Trocas Macabras - Stephen King

19 de janeiro de 2021

Título:
 Trocas Macabras
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Fantasia
Ano: 2020
Páginas: 656
Nota:★★★★☆
Sinopse: Castle Rock, na Nova Inglaterra, é um lugar tranquilo para se viver. Mas a chegada de Leland Gaunt desestabiliza a cidade através do preconceito, ódio, fraqueza e cobiça, provocando mortes e sofrimentos. Gaunt consegue isto através de uma loja de utilidades, que sempre tem algo especial para cada morador, que para conseguirem o que desejam pagam um preço simbólico para Leland, além de conceder a ele um simples “favor”.

Resenha: Castle Rock, que serve como pano de fundo de várias outras histórias horripilantes de Stephen King, é uma cidadezinha pacata, com moradores ilustres e suas questões banais, onde tudo - de pavoroso - pode acontecer. Desta vez, a chegada do misterioso Leland Gaunt e a inauguração da "Artigos Indispensáveis", uma loja que vende de tudo que se possa imaginar, vai despertar o interesse dos moradores e, consequentemente, desencadear situações e acontecimentos tão inevitáveis quanto terríveis.

Basicamente, quem entra na loja sempre vai encontrar aquilo que mais deseja, e mesmo que o preço seja inacreditavelmente simbólico, vai variar pra cada cliente, incluindo o fato de que para levar o item, também é preciso fazer alguns favores ao Sr. Gaunt, os quais definem bem o título da obra. E embora pareçam favores bobos e inofensivos, alguns inclusive que não passam de travessuras infantis, aos poucos, desestabilizam a cidade e vão se tornando cada vez mais sombrios, causando dor, sofrimento e mortes, e virando uma gigantesca bola de neve, afinal, todo desejo tem seu preço, e cabe a pessoa ser capaz de enxergar se é um preço que realmente vale a pena pagar, ou se vai haver tempo pra se arrepender...

Em meio a toda essa "diversão", Gaunt sabe que o xerife da cidade, Alan Pangborn, é o único entre os moradores que pode estragar seus planos, sendo assim, ele vive criando situações "urgentes" pra desviar a atenção de Alan a fim de impedir que ele entre na Artigos Indispensáveis e essa apresentação seja formalizada.

Sendo assim, com o desenrolar dos fatos e várias tragédias acontecendo, o xerife consegue pistas que apontam pro dono da loja e o mistério começa. A curiosidade do leitor em saber quais as consequências de um favor e quem vai ser a vítima da vez, e quando, enfim, Gaunt será confrontado e desmascarado, é inevitável.

Gaunt é uma figura demoníaca, manipuladora e extremamente cruel, que traz à tona o que há de pior nas pessoas, e assim como todos os livros de King, este também tem personagens bem construídos, consistentes e cheio de camadas, que mostram o quanto o passado de cada um deles foi marcado por alguma tragédia que deixou cicatrizes que eles carregam até hoje. E, claro, Gaunt conhece as feridas mais profundas que eles possuem e, astutamente e da forma mais manipuladora possível, vai usar isso a seu favor.

O ritmo da leitura é lento e um tanto arrastado, pois uma das características na escrita do autor é dar todos os mínimos detalhes possíveis, seja de cenários, personagens, o que estão fazendo, o que estão sentindo e o que estão pensando, fazendo uma construção completa de cada um e mostrando quem é e o que fez para o conhecermos melhor. Ao saber do passado e do presente desses personagens, vemos que sua existência não serve apenas pra preencher as páginas, mas que se estão alí não é por acaso, é por algum propósito maior e que mais cedo ou mais tarde o futuro deles virá a tona após percebermos que todos têm alguma ligação entre si, formando um grande arco de desastres.
Um ponto bem interessante e curioso é que o leitor vai encontrar referências e alguns spoilers de outras obras do autor, mostrando o que aconteceu com alguns dos personagens, como é o caso de A Metade Sombria, Zona Morta e Cujo, que também se passa em Castle Rock. Pra quem não leu esses livros, não vai fazer muita diferença, e pra quem leu, tenho certeza que vai curtir bastante a ideia de saber um pouco mais desses personagens.

No mais, é leitura obrigatória para os fãs de Stephen King, que traz todos os elementos que mexem com nossas emoções: causam medo, apreensão e ansiedade, independente do quão absurdos e exagerados possam ser, e Trocas Macabras se destaca por mostrar explicitamente que o valor do que se quer é definido pela necessidade que se tem.

1984 (HQ) - George Orwell e Fido Nesti

14 de janeiro de 2021

Título:
 1984 - Edição em Quadrinhos
Autor: George Orwell
Ilustrador: Fido Nesti
Editora: Quadrinhos na Cia
Gênero: Distopia/HQ
Ano: 2020
Páginas: 224
Nota:★★★★★
Sinopse: No traço magistral do artista paulistano Fido Nesti, a obra mais poderosa de George Orwell ganha sua primeira adaptação para os quadrinhos. 1984 conta a história do angustiado Winston Smith, refém de um mundo feito de opressão absoluta. Em Oceânia, ter uma mente livre é considerado crime gravíssimo. Numa sociedade em que a mentira foi institucionalizada, Winston se rebela e, em seu anseio por verdade e liberdade, arrisca a vida ao se apaixonar por uma colega, a bela Julia, e se voltar contra o poder vigente. Publicada originalmente em 1949, a profecia de Orwell encontra seu rosto neste romance gráfico extraordinário.

Resenha: Depois das resenhas que publiquei de duas edições da obra clássica de George Orwell, venho com mais esta versão em HQ, que é de um dos últimos lançamentos do selo Quadrinhos na Cia, da Companhia das Letras. Esta resenha é um resumo da resenha anterior juntamente com uma análise das ilustrações, considerando o que essa edição adicionou a experiência tão fantástica quanto perturbadora que é ler 1984.


Assim como no original, acompanhamos o mundo opressor onde o livre arbítrio é considerado crime. Qualquer coisa que vá contra os ideias do Partido, o governo totalitário instaurado em Oceânia, é severamente punido, e todos devem seguir suas regras, se privando de liberdade e até de pensamentos, afinal, tudo é controlado, todos estão sendo observados, e nada escapa dos olhos do Grande Irmão, o ditador "invisível", reverenciado e amado pelo povo.


E nesse contexto, Winston Smith, mais um refém desse poder, ansiando por liberdade, não só arrisca sua vida quando se apaixona por Julia, como se volta contra esse sistema.


Os traços do ilustrador e a diagramação em si atribuem uma característica ainda mais sombria à história, e várias páginas podem ser resumidas em uma única imagem. A HQ é super fiel ao livro, as ilustrações são coloridas mas sempre destacando os tons cinza e vermelho pra dar um ar tristeza, morbidez e confinamento.


A edição é deslumbrante, e só veio pra acrescentar ainda mais. Pra quem gosta de quadrinhos e procura por uma leitura direta da história, é super recomendado, e pra quem já é um grande admirador, é aquela edição que vale a pena se ter na estante.



O Filho Rebelde (Wayward Son) - Rainbow Rowell

11 de janeiro de 2021

Título:
 O Filho Rebelde (Wayward Son) - Simon Snow #2
Autora: Rainbow Rowell
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Romance
Ano: 2020
Páginas: 344
Nota:★★★★☆
Sinopse: Simon Snow venceu. Ele pôs fim às forças do mal que ameaçavam destruir o Mundo dos Magos. Tudo deu certo. Ou quase. Porque, agora, Simon perdeu toda a sua magia. Ele não passa de um normal... Bom, tirando o fato de ter asas e um rabo de dragão. Vendo o melhor amigo mergulhar em um desânimo cada vez maior, Penelope decide levar Simon e Baz em uma viagem de carro para visitarem Agatha, que agora mora na Califórnia. O que era para ser um passeio divertido se mostra muito mais desafiador do que imaginavam. Afinal, os Estados Unidos abrigam todo tipo de criatura mágica mal-intencionada e disposta a causar problemas. Em meio a uma confusão enorme com uma legião de vampiros e outros seres malignos, talvez Simon finalmente seja capaz de reunir a força necessária para seguir em frente -- e deixar algumas pessoas para trás.

Resenha: Segundo volume da trilogia Simon Snow, O Filho Rebelde vem trazendo a continuidade dos acontecimentos trágicos do livro anterior. Por se tratar da continuação, essa resenha tem alguns spoilers!
Como era esperado, Simon não pôde escapar da batalha final. Embora tenha conseguido derrotar as forças malignas, o preço que pagou por esse feito foi bem alto: Além de ter perdido sua magia, ele ainda adquiriu asas e um rabo de dragão, e, por isso, nem se passar por um reles humano comum ele pode. Simon está desanimado, e a única coisa que faz da vida agora é monopolizar o sofá enquanto enche o bucho de pizza o dia inteirinho. Ele não quer ir pra faculdade, não se adaptou com a ideia de não ter mais o dom da magia, e ainda tem que aprender a controlar as novas partes peculiares do seu corpo.

Como também era mais do que esperado, Simon e Baz acabaram se entendendo depois dos trancos e barrancos, e viram que o sentimento que possuíam ia muito além de ódio ou amizade: se tornaram namorados super fofos. Mas nem esse amor lindo e maravilhoso que surgiu era suficiente pra motivar o garoto, não importava o que Baz fizesse pra tentar. Sendo assim, preocupada com o amigo e em busca de um recomeço, Penny propõe uma viagem à Califórnia para tirar Simon desse estado deplorável, encontrar com seu namorado e ainda ver Agatha que foi embora da Inglaterra a fim de abandonar tudo relacionado a magia. Chegando lá, eles acabam sendo perseguidos por vampiros, que são bem diferentes daqueles encontrados na Inglaterra e que querem dominar o mundo, e com a ajuda de Shepard, um humano que quer saber tudo sobre o universo da magia, eles vão lutar por suas vidas numa aventura mirabolante.

Seguindo o padrão de narrativa do livro anterior, porém com um ritmo mais lento, agora temos uma mudança no modo de ser e de agir de Simon que acaba sendo um problema pro desenvolvimento da trama. Ele não se sente mais o mesmo, acredita que o amor com Baz está acabando, e acha que não existe mais futuro em seu relacionamento, coisa que não faz o menor sentido e parece estar ali só pelo drama desnecessário. Esse comportamento dá uma preguiça danada, porque ele se passa como um idiota mimado que precisa de atenção o tempo inteiro, e até que as coisas ganhem um ritmo mais acelerado, abrindo novos caminhos a serem explorados, a história se arrasta bastante focando na viagem e no comportamento adolescente de Simon, e olha que ele já não tem mais idade pra se comportar feito criança. Haja paciência. Ainda bem que novos personagens apareceram pra dar um gás e movimentar as coisas.
Sendo assim, o relacionamento em si não é lá muito abordado já que Simon está afastando Baz sem medir as consequências, por pura ignorância, e o que ganha destaque são as confusões que acontecem do começo ao fim no melhor estilo das "férias frustradas de verão".

Se a ideia era trabalhar a depressão através do comportamento de Simon, acho que não funcionou muito bem, pois além de não ter havido aprofundamento algum, a chance que ele tinha de aprender alguma coisa com os acontecimentos e com a própria forma de agir escorreu pelo ralo e foi embora. Mesmo que a aproximação tenha ocorrido de forma beeeem gradual, a sensação foid e que não serviu pra nada porque Simon continuou perdido. Como assim o infeliz não aprendeu nada depois de tudo o que aconteceu?
Ainda que seja bem humorado, bastante divertido, e mais direto do que o primeiro, a autora segue com a aventura sem divagar, visto que as informações principais já foram dadas no livro anterior. Claro que há alguns acréscimos interessantes, mas são descritos de uma forma mais enxuta, talvez para focar nos personagens e na situação em que eles se encontram. Mesmo que os perigos e os problemas que surgiram no meio do caminho tenham vindo pra mostrar que a vida não é apenas viver de amores

Enfim, O Filho Rebelde parece ter caído naquela "maldição do segundo volume", pois funciona mesmo como um tipo de ponte pra levar um ponto até outro, sem que nenhuma questão levantada antes tenha sido esclarecida.
Resta aguardar o lançamento do desfecho da trilogia, Any Way the Wind Blows, e torcer pra autora dar um jeitinho nos pontos negativos e fechar com excelência, dando um final digno para os nossos protagonistas que merecem a felicidade e uns abraços quentinhos.


Sempre em Frente (Carry On) - Rainbow Rowell

7 de janeiro de 2021

Título:
 Sempre em Frente (Carry On) - Simon Snow #1
Autora: Rainbow Rowell
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Romance
Ano: 2020
Páginas: 504
Nota:★★★★☆
Sinopse: Simon Snow é o Escolhido. Segundo as lendas, ele é o feiticeiro que garantirá a paz no Mundo dos Magos. Isso seria extraordinário se Simon não fosse desastrado, esquecido e um feiticeiro pouco habilidoso, incapaz de controlar seus poderes. Ele está no penúltimo ano da Escola de Magia de Watford, e, ao lado de sua melhor amiga Penelope e sua namorada Agatha, já se meteu nas mais variadas aventuras e confusões - algumas causadas por Baz, seu arqui-inimigo e colega de quarto, outras pelo Oco, um ser maligno que há tempos tenta acabar com Simon. Quando chega o novo ano letivo e Baz não aparece na escola, Simon suspeita que o garoto esteja tramando alguma coisa contra ele. As coisas começam a tomar um rumo ainda mais estranho quando o espírito da mãe de Baz, antiga diretora de Watford, aparece para Simon afirmando que quem a matou continua à solta. Quando Baz finalmente chega a Watford sob circunstâncias misteriosas, Simon não vê alternativa a não ser ajudá-lo a vingar a morte da mãe -- o que pode ser o primeiro passo para que verdades avassaladoras sobre o Mundo dos Magos sejam reveladas. E para que tudo mude entre os dois garotos.

Resenha: Depois de ter sido publicada pela Novo Século em 2016, a Seguinte adquiriu os direitos e agora republicou a obra com título traduzido e novo projeto gráfico pra capa. Pra quem leu o livro Fangirl, da mesma autora, teve um gostinho do universo mágico da saga Simon Snow, que seria o equivalente ao fenômeno Harry Potter para os leitores da vida real, através da fanfic de Cath.
Sendo assim, não se trata da fic escrita por Cath (que nem existe nessa história), nem a "obra original" que a inspirou, mas sim de como seria a história de Simon e Baz, os protagonistas da série Simon Snow, se Rainbow Rowell a tivesse escrito. Uma outra fic secundária, talvez? Confuso isso aqui... De qualquer forma, Sempre em Frente é o primeiro volume da trilogia Simon Snow.

Enfim, quando tinha onze anos, Simon Snow descobriu que não era apenas um simples órfão. Era o mais poderoso feiticeiro que já existiu. Segundo as lendas, Simon seria aquele que garantiria a paz no Mundo dos Magos, ele é o próprio Escolhido que iria derrotar Oco, o grande vilão que estava ficando cada vez mais poderoso. Sendo assim, ele ingressa na Escola de Magia de Watford, um lugar mágico onde ele iria aprender a ser o maior feiticeiro (e que se torna seu lugar preferido em todo mundo onde ele realmente se sente em casa), com direito a delícias de comer, uma melhor amiga chamada Penélope, uma namorada perfeita, Agatha... e Basilton Pitch, mais conhecido como Baz, um arqui-inimigo "vampiro" insuportável, que só existe pra infernizar sua vida (mesmo que ninguém acredite), sugar toda a alegria das situações, e com quem Simon era obrigado a dividir o quarto.

Diferente dos típicos protagonistas que embarcam na grande jornada do herói, Simon é irresponsável, super desastrado e suas habilidades com a magia são um total fracasso. Ele mal consegue controlar os próprios poderes e já se meteu em altas aventuras e enrascadas, muitas delas causadas por Baz. A história já começa no último ano de Simon em Waltford, as coisas estão mais capengas do que nunca, seu namoro com Agatha está uma bela porcaria, todo mundo acha que ele vai salvar o Mundo dos Magos quando ele se sente incapaz de tamanha responsabilidade, e quando ele suspeita que Baz está tramando alguma coisa cabeluda contra ele por ter sumido da escola, ele decide procurar saber o que diabos está acontecendo. Então, Simon é surpreendido pelo fantasma da antiga diretora de Watford, que também é a mãe de Baz, com a informação de que o responsável por sua morte continua a solta por aí. 

Sob circunstâncias mui misteriosas, Baz finalmente chega na bendita escola e Simon decide ajudá-lo a vingar a morte da mãe, e essa união não vai somente revelar as maiores verdades escondidas sobre o Mundo dos Magos, como também mudar tudo entre os dois garotos.

Com capítulos que se intercalam entre Simon, Baz, Penny e Agatha, sendo possível ter o ponto de vista de cada um deles sobre as situações que se encontram, a trama segue nesse premissa com toques hilários de bom humor, e os personagens não poderiam ser mais cativantes.
Embora a história tenha elementos já conhecidos e seja super similar a Harry Potter, ela tem seu próprio estilo e seguem por caminhos bem diferentes.

Simon e Baz tem personalidades super diferentes e conflitantes. Enquanto Simon é meio idiota, meigo e gentil, Baz faz aquele tipo que esmurra a cara de alguém com uma mão enquanto segura um bolinho intacto com a outra. Eles não tem nada a ver um com o outro, e a única coisa que tem em comum é o ódio recíproco... ou será que não?
Penny, a melhor amiga de Simon é uma daquelas personagens totalmente amassáveis, de tão fofa. Sua good vibe dá aquele quentinho no coração, e a amizade que ela tem com Simon é leve, boa e dá vontade de guardar num potinho.
Agatha é a namorada "perfeita", mas que está ali meio que servindo de enfeite, porque sua principal função é ter os requisitos mínimos pra ser estudante e saber o básico pra viver. Não fede nem cheira, e parece só existir pra despistar os leitores sobre a real essência de Simon, e dar aquela reviravolta que não tem nada de reviravolta, porque todo mundo sabe o que vai acontecer.

Talvez a única coisa que tenha me deixado meio cabisbaixa foi o fato de que alguns trechos, aparentemente importantes, são cortados, ficamos curiosos e naquela expectativa do que vem a seguir, mas o retorno sobre aquilo nunca vem.

No mais, a história emociona com seus personagens e com suas mensagens simples mas profundas, abordando o autoconhecimento e a descoberta da sexualidade de uma forma divertida, sutil, super envolvente e encantadora.

Fangirl - Rainbow Rowell

5 de janeiro de 2021

Título:
 Fangirl
Autora: Rainbow Rowell
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Romance
Ano: 2020
Páginas: 464
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: Cath é fã de Simon Snow, uma série de livros que faz sucesso no mundo todo sobre um garoto feiticeiro. Mergulhar nessas histórias foi a única maneira que ela encontrou de lidar, junto com sua irmã gêmea, Wren, com a partida da mãe quando eram crianças. Desde então, a vida da garota se resume a ler, participar de fóruns sobre Simon Snow na internet, escrever fanfics, fazer cosplay dos personagens... Sempre ao lado da irmã. Mas agora Wren parece pronta para se distanciar do fandom de Simon Snow - e da própria Cath. Afinal, ela deixou bem claro que é hora de cada uma trilhar seu próprio caminho quando avisou que não queria dividir o mesmo quarto na faculdade. Pela primeira vez, Cath se vê sozinha -- e totalmente fora de sua zona de conforto --, e com uma colega de quarto mal-humorada que tem um namorado (bem fofo) que não sai do dormitório das duas. Para completar, ela também precisa se preocupar com o pai solitário e com sua professora de escrita literária, que abomina fanfics. Será que ela vai conseguir sobreviver a tantas mudanças e começar a viver a própria vida? E será que seguir em frente significa deixar Simon Snow para trás?

Resenha: Escrito por Rainbow Rowell e republicado pela Editora Seguinte (depois de ter saído pela Novo Século em 2014), Fangirl vai contar a história de Cath, que vai começar seu primeiro ano na faculdade junto com Wren, sua irmã gêmea. Para ela, desde que a mãe foi embora, Wren sempre foi seu porto seguro, mas na faculdade as coisas ficaram diferentes, e já começou quando Wren não quis dividir o quarto com Cath, justamente pra cortar isso e cada uma poder trilhar seu próprio caminho. Enquanto Cath é insegura, antisocial, quer focar nos estudos e continuar escrevendo sua fanfic baseada na série de fantasia que ela adora e acompanha tudo sobre, "Simon Snow" (um tipo de Harry Potter), que inclusive ajudou ela e a irmã a passarem pelo abandono da mãe, Wren quer aproveitar cada segundo dessa fase como se não houvesse amanhã, e isso não agrada Cath, que sente que está "perdendo" a irmã. Enquanto ela fica estudando e não tem vida amorosa, Wren frequenta altas festas e conhece um monte de gente interessante. As duas são totais opostos, até mesmo com o caso do pai, que precisa de cuidados médicos devido a sua instabilidade emocional, e enquanto Cath acha que deve cuidar do pai, Wren já acha que os profissionais que entendem do assunto é que devem ter essa responsabilidade.

Cath se vê sozinha, com uma colega de quarto sem um pingo de bom humor, e ainda tendo que lidar com uma professora que abomina fanfics, coisa que ela ama escrever. E agora? Como Cath vai lidar com a ideia de estar totalmente fora da sua zona de conforto?

O título do livro foi mantido no original, e só tenho que agradecer por isso, porque fico imaginando que se fosse traduzido seria algo como "Fanfiqueira" ou coisa do tipo. Não ia prestar, não... Narrado em terceira pessoa, a escrita é bem fluida, espirituosa e envolvente. Os capítulos se intercalam com trechos da fanfic de Cath, o que é uma forma do leitor conhecer mais sobre o que ela escreve, porém é possível ler o livro pulando todas as partes da fanfic sem que interfira na história, pois não há ligação nenhuma com a trama. Inclusive eu esperei que em algum momento as histórias se cruzassem de alguma forma para ter algum sentido ou mensagem, já que esses trechos estavam alí fazendo parte do livro, mas não. Achei que esse recurso cortou a narrativa sem que houvesse um propósito maior, e deixou a história mais arrastada do que devia.

Cath não é uma personagem que conquista o leitor logo de cara. Ela é bem chata com seus dilemas, não consegue expor o que a incomoda, a fixação com a irmã e a negação em aceitar que cada uma tem que ter a própria vida é esquisita, e ela ainda faz parecer que a timidez é a pior coisa que existe na face da Terra. Como a protagonista é Cath, Wren acaba não tendo tanto espaço assim, mas na grande maioria das vezes que aparece, é pra irritar com seu total egoísmo. Assim como as irmãs, os demais personagens da história possuem camadas e características bem construídas, e são capazes de conquistar o leitor, cada um a própria maneira.

Mesmo que Cath tenha seus defeitos e, por várias vezes, a vontade é de sacudi-la sem parar seja incontrolável, não nego que seu comportamento e personalidade são justificáveis dentro do contexto. Ela está num conflito interno consigo mesma acerca do novo. Estar em meio a tantas pessoas é estranho, a ideia de gostar de um garoto é assustadora, e pensar que está "perdendo" a irmã - e o pai - a deixa desolada. E pela idade da menina, é compreensível que seus sentimentos estejam a flor da pele e ela esteja confusa com tudo que anda acontecendo.

Sendo assim, Fangirl não é só uma história engraçadinha sobre uma garota que escreve fanfics da sua série preferida, mas sim uma história sobre insegurança e medo do que ela vai encontrar nessa nova fase de sua vida. É bem possível que várias pessoas se enxerguem em Cath, que acaba usando a escrita como válvula de escape para se esconder/se livrar de problemas que ela não sabe ou não quer enfrentar, como se aquilo fosse um tipo de "terapia" para lidar com a gravidade das coisas. E embora a história seja divertida, há a parte triste, que é tratada com bastante sutileza, sobre as rasteiras que todos estão suscetíveis a levar da vida, principalmente com a dificuldade em se lidar com sentimentos de não ser bom o bastante para qualquer coisa ou alguém.

No mais, mesmo que o desfecho não tenha sido inovador trazendo mudanças drásticas pra Cath, é um livro criativo sobre amadurecimento e aprendizado. Pra quem procura um livro bacana pra sair de uma ressaca literária ou só pra passar o tempo, recomendo.


Resumo do mês - Dezembro, tchau 2020!

1 de janeiro de 2021


Dezembro deve ter passado rápido pra poder pôr fim logo nesse 2020 infernal. O ano foi uma loucura, testou os limites de muita gente, e agora é esperar e torcer pra que em 2021 as coisas comecem a melhorar depois desse caos que ninguém nunca imaginou passar na vida.
Não dei conta de manter uma frequência de postagens como eu gostaria e nem de dar continuidade em várias coisas que comecei aqui no blog, o Desafio Literário foi um deles, mas não vou nem me condenar por isso, afinal, a cabeça tava em outro lugar e aposto que muita gente também ficou meio desesperado com tanta imprevisibilidade. O jeito é fazer as coisas adaptando tudo à essa realidade, e o que tiver que ser vai ser. Só quero ficar zen e manter a paz e espero que tudo dê certo. Já deu certo.

No mais, quero desejar um ano novo feliz e que, diferente do anterior, este seja repleto de esperanças, paz, saúde, tranquilidade, melhorias e conquistas.