Título: Sessão da Meia-Noite com Rayne e Delilah
Autor: Jeff Zentner
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto
Ano: 2019
Páginas: 408
Nota:
★★★★☆
Sinopse: Toda sexta-feira, as melhores amigas Josie e Delia se transformam em Rayne Ravenscroft e Delilah Darkwood, apresentadoras de um programa de terror exibido em um canal da TV local. Com o final do ensino médio se aproximando, Josie precisa decidir se vai mudar de cidade para estudar em uma universidade grande e ir atrás de seu sonho de seguir carreira na televisão – mas isso significaria ficar longe de sua melhor amiga... Enquanto isso, Delia sonha que seu pai, um fã de filmes de terror que abandonou a família anos atrás, assista ao programa delas na TV e retome o contato.
Em um fim de semana, as duas resolvem fazer uma viagem para a Flórida, onde vai acontecer a ShiverCon, a maior convenção do universo do terror e o lugar perfeito para conseguir um contrato com uma grande emissora. Mas pode ser que um jovem lutador de MMA, um produtor de televisão excêntrico e um basset hound idoso acabem transformando a vida dessas melhores amigas de uma maneira inesperada.
Resenha: Josie e Delia são melhores amigas, do tipo inseparáveis. Toda noite de sexta-feira, as duas se tornam Rayne Ravenscroft e Delilah Darkwood, apresentadoras de um programa de terror amador exibido em um canal na TV local chamado Sessão da Meia-Noite. O programa é filmado em Jackson, no Tennessee, mas tem um alcance considerável a ponto de ter alguma audiência. Os filmes são ruins e nem sempre elas conseguem manter o "profissionalismo" diante de algumas barbaridades e se encangalham de rir durante as filmagens. Os telespectadores lhes escrevam comentando os episódios, apontando erros, dando sugestões, fazendo críticas e fazendo comentários desnecessários sobre as meninas. Ainda assim elas continuam tentando dar o seu melhor para terem algo de que possam sentir orgulho.
Mas, diferente de Josie, que pensa em televisão 24hrs por dia, Delia se dedica a isso porque seu pai era um grande fã de filmes de terror. O problema é que ele abandonou a família há anos, e a ideia que Delia teve para tentar reencontrá-lo é produzindo algo que possa vir a chamar a atenção dele de alguma forma, como se isso fosse fazer com que ele retomasse o contato com a filha.
Agora, com o ensino médio chegando ao fim, as meninas começam a fazer planos sobre a faculdade, mas sem abrir mão das filmagens do programa. Assim, num final de semana, as duas partem para a Flórida, onde aconteceria uma grande convenção de terror, a ShiverCon. Seria uma ótima oportunidade se elas conseguissem um contrato com uma grande emissora e tudo dependeria de uma reunião que Delia organizou com um produtor, que não tem nada de convencional.
Narrado em primeira pessoa, com capítulos que se alternam entre os pontos de vista das duas protagonistas, o livro traz uma história sobre amizade doida e verdadeira, e a vontade de lutar pelos sonhos. Ao comparar este com os dois livros anteriores do autor, percebi que essa história é mais positiva, mais leve e divertida, enquanto os outros seguem pelo lado mais sério do emocional. Embora seja uma história sobre adolescentes e para adolescentes, o tom desta destoa um pouco e isso me causou um leve estranhamento no começo, porque eu acho que esperava mais sentimento e menos humor. E o humor nesse livro foi um problema pra mim, pois as piadinhas e o sarcasmo das meninas não me fizeram rir nem um pouco. Desde as primeiras páginas achei esse humor forçado demais, deixando a história com um tom abestalhado, e foram poucos os trechos que conseguiram arrancar um sorriso no cantinho da minha boca. Outro problema pra mim foi que só conseguia distinguir as vozes das personagens e saber qual era o ponto de vista da vez porque o nome delas vem no topo da página do capítulo, caso contrário seria impossível pra mim. Não vi diferença nenhuma que mostrasse quem era quem só pela narrativa. Além disso, não consegui identificar nenhum momento grandioso ou significativo o bastante para uma ligação emocional que deveria ser tão forte como o autor quis mostrar para torná-las melhores amigas, e se houve algo do tipo, me perdi totalmente.
Fora isso, não nego que o autor tem uma habilidade única quando o assunto é falar sobre sentimentos, angústias e receios sobre essa fase da vida, e suas personagens acabam sendo muito genuínas, como se fossem um retrato da vida como ela é. De um lado temos Josie, que tem a vida um tanto fácil e confortável por vir de uma família rica e, talvez por isso, é bastante antipática. Todas as facilidades que ela poderia ter pra se dar bem na vida estão em suas mãos, e ela não parece entender muito bem quando alguém não tem o que ela tem, mas, a medida que as coisas vão acontecendo envolvendo alguns grupos sociais, ela acaba tentando mudar de atitude pois passa a enxergar que o mundo não é tão cor-de-rosa assim.
De outro lado temos Delia, que é totalmente o oposto de Josie. Ela sente falta do pai e tem que lidar não só com as consequências desse abandono e dessa rejeição, como também com a mãe instável e depressiva, que vive a base de remédios numa tentativa de manter a própria sanidade. A vontade de reencontrar o pai é tanta que ela deposita todas as suas forças e esperanças nesse projeto, esperando que ele retorne. Ela se sente prejudicada, se sente triste e as vezes despeja suas frustrações em quem não tem nada a ver, mas ela tem capacidade pra reconhecer seus erros e está disposta a melhorar.
Dessa forma, por mais que eu concorde ou discorde de alguma atitude, ou não tenha sentido tanta simpatia assim (principalmente por Josie), eu ainda torcia por elas (mesmo que eu quisesse meter a mão em Josie as vezes) e acho que uma história pra ser boa, deve mexer com a gente desse jeito.
No mais,
Sessão da Meia-Noite com Rayne e Delilah traz uma mensagem muito válida e bonita, e mostra que seguir nossos sonhos é uma tarefa difícil, às vezes parece impossível, e muitas vezes requer sacrifícios que nem sempre estamos dispostos ou prontos pra fazer. O mais importante dessa vida é dar valor a quem está perto da gente e tem algo a acrescentar, e não correr atrás de quem partiu e deixou apenas um vazio.