punir com a morte qualquer um que tente trapacear. É o tipo de desafio a que Locke não consegue resistir... só que o crime perfeito terá que esperar.
Antigos rivais dos Nobres Vigaristas revelam o plano a Stragos, o ambicioso líder militar verrari, que resolve manipulá-los em favor de seus próprios interesses. Em pouco tempo, a dupla se vê envolvida com o mundo da pirataria, um trabalho inusitado para ladrões que mal sabem diferenciar a proa da popa de um navio.
Em Mares de sangue, Locke e Jean terão que se mostrar malabaristas de mentiras, enganando todos ao seu redor sem a mínima falha, para que consigam sair vivos. Mas até mesmo isso pode não ser o bastante...
Resenha: Marés de Sangue é o segundo volume da série Nobres Vigaristas escrita pelo americano Scott Lynch e publicada pela Editora Arqueiro aqui no Brasil.
Ao final de As Mentiras de Locke Lamora os Nobres Vigaristas são postos em uma situação sofrível, mas Locke e seu melhor amigo, Jean Tannen, conseguem fugir de Camorr em busca de vida nova e recomeço, e partem rumo a exótica Tal Verrar, uma cidade portuária aparentemente tranquila em que poderiam ter várias oportunidades para continuarem praticando crimes e trapaças para se darem bem. Ao se depararem com a mais exclusiva casa de jogos da cidade, a Agulha do Pecado, frequentada somente pelos mais endinheirados e poderosos, Lamora não consegue resistir e, usando sua mente brilhante, já começa a bolar um plano mirabolante para botar as mãos em toda aquela fortuna, mesmo sabendo que a punição pra quem trapacear é a morte.
Locke e Jean, disfarçados, tentam passar despercebidos, mas não demoram a chamar a atenção de Stragos, o Arconte de Tal Verrar que descobre sobre o passado dos Nobres Vigaristas e quer usar isso de alguma forma. Stragos é esperto e impiedoso e faz com que a dupla de amigos trapaceiros se encontrem numa intriga política onde, além de serem ameaçados de morte, são obrigados a partir num navio para uma viagem em alto-mar se envolvendo com piratas salafrários e saindo totalmente da zona de conforto da qual estavam acostumados. Tal Verrar acaba se revelando um local cheio de segredos, armadilhas e perigos, e a dupla descobre isso da pior maneira possível... Duas facçoes rivais estão numa guerra silenciosa pelo comando da cidade e seus comandantes não se importam com os meios utilizados para chegarem ao fim...
A narrativa, assim como no primeiro livro, é feita em terceira pessoa e a divisão dos capítulos também foi feita da mesma forma. A escrita do autor continua bastante envolvente, com toques de requinte e ainda assim muito fluída. O bom humor e o sarcasmo nas situações e nos diálogos inteligentes continuam presentes no enredo, equilibrando os momentos de ação e tensão da trama.
Mesmo que Locke Lamora e companhia tenham sido muito bem apresentados no volume anterior, neste o autor se aprofunda ainda mais nesse mundo de trapaças além de trabalhar de forma muito rica os detalhes de uma cidade nova cuja cultura é diferente daquela apresentada anteriormente e com suas próprias particularidades.
Neste volume, acompanhamos Locke e Jean seguindo em frente depois do ocorrido, aprendendo a lidar com o que aconteceu, com o que perderam e que precisaram deixar pra trás, e o período de dois anos que se passaram desde que deixaram Camorr acaba tornando tudo ainda mais realista já que se acostumarem com uma vida nova e diferente não é feito da noite pro dia.
Apesar de ter adorado acompanhar Locke Lamora e Jean Tannen em uma aventura improvável e recheada de elementos novos, minha única ressalva é que em alguns momentos eu senti que o autor quis inserir um espírito de Robin Hood no protagonista como forma de justificar alguns de seus atos para que ele pudesse ser interpretado como alguém com alguma moral, como se isso fizesse dele um ladrão melhor ou superior do que os outros canalhas da cidade. Mesmo sendo um criminoso eu já tinha uma grande simpatia por Locke justamente por ele ser um protagonista que foge de estereotipos. Um criminoso é um vilão, mas nem por isso deve ser obrigatoriamente odiado, e o autor já tinha conseguido atingir esse objetivo nos presenteando com Locke. Não havia necessidade de tentar mudar nada ao meu ver... Não desgostei mais ou menos do livro por esse motivo, só não entendi onde o autor quis chegar mudando esse ponto.
Algumas cenas também não parecem muito originais e lembram filmes como Piratas do Caribe e Onze Homens e um Segredo, mas da forma como foram descritas acabaram tendo o toque especial do autor e combinaram com a trama de forma geral.
Embora Mares de Sangue tenha mais de 500 páginas, a leitura pode ser feita de forma bastante rápida pois além de ter uma escrita ágil, as descrições feitas parecem estar mais enxutas para que o foco fique sobre a trama em si e não sobre detalhes que acabam não sendo tão relevantes para a cena em questão.
Um ponto positivo é que o prólogo já deixa o leitor surpreso e morto de curiosidade pois envolve uma situação inesperada que praticamente o obriga a se agarrar nas páginas seguintes para ter maiores explicações sobre o ocorrido, e posso dizer que foi um artifício utilizado pelo autor que funcionou muito bem, mesmo que soe meio falso... Mas o que esperar de personagens trapaceiros e mentirosos? A sensação é de que o leitor é enganado, mas de uma maneira boa.
Enfim, com mais personagens para movimentar o enredo, a história se desenrola abordando pontos distintos e intrigantes. A amizade sincera e fraternal entre Locke e Jean é posta a prova em várias situações, mas é perceptível o quanto é uma parceria sólida, que faz com que eles se tornem brilhantes quando estão juntos, mas vulneráveis quando se separam. A ideia de que suas habilidades funcionam em conjunto, onde um depende do outro para que o plano possa ser bem sucedido, é algo bastante satisfatório de se acompanhar e, pra mim, são esses elementos os maiores responsáveis pelo sucesso da história, pois cativam o leitor que só tende a torcer pelos personagens. A amizade deles é épica, memorável e perfeita, por mais que tenha todos os defeitos possíveis e eles vivam querendo se matar.
A história é cheia de reviravoltas das mais loucas possíveis que com certeza vão abalar estruturas, e tais acontecimentos não são exclusivos dos personagens principais, mas também dos demais que movimentam a trama como poucos fazem. Destaque para a capitã do navio, Zamira Drakasha, e sua tenente, Ezri Dalmastro. Elas são inteligentes e sagazes e mostram que num universo predominado por homens, na maioria das vezes machistas e grosseirões, as mulheres também podem roubar a cena quando são capazes de fazer o que eles fazem, e até de forma melhor, sem deixar nada a desejar!
Enfim, Mares de Sangue traz um arco próprio no que diz respeito a aventura da vez, mas As Mentiras de Locke Lamora não deve ser dispensado devido a introdução de mundo, apresentação de personagens e outros detalhes que são importantes para a compreensão de algumas cenas deste volume (e do próximo também).
Pra quem não recusa uma aventura frenética com personagens cativantes e engraçados, que enfrentam situações cheias de ação e perigos, e ainda se metem nas piores enrascadas que alguém já viu, com certeza vai curtir a leitura da série Nobres Vigaristas.