Temporada: 1 | Episódios: 7
Distribuidora: HBO
Elenco: Reese Whiterspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Laura Dern, Zoë Kravitz, Alexander Skarsgård, Adam Scott
Gênero: Drama/Suspense
Ano: 2017
Duração: 52min
Classificação: +16
Nota: ★★★★★♥
Sinopse: Na cidade litorânea de Monterey, estado da Califórnia, nada é o que parece. Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman) e Jane (Shailene Woodley) são três mulheres, com vidas aparentemente perfeitas, que se unem depois que seus filhos passam a estudar juntos no jardim de infância. Mas alguns acontecimentos as envolvem numa trama de assassinato.
Em 2015, o terceiro livro escolhido para o finado Clube do Livro da Liga foi o Pequenas Grandes Mentiras, da autora Liane Moriarty, e lembro de ter sido uma das melhores e mais empolgantes leituras que fiz naquele ano. Pouco tempo depois, a HBO anunciou que havia adquirido os direitos para produzir uma minissérie baseada na obra, ficamos todos na expectativa, e em 2017 ela foi ao ar. Eu cheguei a esboçar uma postagem para fazer a crítica, mas o tempo foi passando, eu fui adiando e, no final das contas, já não lembrava dos detalhes com tanta clareza para falar sobre a série com a devida propriedade, e acabei desistindo da crítica. Agora, com o recente lançamento da segunda temporada (que na época não havia sido mencionada e eu nem imaginava que iriam produzir), eu aproveitei o gancho para rever e relembrar do que havia esquecido, assim, eu poderia acompanhar os episódios da temporada nova estando por dentro do assunto.
Resumindo, a história se passa na cidade litorânea - e maravilhosa - de Monterey, norte da Califórnia. Inicialmente sabemos que houve um assassinato, o que nos leva a uma narrativa que se alterna entre presente e passado, com os potenciais suspeitos sendo interrogados e dando seus depoimentos sobre o incidente para os investigadores. O espectador não sabe quem matou, quem morreu, e o quê, de fato, aconteceu. Assim, em paralelo a esses relatos, acompanhamos os momentos que antecedem a dita morte naquela comunidade onde tudo parece tão perfeito, principalmente através da vida de três mulheres, Madeline, Celeste e Jane, nos levando à uma jornada de completa desconstrução de conceitos. Há também a questão das crianças e da confusão que um enorme mal entendido causa no relacionamento entre essas mulheres, como mães, e o que ele desencadeia em toda a comunidade. As camadas das personagens são relevadas gradualmente nos menores detalhes, e são responsáveis por nos mostrar que nem sempre as coisas são o que aparentam ser. Os traumas causados pela violência vem em diferentes nuances, pois cada uma lida com os problemas à própria maneira, assim como o impacto que isso tem em suas vidas. Cada uma é afetada de forma diferente e requer um tipo de atenção diferente.
Por se tratar de uma adaptação, algumas diferenças entre série e livro são notáveis, mas nada que prejudique o enredo ou fuja do tema. O início é um pouco lento e o suspense, mesmo que desperte muito nossa curiosidade, é construído devagar. Alguns personagens inclusive ganham destaque e profundidade a mais ao terem os próprios arcos desenvolvidos e explorados. É o caso de Renata (Laura Dern), por exemplo, que acaba representando o papel da mulher competitiva que batalhou duro para ser bem sucedida na vida, ao mesmo tempo que é mãe e super protetora.
Obviamente a realidade dessas mulheres na questão social é bem diferente da maioria das pessoas comuns, de gente como a gente. O estilo de vida que levam, as mansões que moram e afins estão longe da realidade da maioria, principalmente aqui no Brasil, mas a questão que envolve o emocional e a moral é o que ganha o maior destaque, e é o que realmente importa. A questão do mistério acerca do assassinato acaba sendo mero pano de fundo para destacar uma temática profunda e relevante sobre traumas, abusos, sororidade, relacionamentos, maternidade e superação, e também para deixar evidente que sustentar pequenas mentiras pode resultar em algo não só indesejado, mas que pode vir a se tornar grande o bastante para sair do controle.
Madeline (Reese Whiterspoon) é teimosa, controladora, invasiva e curiosa sobre tudo o que se passa com a vida alheia a ponto de ser inconveniente. Mesmo no segundo casamento, ela não lida bem com o entrosamento da filha mais velha com o ex-marido e sua atual esposa, Bonnie (Zoë Kravitz). Muito da sua personalidade e escolhas acaba interferindo no seu atual o casamento. Celeste (Nicole Kidman) abriu mão de tudo para se dedicar aos filhos e ao marido, mas por trás da vida perfeita e do casamento feliz, ela esconde segredos terríveis sobre o que vive dentro de casa. Jane (Shailenne Woodley) é a mãe solteira recém chegada à cidade. Ela já carrega um trauma do passado que ainda não conseguiu superar, e em Monterey ainda precisa lidar com julgamentos alheios por não se encaixar totalmente ao "padrão perfeito" dos moradores dalí. Jane constantemente se sente deslocada, mas em busca de um novo começo e uma vida melhor para seu filho, ela está decidida a enfrentar o que vier pela frente.
Os personagens masculinos, que geralmente representam papéis dos maridos ou alguma figura masculina familiar, mesmo que tenham certa importância para o desenrolar da história, ainda são coadjuvantes perto das mulheres. Elas são complexas, trazem um pouco de representatividade com seus defeitos e virtudes, e são elas quem movimentam a trama em meio aos temas delicados e polêmicos que se conectam com todo tipo de público.
A primeira temporada acaba tendo o mesmo desfecho do livro e o final é bem fechado, mas não deixa de atiçar nossa curiosidade acerca do que o futuro reservaria para essas mulheres peculiares e únicas. Talvez por isso, e pelo enorme sucesso que a série fez, tenham decidido fazer a segunda temporada trazendo as respostas para as perguntas que ficaram sobre o que viria depois.
No mais, com uma boa dose de drama, suspense e toques de bom humor, Big Little Lies é uma excelente pedida pra quem quer acompanhar uma história relevante sobre mulheres que, aos poucos, vão aprendendo que ser feliz e dar valor as pequenas coisas é mais importante do que viver de aparências.